Há momentos em que me pergunto se realmente vale a pena investir tanto tempo, dinheiro e energia em meus blogs.
O tempo é o recurso mais precioso — porque vai se esvaindo a cada dia que passa, algo que é extremamente importante quando o seu “estoque de tempo” não é lá mais essas coisas…
O dinheiro, diferentemente do tempo, é um recurso mais flexível: é sempre possível fazer um esforço concentrado para ganhar um pouco mais, mesmo quando se tem a minha idade [escrevo isto em Outubro de 2015, quando já completei 72 anos de idade). E, quem sabe, é possível arranjar algum patrocínio — é só falar bem (ou não falar mal) da Dillma, do Lulla e do PT que os patrocínios oficiais vêm até você… Mas o preço, como todos sabem, é demasiado caro.
Comecei escrever textos não-epistolares em 1961, quando entrei, como interno, no Instituto José Manuel da Conceição, em Jandira, SP, no mês de Fevereiro daquele ano. Os textos epistolares, as cartas, comecei escrever quando tinha uns sete anos — 65 anos atrás — e nunca parei: sempre gostei de escrever cartas, mesmo quando elas viraram emails. Minhas primeiras cartas eram para minha avó e para minha tia Alice, irmã de minha mãe, e minha tia mais próxima e querida. Em três meses (em Fevereiro de de 2016) fará 55 anos que escrevo regularmente — às vezes de forma quase obsessiva. Além das cartas e de textos de natureza mais acadêmica, gosto de, de vez em quando, quando vivencio alguma experiência interessante, de escrever crônicas do cotidiano. Uma conversa curiosa com um engraxate no Largo do Rosário em Campinas, observações do comportamento alheio em uma sala de espera de aeroporto, por exemplo, uma festa de formatura…
O meu primeiro blog, e até aqui o meu blog principal (Liberal Space), eu ora estou desmembrando num processo de reengenharia organizacional. Ele teve início onze anos atrás (aniversário em 2 de Dezembro de 2004, às 21h01), já está com quase mil artigos [em 2015 — hoje, quando o reviso e atualizo, em 16 de Julho de 2022, bem mais de mil). Contando os posts espalhados pelos demais blogs meus que já existem, são bem mais de mil e quinhentos os meus artigos em blogs. Além deles há os vários artigos que comecei a escrever e não terminei — ou que escrevi e resolvi não publicar naquela hora. Vou ver se dedico o ano de 2016 para botar essas coisas todas em ordem. [Não consegui: nota de 2022].
Mas estou fugindo do tópico deste post: o tópico é por que blogar?
A pergunta pode ser desdobrada em pelo menos outras duas:
- Por que escrever?
- Por que optar por usar o blog como forma de publicar e distribuir o que se escreve?
A primeira pergunta é mais fácil de responder para qualquer um que se considera um escritor (e eu me considero um escritor com quase 55 anos de “carreira” — em 31.10.2015): escrever se torna facilmente uma obsessão, depois de você começar e pegar gosto pela coisa. . . Não há como fugir dessa atividade. Às vezes escrevo notas e bilhetes para mim mesmo — importantes e nem tanto. Às vezes começo um projeto com fúria, dedico muitos dias a ele, e depois começo outro, deixando o anterior na prateleira — num certo tipo de limbo… E há muitos projetos que nem comecei ainda… mas que já são projetos que trato com carinho, acumulando materiais e ideias aqui e ali.
[Em parênteses, uma citação de Rainer Maria Rilke, que peguei de um comentário a este post feito por minha amiga Daisy Grisolia — era uma grande amiga em 2015, até que a política nos separou]:
“Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: você morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: ‘Sou mesmo forçado a escrever?’ Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples ‘sim, sou compelido a escrever’, então construa a sua vida de acordo com essa necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá se tornar o sinal e o testemunho de tal pressão.” (Rainer Maria Rilke)]
A segunda pergunta tem uma resposta meio ambígua e muito pessoal. Sou perfeccionista (ao meu jeito). Não gosto de publicar artigos em revistas e periódicos impressos, ou livros impressos, porque assim que vou ler a cópia impressa “definitiva”, começo a achar coisas que eu gostaria de mudar — mas daí já é tarde demais. O blog tem essa enorme vantagem: eu escrevo e publico, mesmo que aquilo que escrevi não esteja 100% a meu gosto. Esse fato fundamental, me ajuda a domar o perfeccionismo, porque sei que posso corrigir, melhorar ou expandir o texto na hora que eu quiser. Com blogs, eu estou em controle total do “medium” (ou da mídia, como se diz por aí, em que mídia se refere tanto à mídia em geral como a um “medium” — e em que se fala com naturalidade das mídias eletrônicas, por exemplo, pluralizando o que já é plural).
[Outro parêntese. Sobre os blogs, eis o que diz minha amiga Daisy Grisolia — continuo a gostar dela, embora a gente não converse mais para não brigar:
“Quanto aos blogs, que Rilke não teve a oportunidade de conhecer, mas que Saramago experimentou dando origem a O Caderno, ao contrário dos romances e textos elaborados, que resistem ao tempo, eles são o oposto, são o registro do instante na reflexão, na escrita e na leitura. São o espaço de tomada de opinião, imediata, ao sabor dos acontecimentos. E que, talvez, só muito tempo depois (novamente o tempo), possam se encaixar em uma figura com sentido maior, como as peças de um quebra cabeças que não sabemos ainda estar montando. Nesse sentido, continue escrevendo.”
Lindo, não? Está explicado, em parte, por que gosto da Daisy. Tenho dúvidas, porém, de que o blog, pelo menos de pronto, se preste tão somente, ou preferencialmente, ao imediato e efêmero, e não às questões, especialmente às indagações de longo prazo, mais permanentes. Mas esta é uma questão a conferir. Fecho só aqui o parêntese aberto para falar da Daisy.]
É isso. Este é meu primeiro artigo neste novo blog que, além de ser ele próprio um blog, apresenta o restante dos meus blogs (a blogaiada). Inicialmente, não vou escrever muito aqui: vou deixar que este espaço seja meio um “metaspace”. Com o tempo, porém, a tendência é que faça deste o meu blog principal.
[Nota de 22.11.2019, confirmada em 16.7.2022: este blog já há algum tempo se tornou o meu blog principal… O “espaço” que eu uso para escrever sobre qualquer coisa que interesse e motive: um livro lido, um filme visto, um acontecimento do dia-a-dia, um aniversário significativo… ]
Em Salto, 31 de Outubro de 2015. Dia da Reforma Protestante Luterana. (Daqui a 2 anos a Reforma Luterana comemorará 500 anos!).
Revisado em 22 de Novembro de 2019 (dia em que minha filha Patrícia comemora 44 anos).
Revisado novamente em 16 de Julho de 2022 (dia em que o brasileiro mais antigo se lembra do desastre nacional que foi a perda da Copa do Mundo de 1950 em pleno Estádio do Maracanã, levando Nelson Rodrigues a dizer sua frase memorável de nunca se ouviu tamanho silêncio no Maracanã como naquele dia fatídico).
Categories: Writing
Dr Chaves , eu o admiro muito , somente quem lê e , se dedica aos estudos é que consegue ser tão eficiente , são muitos anos de estudos
Não me sinto capaz nem para um comentário , como gostaria de ter estudado mais . Me sinto analfabeta fincional. Deus o abençoe
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