Meus Livros

Nossos livros no nosso escritório… Dezembro de 2020.

Ao postar algumas dessas fotos no Facebook, foram usadas, nos comentários, as imagens de livraria (pelo meu amigo Dario Pereira Ramos) e biblioteca (pelo também meu amigo Saulo Lopes). Nenhuma das duas imagens representa o que esses livros realmente significam para mim. Em ambos os casos há a referência a uma coleção ou acervo de livros, mas nos dois casos, o de uma livraria e o de uma biblioteca anônima qualquer, eles foram coletados sem o meu envolvimento pessoal. Numa livraria eles estão lá para serem vendidos, não para serem ali lidos e curtidos. Os livros que estão aqui fotografados foram comprados ou ganhos ou herdados por mim – sem exceção, por amor ao que eles tinham dentro, entre as capas…

A minha grande amiga Ondina Berndt usou a expressão certa: a foto é de “meus livros”. Cada um desses livros contém uma história, em geral representada pelo meu nome (sempre escrevo meu nome nos meus livros) e, normalmente, pelo lugar e pela data em que o adquiri, e, por vezes, até mesmo pelo preço que paguei. Se o livro me foi dado de presente, anoto, em regra, quem me deu e quando e, se não for óbvio, por quê. Com isso, meus livros assumem um papel personalíssimo para mim, porque se tornaram parte integral, e essencial, da minha vida e da minha história. O que eu sou, hoje, passou pela leitura de muitos deles (e, por vezes, por sublinhados, comentários, elogios entusiasmados e protestos revoltados, nas margens…). Sim, são fotos de uma biblioteca e pode até parecer que são de uma livraria — mas não são fotos de qualquer biblioteca anônima, das quais há maiores e mais bonitas do que a minha. São fotos da minha biblioteca, estes são os meus livros desejados e queridos, mesmo que haja entre eles, além dos comprados, que são a maioria, livros ganhos de presente sem consulta prévia às minhas preferências, livros herdados, livros tomados emprestados e não devolvidos (razão pela qual não gosto de ceder meus livros por empréstimo: às vezes, eles nunca voltam).

O livro cuja foto da primeira página segue abaixo é uma edição de capa dura de A Grief Observed, de C S Lewis, que me foi dada, em 25.12.1968, no Natal de há 52 anos, por Susan Brownlee, filha do Rev. John T. Brownlee, de Evans City, PA, do qual era “Student Minister”, naquele ano letivo de 1968-1969. Passei o Natal com eles e na manhã do dia 25 fui presenteado com essa obra importante – quase rara em capa dura… Olhando a capa fico a me lembrar daquele dia, daquele ano, daquele tempo em que eu estudava no Pittsburgh Theological Seminary. Mais recentemente adquiri outras cópias do mesmo livro, até em ebook. Mas em certo sentido importante, elas não são cópias do MESMO livro, porque este é especial, tem as especificidades do tempo e do lugar em que foi obtido…

A Grief Observed - 19681225

Em Salto, 5 de Dezembro de 2020. [Revisão de 5.12.2021: Felizmente, um ano depois, meus livros estão mais bem arrumados e o escritório bem mais decente e agradável…]



Categories: Liberalism

5 replies

  1. E’ emocionante ver todos esses volumes, fastidiosamente organizados, revela sem duvida uma relacao intima com todos eles.

    Quando meu pai faleceu, tentamos doar sua bibiloteca para a Unesp onde por muitos anos foi titular de Literatura Portuguesa. Exemplares enviados e autografados pelos principais escritores Portugueses dos anos 60, 70, multos volumes recebidos da fundaco Gulbenkian. Eu cresci em meio a essa biblioteca.
    Para nossa surpresa disseram que teriamos que primeiro contratar uma bibliotecaria para classificar e decidir quais volumes serviriam.
    No fim, acabamos nos desfazendo, desistimos da doacao.

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    • Otávio Décio:

      Obrigado pela leitura do meu artigo e pelo comentário. Eu estou com 77 anos e um dos meus dilemas é se devo dispor dos meus livros em vida, e como. Como minha mulher também é professora universitária, os livros de educação ela certamente aproveitará. Mas tenho um mundaréu de livros de Filosofia, Teologia, História e Política que pensei em tentar vender ou doar. Mas conheço bem a raça que governa nossas universidades paulistas. Eu me aposentei da UNICAMP no fim de 2006, e há uns 3 anos recebi um convite de meu ex-departamento para participar de um grupo de pesquisa — sem ganhar nada. Exceto pelo meu ex-departamento, todas as outras instâncias começaram a colocar exigências estapafúrdias e obstáculos ridículos, como se eu não tivesse trabalhado lá quase 35 anos, exercido todos os cargos de Coordenadoria de Curso, Direção Associada e Direção dentro da Faculdade de Educação, como se eles estivessem me fazendo um favor de me aceitar de volta para trabalhar de graça. Disse muito obrigado ao departamento e pedi vênia para pedir que eles retirassem o convite que me haviam feito. É assim. Está tudo atravessado hoje em dia. Até para aceitar uma doação eles criam problema. Tenho nojo dessa raça. Gente pequena. Um grande abraço.

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  2. Muito legal sua biblioteca professor Chaves.

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  3. Imagino que sejam cerca de 6 mil livros!

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