O que é a tecnologia, não é mesmo? Uma coisa impressionante…
Há um pouco mais de dez anos, em Junho-Julho de 2009, quando a minha mulher, Paloma Epprecht Machado Campos Chaves, as nossas (então) meninas Bianca Epprecht Machado França e Priscilla Epprecht Machado França, e eu, a quatro anos de me tornar um septuagenário, fomos passear na Disneyland de Anaheim, a primeira das Disneylândias, na Grande Los Angeles, e na Legoland de La Jolla, na Grande San Diego, a segunda das Legolândias (a primeira, a prova do conceito, foi em Bilund, na Dinamarca), em ambos os casos no estado americano da California, eu comprei (em Washington, DC, antes de cruzar o país) uma camera Canon Rebel — a da direita na fota. Na época era estado da arte dentre as câmeras chamadas semi-profissionais. Saiu mais de mil dólares, mas o dólar não estava tão caro como hoje. Comprei também uma potente lente de zoom e um flash especial para ocasiões especiais, que também custaram bom preço. Tirei muita foto bonita com a câmera — mas olhem o tamanho do trambolho que eu tinha de carregar ao redor do ombro por todo lugar. E a câmera não filmava: só tirava still shots. E para um bom zoom, era preciso trocar de lente.
Cerca de dois ou três anos depois, estando eu na Ciudad del Este com a Paloma, resolvi comprar a câmera Sony, à esquerda na foto. Bem mais simples e cerca de um terço do preço da outra sem os periféricos. Ela tinha um belo zoom de 50x embutido, um bom flash embutido, e, por cima, filmava em alta resolução. Tudo o que eu queria. E era um trambolho bem menor. Usei bastante a câmera e com ela tirei muita foto bonita. Mas, embora menor, também também era um trambolho, como dava para sentir, depois de rodar por uma cidade por um dia inteiro com ela pendurada no pescoço. Mas, nela, uma lente só fazia tudo, até com um bom zoom, e, como disse, ela filmava em alta resolução. Beleza. Isso foi em 2013 ou 2014, creio.
Hoje, meu iPhone, que eu já tenho há três anos (um iPhone 7+) faz tudo o que as duas câmeras faziam, faz melhor, e não é um trambolho. E com o iPhone eu faço telefonemas e troco mensagens (até de vídeo) instantâneas. Além disso, uso-o como um computador ultraportátil para anotar compromissos, fazer anotações, registrar e verificar endereços, registrar contas a pagar e agendar despesas futuras, fazer pagamentos no banco virtual, fazer compras em supermercados (presenciais ou virtuais), ouvir música, ver vídeos e filmes, orientar-me no tráfego (Waze em vez de um GPS comum), ver a hora, ser despertado ou avisado de compromissos, usar como secretária eletrônica, etc. etc. etc. Tenho até o Microsoft Office completo no telefone. Quando dou palestra, para não ficar virando para trás para ver o slide, vejo os slides no telefone. Uso o Powerpoint do telefone. E o meu telefone já tem cerca de três anos e meio, sem problema.
Se eu somar o preço de um telefone, uma secretária eletrônica, um BINA (!), uma câmera fotográfica, uma câmera de vídeo, um GPS, um walkman, um discman (!), um MP3 player, um relógio de pulso, um despertador, um livro de endereços, uma agenda, um não sei mais o quê, o preço de um iPhone ou de um bom smartphone de outra marca (Samsung, Motorola, Nokia, etc.) é uma barganha.
Mas, dada a idade do meu, que ainda aceita todas as atualizações de software da Apple, mas não o fará por muito tempo, eu já estou querendo trocar o meu iPhone por um mais novo… O Itaú tem um plano pelo qual você paga pelo resto da vida uma mensalidade (de 200 a 300 reais, dependendo do modelo) e a cada dois anos troca de iPhone por um novo. Ter um iPhone não é mais questão de comprar um de vez em quando: mesmo no caso do hardware, e não apenas do serviço, já virou um serviço de assinatura que provavelmente vai prender você pelo resto da vida.
Da mesma coisa que eu faço com o Microsoft Office. Enquanto fui consultor da Microsoft, de 1998-2013, tinha o Office de graça. Depois, de 2013-2016, comprei a atualização todo ano. A partir de 2017, passei a assinar o Microsoft Office. No mesmo ano, comecei a assinar também o Intuit Quicken, software de finanças pessoais que eu uso desde 1988 (na versão DOS, depois Windows, depois Mac), até 2016 comprando uma versão nova todo ano. Agora eu tenho updates e upgrades automáticos o tempo todo, tanto do Office como do Quicken, e, uma vez por ano, pago uma taxa anual.
Quanto ao serviço de telefonia móvel, eu me lembro da inveja que sentia de minha filha que mora nos Estados Unidos, que comprava um telefone celular e o plano básico já lhe permitia ligar para outros celulares e para telefones fixos em todos os Estados Unidos, inclusive o Havaí e o Porto Rico (e até mesmo para bases militares espalhadas ao redor do mundo). E por uma bagatela. Para ter direito ao acesso à Internet, um plano adicional, mas também acessível. Aqui a gente comprava um telefone celular que lhe dava direito a falar, pelo preço da assinatura, dentro de um mesmo DDD — e ainda assim, com um teto nos minutos de conversa. Eu, aqui no nosso sítio em Salto, que, num extremo, se separa do próximo sítio por um córrego, tinha um problema. Do lado de cá é Salto, DDD=11. Do lado de lá é Elias Fausto, DDD=19. Se eu fizesse uma ligação telefônica para meu vizinho, pagava interurbano.
