Neste dia, 25.12, dia de Natal, no ano 800, Carlos Magno, ou, no bom Latim, Carolus Magnus, conhecido, na Alemanha, como Karl der Große, ou, na França e nos Estados Unidos, como Charlemagne, foi coroado, pelo Papa Leão III, como primeiro Imperador do Sacro Império Romano do Ocidente, criado ali, naquele ato, para que Karl der Große pudesse se tornar Imperador Romano (Sacro e no Ocidente). Esse império durou mil e seis anos, até que, em 1806, Napoleão Bonaporte depôs, sem maior cerimônia, e sem necessidade de recorrer a ação militar, o imperador germânico do Império, que, na época, era Franz (Francis, Francisco) II, que assim foi o último Imperador do Sacro Império Romano do Ocidente. Mil anos de história, de Karl der Große a Franz II.
Em um acordo entre amigos, quem havia sido Franz II ficou como Imperador do Império Austro-Húngaro (também criado a propósito), com o título de Franz I, império esse que existiu até o final da Primeira Guerra Mundial. Em troca de ter recebido permissão de ser Imperador do Império Austro-Húngaro, Franz I deu sua filha mais velha, Maria Alice, como segunda mulher de Napoleão (que foi casado antes com Josefina).
[Um parêntese… Como, exceto no início, os imperadores do Sacro Império Romano do Ocidente foram quase todos de ascendência germânica, pelo menos a partir de 962, com Otto I, pertencendo à Casa de Habsburg, os 1006 anos do Sacro Império foram considerados por Hitler como sendo o Primeiro Reich Germânico da História Mundial — Reich que durou mais de mil anos. Na visão de Hitler, o Segundo Reich, bem mais curto, foi o que durou da unificação da Alemanha, em 1871, até o fim da Primeira Guerra, em 1918, que é chamado, normal e simplesmente, de Império Alemão. Foi nesse Reich que pontificaram o Chanceler Bismarck e o Kaiser Wilhelm II, casado com Augusta Victoria, a filha mais velha da velha Rainha Victoria, da Inglaterra. Hitler esperava criar, com o Nazismo, um Terceiro Reich, de amplitude espacial e duração temporal maiores ainda do que foram as do Primeiro Reich… Deu no que deu. Fim do parêntese. Voltemos a Franz I.]
Franz I, do Império Austro-Húngaro, da dinastia dos Habsburg-Lorraine, também era pai da nossa Imperatriz (Maria) Leopoldina, que se casou em Viena, em 1817, por procuração, com o então Príncipe Herdeiro Pedro, de Portugal, filho de Dom João VI, então Imperador do Reino Unido do Brasil, Portugal e Algarve. O Príncipe Pedro, como é sabido, se tornou, com a Independência do Brasil, em 1822, o Imperador Dom Pedro I do Brasil.
Dom Pedro I e Dona Leopoldina foram pais de Dom Pedro, o único filho homem sobrevivente, que se tornou, no devido tempo, o nosso Imperador Dom Pedro II. Sua irmã, a filha mais velha de Dom Pedro I e de Dona Leopoldina, Dona Maria, tornou-se a Rainha Dona Maria II de Portugal, quando seu pai, que já houvera assumido o trono português como Dom Pedro IV, renunciou.
Dona Leopoldina, que morreu cedo, em 1826, com menos de 30 anos, além de filha do último imperador do Sacro Império Romano do Ocidente e do primeiro imperador do Império Austro-Húngaro, era cunhada de Napoleão Bonaparte, e, como se isso não fosse bastante, foi mãe de uma rainha de Portugal (Dona Maria II) e de um Imperador do Brasil: o de (quase) todos querido e admirado, Dom Pedro II.
Sobra assunto para um PS interessante:
Franz I, Imperador do Império Austro-Húngaro, teve vários filhos, além de Maria Luíza, a que se casou com Napoleão Bonaparte, e Maria Leopoldina, a que se casou com Dom Pedro I.
Um desses filhos, o terceiro e o mais novo dentre os homens, foi o Arquiduque Franz Karl, da Áustria, que se casou com a Princesa Sophia, da Bavaria.
