As Pombas
Raimundo Correia
Vai-se a primeira pomba despertada…
Vai-se outra mais… mais outra… enfim dezenas
de pombas vão-se dos pombais, apenas
raia, sanguínea e fresca, a madrugada…
E, à tarde, quando a rígida nortada
sopra, aos pombais, de novo, elas, serenas,
ruflando as asas, sacudindo as penas,
voltam todas em bando e em revoada…
Também dos corações, onde abotoam.
os sonhos, um por um, céleres voam,
como voam as pombas dos pombais;
no azul da adolescência as asas soltam,
fogem… Mas aos pombais as pombas voltam,
e eles aos corações não voltam mais!.
Suave Caminho
Mário Pederneiras
Assim… Ambos assim, no mesmo passo,
Iremos percorrendo a mesma estrada;
Tu – no meu braço trêmulo amparada,
Eu – amparado no teu lindo braço.
Ligados neste arrimo, embora escasso,
Venceremos as urzes da jornada.
E tu – te sentirás menos cansada,
E eu – menos sentirei o meu cansaço.
E, assim, ligados pelos bens supremos,
Que para mim o teu carinho trouxe,
Placidamente pela vida iremos,
Calcando mágoas. Afastando espinhos.
Como se a escarpa desta vida fosse
O mais suave de todos os caminhos.
Os Cisnes
Júlio Salusse
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas,
Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!
PS: Este último soneto, embora bonito, tem um final egoísta e muito pouco realista.
Em Salto, 23 de Agosto de 2019
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