Hoje, graças ao bom Deus, com o plano que tenho, um plano familiar que inclui meia dúzia de linhas (telefone pra mim, pra Paloma, pras meninas, pro meu sogro e pro caseiro), podemos ligar para qualquer telefone do Brasil, celular ou fixo, sem pagar nada. Só não entendo por que eu tenho de pagar R$ 0,60 para cada ligação para a Secretária Eletrônica, mas isso vai sumir também. E, como os gringos, posso usar o mesmo telefone com a mesma linha em qualquer lugar do mundo. Estou no céu, não é verdade? Ou quase, só falta a Claro deixar de cobrar os malditos R$ 0,60 por ligação para a maldita, que o Diabo a tenha, Secretária Eletrônica. Se eu tenho acesso ilimitado ao Facebook, ao Whatsapp, ao Messenger, ao Instagram, ao Waze, por que não, me digam, à “mardita” da secretária…
Hoje a gente paga por tecnologia, hardware e software, como quem antes assinava um linha de telefone. Lembro-me de que em 1994, quando eu e dois sócios abrimos uma empresa, em Campinas, gastamos 15 mil dólares (sic) para comprar, no câmbio negro (Receita, já caducou, bem!), três linhas de telefone fixo. A Telesp estava em falta de linhas de telefone fixo e não tinha ainda telefone celular. No ano seguinte saíram os telefones celulares, e nós compramos três aparelhos da Motorola, com linha, naturalmente, e pagamos basicamente o mesmo tanto: cinco mil dólares por telefone/linha. Isso, minha gente, faz cerca (um pouquinho mais) de 25 anos. É a vida.
1994 foi o ano do Plano Real que estabilizou nossa moeda. Em termos. E eu e meus sócios gastamos 30 mil dólares para comprar seis linhas de telefone: três de telefonia fixa e três de telefonia móvel. Ao preço de hoje, mais de 150 mil reais. Obrigado, Sérgio Motta, por haver implodido o monopólio daquela bosta do Sistema Telebrás.
Hoje estamos muito melhor. Mas ficamos escravos da tecnologia. A gente volta vários quilômetros de carro para pegar um telefone celular esquecido em casa. Não só temos, nós cinco, cada um o seu telefone celular, mas nossos caseiros têm quatro, dois para o casal (um para cada um — o dele é por minha conta), e um para cada um dos filhos com mais de 15 anos… E o caçula, de 5 anos, o meu querido amigo Baroninho, já está reclamando o seu. Provavelmente, logo o terá. Sem celular não conseguimos falar com nossos caseiros e acompanhar o que estão fazendo. Câmeras de vigilância estão estrategicamente espalhadas pela área residencial do sítio.
Ontem, eu estava aqui no sítio, no meio de uma defesa de tese virtual da qual eu era banca, e minha Internet no sítio caiu – simplesmente despencou. Depois fiquei sabendo que estourou um equipamento na torre de transmissão do Buru (um bairro de Salto). Eu estava no meio da minha arguição. Imediatamente liguei para Americana (a sede do UNISAL, onde a tese era defendida), falei com meu amigo Renato Kraide Soffner, presidente da banca, e pedi que ele colocasse o próximo arguidor no ar enquanto eu tentava dar um jeito na coisa. Ele fez isso e eu em 5 minutos me conectei no Skype novamente usando o HotSpot do meu iPhone, em 4G, mesmo aqui no meio do mato, n’O Canto da Coruja… Quando o outro arguidor, o meu também amigo Antonio Carlos Miranda, terminou, eu entrei e terminei minha arguição, e, em seguida, tudo virou festa com a aprovação da Adriana Morais (Adriana Adri), que é colega da Paloma no IFSP-SP em Capivari. A Adri colocou várias fotos e vídeos no Facebook, algumas das quais eu compartilhei na minha Linha do Tempo.
E assim, meus caros, segue a nave. Navegar é preciso (em ambos os sentidos da expressão), como dizia o velho Ulisses Guimarães, que foi o único político de cuja campanha presidencial eu participei — isto em 1989, durante minha estada na Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo, como Diretor do Centro de Informações de Saúde e Assessor Especial do Secretário. Acompanhei o Dr. Ulisses, como ele era chamado, com meu colega da UNICAMP, chefe (na Secretaria da Saúde) e amigo José Aristodemo Pinotti, a vários comícios, inclusive um, memorável, em Foz do Iguaçu (primeira vez que fui lá). Na campanha eu era o Secretário Executivo do grupo que elaborou o Plano de Saúde do Doutor Ulisses para o seu mandato, que nunca foi, na Presidência. A redação final do plano foi minha, e recebeu a aprovação de todos os demais membros do grupo.
Mas se eu liberar a memória isso aqui vira um Free Flow of Consciousness.
Em Salto, 4 de Dezembro de 2020. (Pequena revisão no dia seguinte, 5.12).
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