“A Bíblia não É um Livro Didático de História: É Propaganda”

Nunca vi um texto tão claro e elucidativo sobre como eu entendo a natureza da Bíblia como este. Surpreendentemente, foi escrito por um jornali sta, Andrew Springer, não por um teólogo.

O que Singer chama de “propaganda” os historiadores e estudiosos modernos chamam de “objetivo ético, religioso, teológico”. A Bíblia não é um livro texto de história escrito para descrever aquilo que verdadeiramente aconteceu em um determinado tempo e espaço. A Bíblia é um texto persuasório, cujo objetivo é nos convencer a fazer alguma coisa na esfera moral, religiosa ou teológica: mudar de religião ou de conduta, acreditar nisto e não naquilo, aderir a um grupo não a outro, mas, sobretudo, escolher um projeto de vida em lugar de outro, e lutar para transformar esse projeto de vida em realidade… O objetivo da Bíblia não é despejar em cima de nós uma série de verdades inerrantes e infalíveis, mas nos convencer a viver e agir de uma certa maneira, a nos relacionar uns com os outros de um certo modo, a fazer deste mundo em que habitamos um lugar diferente, melhor, algo parecido com um Céu, cujo lugar natural é aqui na Terra, não “lá em cima”, e cujo tempo natural é agora, não depois da nossa morte…

Um Céu, Hic et Nunc.

Recomendo a leitura, embora muitos vão detestar o que o autor diz.

O texto foi retirado do link a seguir e foi traduzido pelo Google, com revisão minha. Ele é transcrito aqui com a autorização expressa do autor, fornecido por email, na data de hoje, 4.Fev.2025. (Eduardo Chaves).

https://andrewspringer.medium.com/the-bible-is-not-a-history-textbook-its-propaganda-2475b77291cd

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A BÍBLIA NÃO É UM LIVRO DIDÁTICO DE HISTÓRIA: É PROPAGANDA

Andrew Springer

MEDIUM.COM

https://andrewspringer.medium.com/the-bible-is-not-a…

12 de janeiro de 2025

Vamos deixar algo claro: a Bíblia não é um livro didático de história. Isso não significa que ela não contenha nenhuma verdade histórica — ela contém, com certeza.

Mas os escritos reunidos no que chamamos de “A Bíblia” não foram escritos para fornecer um registro histórico objetivo, pelo menos no sentido moderno (1). Eles foram escritos para mudar mentes, mudar ações e, às vezes, transformar vidas.

Em outras palavras, a Bíblia é propaganda. Agora, antes de ficar chateado, lembre-se de que propaganda não é inerentemente boa ou ruim — significa simplesmente comunicação destinada a influenciar as atitudes e/ou comportamentos das pessoas.

E os escritos da Bíblia foram certamente elaborados para fazer exatamente isso:

  • encorajar as pessoas a seguir certas práticas religiosas;
  • aceitar afirmações teológicas específicas;
  • incutir uma história comum;
  • levar as pessoas a se unir a líderes específicos.

Às vezes, ela faz todas essas quatro coisas.

Isso significa que cabe a nós classificar os tipos de propaganda e ler a Bíblia como adultos, não como crianças, para encontrar na Bíblia a verdade que ela nos revela sobre Jesus, Deus e nós mesmos.

História antiga vs. história moderna

Parte da dificuldade para a maioria dos leitores não educados da Bíblia é distinguir entre como a “história” era contada no mundo antigo versus como contamos a história hoje.

A ideia moderna de história — como uma análise cuidadosa de eventos verificáveis ​​usando fontes primárias e evidências materiais [manuscritos, artefatos arqueológicos, etc.] — não surgiu até o Iluminismo europeu nos séculos XVII e XVIII. Antes disso, a escrita histórica servia a propósitos muito diferentes.

Os gregos antigos, que nos deram a palavra “história”, a usavam para significar “inquérito” ou “investigação” em vez de um relato cronológico factual e objetivo. Os escritores antigos não estavam preocupados principalmente em documentar linhas do tempo precisas ou verificar suas fontes. Em vez disso, eles se concentravam em preservar feitos memoráveis, ensinar lições morais por meio de suas histórias e unir culturas por trás de uma história comum (folclórica) do passado.

As pessoas que escreveram os textos bíblicos não teriam nenhum conceito de história como pensamos hoje. Seu objetivo não era fornecer relatos historicamente precisos que resistissem ao escrutínio acadêmico moderno.

Em vez disso, eles estavam elaborando narrativas para mudar mentes e ações, enquanto moldavam a identidade de suas comunidades ou cultura. Entender essa diferença é crucial para ler a Bíblia com atenção hoje.

Isso é verdade tanto para a Bíblia Hebraica [que os cristãos chamam de Velho Testamento] quanto para o Novo Testamento [a Bíblia especificamente cristã]. Meu professor de Bíblia Hebraica em Yale, Jale Baden, um dos principais estudiosos do Pentateuco (os cinco primeiros livros da Bíblia) do mundo, acredita que o primeiro personagem real encontrado na Bíblia é Davi (2).

O resto — de Adão e Eva a Noé e os Patriarcas — são histórias de folclore, desenvolvidas e repetidas para dar aos antigos israelitas um senso de propósito, cultura e responsabilidade (3). Eles certamente não são relatos históricos que devemos ler como um livro didático sobre a Terra ou os antigos israelitas. Lê-los dessa forma mostra uma falta de maturidade intelectual.

