[NOTA: No final de 1998, início de 1999, eu iniciei alguns projetos de consultoria. Os dois principais foram: primeiro, comecei um consultoria junto à Microsoft Informática (subsidiária brasileira da Microsoft Corporation), em Outubro de 1998; segundo, essa consultoria me levou a uma outra consultoria, esta junto ao Instituto Ayrton Senna, a partir de meados (Junho) de 1999.
A partir de 2003, houve desenvolvimentos: primeiro, a primeira consultoria do parágrafo anterior se estendeu para uma Consultoria junto à Microsoft Corporation, nos Estados Unidos; segundo, segunda consultoria do parágrafo anterior me levou à proposta de criação da Cátedra UNESCO em Educação em Desenvolvimento Humano, junto ao Instituto Ayrton Senna, devidamente aprovada pelo Escritório da UNESCO em Brasília e pela Direção Geral da UNESCO em PARIS, em 2003, levando à minha nomeação como Coordenador da dita Cátedra em 2003.
O trabalho de consultoria junto à Microsoft Informática se estendeu por 15 anos, até 2013, a consultoria junto à Microsoft Corporation se estendeu por 10 anos, também até 2013, e o trabalho de consultoria junto ao Instituto Ayrton Senna se estendeu por 14 anos também, encerrando-se, igualmente, em 2013.
Todos esses projetos tinham que ver com o potencial do uso de Tecnologia na Educação, no Treinamento, nos Processos Formativos em Geral.
Um outro projeto, paralelo aos relatados no parágrafo anterior, foi na área de Lógica, Retórica e Comunicação, e resultou de interação com Escritórios de Advocacia, em Campinas, com os quais eu tinha bom relacionamento (foi cliente de todos eles): o escritório de Emerenciano, Baggio e Associados, o de Marco Antonio da Rocha Calábria e Associados, o de Clodoaldo R. Machado, e o de Francisco Odair Neves (os dois últimos, sem associados). Essa associação resultou em um projeto de curso na área, que foi apresentado no início de 1999, mas que acabou não tendo prosseguimento porque o meu trabalho com a Microsoft e com o Instituto Ayrton Senna esgotou todo o tempo que podia dedicar a consultorias e outras atividades extra-universitárias (a universidade, no caso, sendo a UNICAMP, da qual só vim a me aposentar no início de 2007). Mas vale a pena reviver o projeto de Lógica, Retórica e Comunicação que reencontrei nos meus arquivos quando os arrumava no segundo semestre do ano passado (2021). Transcrevo-o, portanto, a seguir. Enfatizo que o texto é de 1998.]
o O o
Estudam-se as formas de comunicação linguística (em outras palavras, as várias manifestações e os vários usos da linguagem), não por pedantismo, mas porque a linguagem é veículo através do qual o pensamento se expressa (e até mesmo se formula) e, assim, o nosso principal meio de comunicação.
É verdade que a correção da expressão linguística não garante, por si só, que o pensamento nela veiculado seja de boa qualidade. Isso significa que é possível ter conteúdo de má qualidade em forma correta. Contudo, no caso de pensamento e linguagem, dificilmente ocorre o oposto: conteúdo de boa qualidade em forma inadequada. A relação existente entre pensamento e linguagem é tão íntima que uma linguagem inadequada dificilmente permite que se expresse um pensamento distinto, claro e preciso. Na realidade, a inadequação linguística geralmente é sintomática de pensamento difuso, obscuro e impreciso, de confusão nos conceitos, proposições e argumentos (entidades lógicas) que subjazem aos termos ou palavras, às orações ou frases, e aos períodos ou parágrafos (entidades linguísticas).
Temos, como seres humanos, necessidade de comunicação constante com nossos semelhantes. No caso do advogado, essa necessidade se torna um imperativo de sucesso profissional (ou, hoje em dia, no contexto altamente competitivo em que vivemos, até mesmo de sobrevivência profissional).
