As Treze Virtudes de Benjamin Franklin

Por ocasião de uma viagem à Inglaterra (de vapor, naturalmente), que durava cerca de um mês (apenas em uma direção), Benjamin Franklin, à época ainda muito novo (cerca de 20 anos), começou a refletir sobre o que poderia fazer para se tornar uma pessoa melhor, mais virtuosa.

Ele resolveu, com base em suas leituras dos clássicos e dos moralistas britânicos, fazer uma lista de doze principais virtudes e decidiu que, no ano que tinha pela frente, a contar daquele dia, iria concentrar seus esforços em cada uma das doze virtudes, uma por mês: tentar fazer dela um hábito, que se incorporasse à sua natureza. E começou a por as doze virtudes em prática.

Consta que, quando voltou para a América, um tempo depois, resolveu mostrar sua lista de virtudes e o método de incorporá-las à sua vida para um amigo que era um líder quaker. Este ponderou a lista, endossou-a, enquanto tal, mas sugeriu o acréscimo de uma décima terceira virtude: a modéstia, para que, ao se tornar tão virtuoso, ele, Franklin, não caísse na tentação de ficar orgulhoso de sua própria virtude…

Franklin achou a sugestão plausível, mas, metódico que era, ficou preocupado com o fato de que, sendo agora treze, as virtudes não poderiam ser cultivadas em um ano, uma por mês. Refletiu, refletiu, e chegou à seguinte conclusão: como o ano tem 52 semanas, se ele dividisse o ano, não em doze meses, mas em períodos de quatro semanas, teria treze desses períodos, e seria possível cultivar as treze virtudes, em série, durante um ano, dedicando a cada uma delas um período (digamos que razoável) de quatro semanas…

Acho genial, não só a preocupação do jovem Franklin em se desenvolver continuamente, e continuar a se preocupar com isso mesmo depois de se tornar adulto e maduro, mas, também, a sua preocupação com o método de implementar a sua resolução.

Só resta saber, porém, se só quatro semanas, ou mesmo um mês, é período suficiente para fazer de uma virtude um hábito permanente na vida da gente… Creio que depende de cada um.

Eis a lista das treze virtudes, inicialmente em Inglês:

  1. Temperance: Eat not to dullness. Drink not to elevation.
  2. Silence: Speak not but what may benefit others or yourself. Avoid trifling conversation.
  3. Order: Let all your things have their places. Let each part of your business have its time.
  4. Resolution: Resolve to perform what you ought. Perform without fail what you resolve.
  5. Frugality: Make no expense but to do good to others or yourself: i.e., Waste nothing.
  6. Industry: Lose no time. Be always employed in something useful. Cut off all unnecessary actions.
  7. Sincerity: Use no hurtful deceit. Think innocently and justly; and if you speak, speak accordingly.
  8. Justice: Wrong none by doing injuries, or omitting the benefits that are your duty.
  9. Moderation: Avoid extremes. Forbear resenting injuries so much as you think they deserve.
  10. Cleanliness: Tolerate no uncleanness in body, clothes, or habitation.
  11. Tranquility: Be not disturbed at trifles, or at accidents common or unavoidable.
  12. Chastity: Rarely use venery but for health or offspring; never to dullness, weakness, or the injury of your own or another’s peace or reputation.
  13. Humility: Imitate Jesus and Socrates.

[Lista transcrita de Benjamin Franklin’s Autobiography, editada por Leo Lemay e P. M. Zall, W. W. Norton & Co, New York, 1986, pp. 67-68. A história do amigo quaker é contada à p.75.]

Eis a lista em Português:

  1. Temperança: não comer até o embrutecimento, nem beber até a embriaguês.
  2. Silêncio: Não falar senão o que pode ser benéfico para os outros, ou para nós mesmos, e evitar as conversas frívolas.
  3. Ordem: Designar um lugar para cada coisa e pôr cada coisa no seu lugar; destinar uma hora do dia para cada uma de nossas tarefas.
  4. Resolução: Resolver fazer o que é nosso dever; e cumprir, sem falhar, o que se resolve.
  5. Frugalidade: Não fazer despesas senão em benefício próprio ou de outrem; não desperdiçar nada.
  6. Aplicação: Não perder tempo; estar sempre ocupado com alguma coisa útil; suprimir todas as ações desnecessárias.
  7. Sinceridade: Não enganar ninguém, de modo a prejudicá-lo; pensar de forma honesta e justa; ao falar, fazê-lo de conformidade com este princípio.
  8. Justiça: Não fazer mal a ninguém, nem lhe causando dano, nem lhe omitindo benefícios que é nosso dever lhe reconhecer.
  9. Moderação: Evitar os extremos; abster-se de guardar ressentimento pelas injúrias recebidas, na medida em que elas possam ser consideradas merecidas.
  10. Limpeza: Não tolerar a falta de limpeza no corpo, no vestuário ou na habitação.
  11. Tranquilidade: Não se perturbar com insignificâncias nem com acidentes comuns ou inevitáveis.
  12. Castidade: Usar raramente do prazer da carne e apenas para o benefício do organismo ou tendo em vista a descendência; jamais até o embrutecimento ou de modo a levar à fraqueza, ou, então, em prejuízo da própria paz e reputação, ou da de outrem.
  13. Humildade: Imitar Jesus e Sócrates.

[Levei em conta a tradução de Sarmento de Beires e José Duarte, publicada em Autobiografia de Benjamin Franklin, Clássicos de Bolso, Ediouro, s/d, pp.91-92, mas a modifiquei bastante, sob minha responsabilidade, com base no texto original. A história do amigo quaker está relatada na p.100 dessa edição.]

Em Salto, 23 de Fevereiro de 2021.



Categories: Liberalism

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