Era o que fazíamos quando éramos crianças. Quantos de nós, quando crianças, lemos a história de George Washington e a cerejeira? Disseram-nos que nosso primeiro presidente “não conseguia mentir” (exatamente o oposto do nosso presidente eleito).

Esta história sobre Washington não é verdadeira no sentido histórico, mas Washington era uma pessoa real, e a história transmite uma verdade sobre sua integridade, que está bem documentada em outras fontes.

Esse mesmo tipo de lógica deve e pode ser usado em escritos bíblicos. Eles foram criados para contar uma história e transmitir uma verdade, mas é nosso trabalho não lê-los como crianças, aceitando-os como fatos absolutos. Em vez disso, precisamos ler a propaganda como adultos, isto é, sabendo que é propaganda.

Lendo a Bíblia como um adulto

Para aqueles de nós que tentam seguir o Jesus real e histórico em vez do Jesus do cristianismo institucional e conservador, isso significa que precisamos abordar a Bíblia com métodos históricos cuidadosos.

Precisamos ler as histórias de Jesus na Bíblia não como crianças que acreditam em qualquer coisa, mas como adultos que usam o pensamento crítico para descobrir a verdade da mensagem real de Jesus.

Para fazer isso, precisamos perguntar:

  • Quem escreveu este texto? (Muitas vezes, não sabemos realmente)
  • Quando foi escrito? (Normalmente muito mais tarde do que a tradição afirma)
  • Quem era o público-alvo?
  • O que o autor estava tentando realizar [provar, alcançar, conseguir]?
  • Que contexto histórico e cultural moldou esta escrita?
  • Que fontes o autor usou?
  • Como este texto se relaciona com outros escritos do mesmo período?

Em muitos aspectos, a maneira como devemos ler a Bíblia é semelhante à maneira como devemos ler as notícias de jornal. Sou jornalista de profissão, e a alfabetização jornalística é uma habilidade vital para se ter no século XXI. Talvez para os cristãos e seguidores de Jesus, a alfabetização bíblica seja tão importante quanto (4).

Quando fazemos essas perguntas, insights fascinantes surgem. Começamos a ver como as primeiras comunidades cristãs lutaram para entender a mensagem de Jesus e aplicá-la em suas vidas. Percebemos como suas interpretações evoluíram ao longo do tempo.

Reconhecemos que o Jesus da história — um pobre camponês judeu vivendo sob ocupação romana — foi gradualmente transformado no exato oposto — um Cristo divino usado pelas elites para aplacar as massas que viviam vidas miseráveis.

Usar a abordagem histórica não diminui o valor espiritual da Bíblia. Na verdade, ela o aprimora, ao nos ajudar a entender melhor os seres humanos reais que escreveram esses textos e as comunidades reais que os preservaram. Isso nos lembra que a fé sempre foi uma coisa dinâmica e evolutiva — não um conjunto estático de verdades a serem aceitas cegamente, sem questionamento.

Isso é mais desafiador do que simplesmente tratar a Bíblia como um registro histórico infalível? Evidentemente que é. Mas também é mais honesto, mais maduro, mais significativo e, em última análise, mais fiel ao espírito transformador que inspirou esses escritores antigos em primeiro lugar.

Lembre-se: O objetivo não é destruir a fé, mas aprofundá-la — ir além de leituras simplistas que muitas vezes servem para justificar exclusão e opressão, e em direção a uma compreensão mais madura que pode realmente mudar vidas e transformar nosso mundo.

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NOTAS DE RODAPÉ:

(1) Se você precisa de mais provas de que a Bíblia não é um livro único que deve ser lido como tal, a palavra grega na qual nossa palavra se baseia é βιβλία, ou “os livros”, no plural.

(2) Para uma palestra fascinante do Dr. Baden, confira este vídeo do YouTube de uma palestra que ele deu sobre o Davi histórico e como diferentes comunidades — incluindo aquelas que escreveram os diferentes relatos de sua realeza na Bíblia — o interpretam. Link: https://www.youtube.com/watch?v=qpzrgbWsFD8 .

(3) Para uma análise boa e compreensível disso, confira um livro didático real, escrito pelo professor de Yale John J. Collins, Introdução à Bíblia Hebraica, 3ª. Ed. (Minneapolis: Fortress Press, 2018).

(4) “Alfabetização Bíblica” é um termo que Robert Funk, um dos fundadores do Seminário de Jesus (“Jesus Seminar“), costumava a usar em suas falas.

Andrew Springer

Escrito por Andrew Springer, jornalista, produtor e empreendedor vencedor do Emmy. Cofundador do NOTICE News, seguidor de Jesus.

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Transcrito aqui neste blog em Salto, 4 de Fevereiro de 2025.



Categories: Liberalism

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4 replies

  1. Gilvan Almeida's avatar

    Na sua visão a Bíblia seria um pouco mais que um livro de auto ajuda. No entanto, lida com temor e sabedoria, é um livro de ajuda do Alto, para quem crê na sua inspiração.

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    • Não acho que a Bíblia seja um livro de auto-ajuda. Acho que é uma coleção de escritos, de vários gêneros literários, produzidos por vários autores, em diferentes datas, em lugares diversos. É uma obra literária produzida por homens, para homens. Tem erros e falhas como todos produtos de um ser falível como é o homem. A gente aprende lendo a Bíblia como aprende lendo obras literárias. Mas ela não vem do alto, muito menos do Alto. Vem do nosso nível mesmo. Pode ter sido inspirada da mesma forma que, digamos, Shakespeare o foi.

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  2. Nice post. I subscribed. Have a happy day☘️

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