Essa necessidade nos coloca diante de um imperativo, ou aprendemos a pensar com foco, clareza e precisão e a comunicar o nosso pensamento em forma correta, ou seremos deixados ou passados para trás por aqueles que sabem fazer isso. Embora, possivelmente, sempre vá haver semianalfabetos, ou mesmo analfabetos, que alcançam uma certa medida de sucesso, o número destes tende a reduzir-se, no tipo de sociedade em que vivemos, ao nível do estatisticamente desprezível.
Por isso, o estudo da linguagem e das formas de comunicação linguística é, geralmente, um importante primeiro passo para quem deseja ser bem sucedido, pessoal e profissionalmente.
Mas não se trata apenas de aprender a redigir. O segundo passo é estudar a estrutura lógica do discurso, isto é, os conceitos, as proposições, e os argumentos que subjazem aos usos que fazemos da linguagem.
Usamos a linguagem para conversar, para descrever a realidade, para expressar pensamentos e sentimentos, para fazer pedidos e dar ordens, mas em determinados contextos, para argumentar, isto é, propor, defender ou criticar ideias (pontos de vista, hipóteses, teses, teorias). Frequentemente nos vimos obrigados a tentar convencer nossos interlocutores da verdade de alguma ideia ou tese em que acreditamos ou que, por alguma razão, queremos ou precisamos defender. Parte desse processo geralmente inclui a crítica de ideias ou teses alheias. Nenhuma área profissional usa tanto esse função argumentativa da linguagem como a advocacia. Ou o advogado argumenta bem, ou ele está na profissão errada.
O terceiro passo é estudar as técnicas de persuasão – aquilo que antigamente se chamava de retórica (e que agora, surpreendentemente, volta a ser chamado pelo antigo nome). Sempre causou espécie aos lógicos o fato de que um argumento válido, com premissas verdadeiras, e, por conseguinte, com conclusão verdadeira, pode não ser persuasivo, e que um argumento inválido (uma falácia), ou mesmo um argumento válido mas com premissas falsas, pode ser extremamente persuasivo. Os lógicos têm dificuldade em entender isso porque procuram ser absolutamente racionais. A maior parte das pessoas, entretanto, se deixa levar pela emoção – e é aqui que a retórica viceja, como bem sabem os profissionais de marketing, publicidade e propaganda, e os advogados criminalistas que alcançam sucesso profissional persuadindo o júri, mesmo que seja através de argumentos falaciosos ou com premissas questionáveis.
Ilustrando com as dificuldades enfrentadas por uma outra área, o Ministério da Saúde usa a lógica pra convencer a população de que o cigarro faz mal à saúde. Mas os fabricantes de cigarros usam a retórica para persuadir as pessoas a fumar, ou, no caso dos que já fumam, para persuadi-los a não largar e, quem sabe, adotar a marca que patrocina a propaganda. Eles convidam os telespectadores a visitar o aparentemente fascinante “Marlboro Country”. A lógica, sozinha, quase nunca persuade; a retórica, em geral, persuade muita gente, especialmente quando vem sozinha, sem que a lógica lhe faça companhia.
O advogado, especialmente (mas não exclusivamente) em suas arguições orais, precisa estar familiarizado com a retórica, especialmente quando se apresenta diante de um júri. Se sua ética o impede de usar argumentos falaciosos e premissas inverazes, ele precisa estar alerta para desmascarar advogados ou promotores que não se deixam limitar por princípios morais.
Apenas como curiosidade, o estudo da linguagem (gramática), da lógica (argumentação) e da retórica (persuasão) constituíam a base da educação fundamental na Idade Média. Esses três domínios do conhecimento eram chamados de TRIVIUM, ao qual se acrescentava o Quadrivium, que correspondia, mais ou menos, à nossa educação de nível médio, e que se constituía no estudo da aritmética, da geometria (ambas constituindo as matemáticas), da astronomia (representando as ciências) e música (representando as artes).
É isso. Tenho dito.
Em Salto, 4 de Fevereiro de 2022
Categories: Comunicação, Lógica, Liberalism, Linguagem, Retórica
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