Quando Franz I morreu, seu filho mais velho Ferdinand, assumiu o trono do Império Austro-Húngaro, como Imperador Ferdinand I. Mas o Imperador era portador de uma deficiência mental incurável. Por isso, foi criado um Conselho de Regentes para governar, que incluía seus dois irmãos (os Arquiduques Joseph Franz e seu irmão mais novo Franz Karl), que teoricamente respondiam pela Coroa, embora todo mundo soubesse que quem governava mesmo era o Primeiro Ministro e Chanceler Conde von Metternich.
Quando o Imperador Ferdinand I finalmente morreu, no tumultuado ano de 1848 (tenho um livro cujo título é apenas 1848), em vez de um de seus irmãos regentes assumir o trono, houve-se por bem decidir que quem assumiria o trono (e assim foi feito) era Franz Joseph, filho de Franz Karl e Sophia, que foi chamado de Imperador Franz Joseph I (embora nunca tenha havido um Imperador Franz Joseph II — quando Franz Joseph I morreu, em 1916, quem assumiu o trono foi Karl, com o nome de Imperador Karl I — também não houve um Imperador Karl II). Franz Joseph I governou o Império Austro-Húngaro durante nada menos do que 68 anos, de 1848 até 1916, quando morreu, durante a Primeira Guerra Mundial. Karl I apenas arrematou os negócios, porque dois anos depois o Império acabou. Franz Joseph I, assim, era neto de Franz I do Império Austro-Húngaro, e do mesmo anterior, só que agora como Franz II, último Imperador do Sacro Império Romano, e, assim sendo, era sobrinho da Imperatriz Leopoldina do Brasil. Deve ter sido uma glória para ele ter uma tia “brasileira”, não é verdade?
Franz Joseph I veio a se casar com a linda e incontrolável Princesa Elizabeth da Bavária, conhecida como Sissi (Sisi, em Alemão), famosa mundialmente pelos três filmes feitos sobre ela (em que foi interpretada por Romy Schneider). Logo, a nossa Imperatriz Leopoldina teria sido (pelo casamento de seu sobrinho e se tivesse vivido mais) tia da famosa Sissi.
Mais um detalhe… Quando o Príncipe Rudolf, o único filho homem de Franz Joseph I e Sissi, morreu, prematuramente, em um acidente, o Arquiduque Franz Ferdinand, sobrinho de Franz Joseph I (filho de seu irmão, Arquiduque Karl Ludwig), se tornou o herdeiro presumido do Império Austro-Húngaro na sequência de Franz Joseph I. Mas, como é sabido e notório, ele foi assassinado em 1914, durante uma viagem em Sarajevo, fato que acabou por provocar a Primeira Guerra Mundial que pôs fim ao Império Austro-Húngaro, ao Império Alemão, ao Império Turco, etc.
Sissi, como todos os seus fãs sabem, teve uma vida trágica. Foi assassinada em Genebra, of all places, por um anarquista italiano, em 1898. Seu filho, Rudolf, morreu em 1889, suicidando-se, com sua amante, num pacto suicida. Maximillian I, Imperador do Império Mexicano, seu cunhado (irmão de Franz Joseph I), foi executado — na verdade, assassinado. Tudo isso enquanto ela estava viva. Depois de estar ela morta, seu sobrinho, o Arquiduque Franz Ferdinand, foi assassinado em Sarajevo, em 1914. Arre, não?
É só. Por enquanto. Isso, que era um post no Facebook, vai virar um artigo no meu blog…
[Texto de Eduardo Chaves, um grande admirador da Imperatriz Dona Leopoldina, uma mulher culta e sábia que, por causa de conchavos políticos, veio terminar sua curta vida na pocilga que era o Rio de Janeiro da década de 1820. Comportou-se como a verdadeira realeza que era diante das inúmeras traições do seu debochado marido e recebeu crédito por várias ações políticas que anteriormente haviam sido atribuídas e creditadas ao seu marido, como o Dia do Fico (9.1.1822) e a própria Independência do Brasil (7.9.1822). A cidade de São Leopoldo, RS, criada por imigrantes alemães, e onde eu estudei (no Spiegelberg) durante uma pequena parte da minha vida, tem esse nome em homenagem a ela. Felizmente, para a sorte do Brasil, Dom Pedro II puxou à mãe, e não ao pai. Sou grande admirador da Sissi, também, já tendo visitado a maioria dos locais em que ela viveu na Bavária e na Áustria.]
Em Salto, Dia de Natal, 25 de Dezembro de 2020
Categories: Liberalism
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