Qual é o Pente que me Penteia?

Foto do meu Perfil no Facebook a partir de 202008

Em 1974, quando voltei dos Estados Unidos para o Brasil, depois de sete anos lá estudando e trabalhando, meu cabelo estava bem longo, como era comum na moda. Minha primeira carteirinha de identidade profissional da UNICAMP, tirada naquele ano, mostra os cabelos encostando nos ombros dos lados da cabeça. Não tinha barba nem bigode.

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UNICAMP, Junho de 1974

De lá para cá nunca mais deixei meu cabelo crescer demais. Momento houve em que o mantive bem curto, quase estilo militar. Mais perto no tempo, nos últimos anos, cortava bem curto para poder ficar bastante tempo sem cortar: ia no barbeiro (na verdade, uma cabeleireira, a Lena) a cada três meses. Ao entrar em 2020, a última vez que havia cortado o cabelo foi em 21.10.2019. (Eu marco essas coisas). Depois veio o Natal, o Ano Novo, o começo do ano, e eu fui deixando o cabelo crescer. E a barba também. Daí veio a Pandemia em Março, e com ela o isolamento, e eu pensei comigo mesmo que agora é que eu não iria mesmo cortar o cabelo. E fui deixando o cabelo crescer. Aparava a barba, inicialmente — daquelas barbas à la Lincoln, sem bigode. Mas uma vez deixei de apará-la por vários dias e o bigode começou a encorpar, e eu resolvi deixar o bigode. Barba eu sempre tive, on and off. Mas bigode, a primeira e única vez que eu tive foi em 1968 — o fatídico 1968. Achei que, junto do cabelo que ia crescendo, uma barba mais cheia e com bigode cairia bem. E a coisa foi indo. Eis algumas fotos, 46 anos depois da anterior…

202006

202008

Chegou o momento em que o cabelo ficou comprido demais e comecei a fazer — na verdade, foi a Paloma quem fez — rabinho de cavalo, coque samurai, etc. No início foi divertido. Mas a coisa foi complicando. O cabelo comprido embaraça, não suporta bem uma ventania, fica fazendo a gente parecer um velho doido, quando não um Rasputin.

202005 

Há dias vinha dizendo que iria cortar o cabelo. Mas anteontem, eu estava aqui em São Paulo, e não estava de rabinho de cavalo nem de coque samurai, só de boné, e eu, ao sair do apartamento das meninas, fui ao Makro, e, na saída, estava ventando e eu vi minha cara no vidro do carro e concluí: é hoje que eu vou cortar essa cabelaiada. Não era só a aparência de doido varrido e descabelado. Havia também a ginástica de usar boné para segurar a cabelo no lugar, usar, além dos óculos atrás da orelha (sem falar no aparelhinho de ouvido que tenho usado muito pouco), a máscara com seus malditos elastiquinhos que competem com as hastes dos óculos atrás das orelhas, a dificuldade de decidir se passava o elastiquinho da máscara por cima ou por baixo do cabelo, a dificuldade para tomar até um café ou um sorvetinho (neste caso a culpa não é do cabelo grande, mas da máscara, mas fica tudo embolado numa mesma fonte de irritação).

Assim, de repente, o que, para mim, havia sido uma questão aberta até uns dias atrás, virou uma questão fechada: vou cortar essa porcaria de cabelo. Embora houve queijo e outros produtos no carro (comprados no Makro) que requeriam geladeira, fui direto para o barbeiro.

Escolhi um barbeiro que já havia frequentado no shoppinho do Portal do Morumbi. Cara cuidadoso, calmo, lento, atencioso. Ele levou uma hora para cortar o meu cabelo, aparar as sobrancelhas e dar uma acertada no bigode. A Lena faz isso em vinte minutos. É verdade que ela cobra 35 e ele cobrou 70 mangos, como se dizia no meu tempo de adolescente. Dei 15% de gorjeta. Fui generoso.

Descobri uma coisa no cabeleireiro / barbeiro tipicamente masculino (mas que tem, na placa, preço para cabelos femininos)… Meu cabelo estava quase 15 cm abaixo do colarinho. Pensei com meus botões: será que ele vai cobrar preço do corte de cabelo masculino ou de cabelo feminino?

Minha descoberta foi a seguinte: não é o tamanho do cabelo ao chegar ao barbeiro que conta: é o tamanho do cabelo quando se sai de lá. Nunca havia pensado nisso antes. É vivendo que se aprende.

Como eu dei a ordem: curtinho, do lado sem cobrir a orelha, atrás disfarçado, sem usar a máquina de cortar cabelo, só na tesoura, o meu corte de cabelo era corte de homem — 70 reais é o preço de um corte masculino. Se eu tivesse dito: acerta as pontas, dá um jeito nessa franja, acerta um pouco aqui, um pouco ali, passe um mousse bom para ficar como o cabelo do Oswaldo Montenegro, o preço seria de corte feminino, ou seja, 150 reais para cima.

20201124

Fiquei de 21.10.2019 até ontem, 24.11.2020, sem cortar o meu cabelo, nem sequer “acertar as pontas” ou dar um jeito nele, como dizem as mulheres. Treze meses e três dias. Um record para mim. E uma boa economia. Já dá pra comprar uns dois livrinhos…

Tinha contado a história no Facebook e minha amiga Ana Maria Tebar achou que tinha uma crônica na história. Não é que tinha?

Em São Paulo, 26 de Novembro de 2020.



Categories: Liberalism

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