“O desvio intelectual [ . . . ] é subversivo de uma totalidade, enquanto o desvio comportamental deixa a totalidade como está, não questionando nunca a sua validade. No caso específico das instituições eclesiásticas, este fato se torna evidente quando notamos que é fácil reassimilar aqueles que cometeram deslizes morais, enquanto é praticamente impossível fazer o mesmo com os hereges. O imoral não contesta uma visão de mundo. O herege sim. O que comete o deslize moral sabe que a verdade está com a instituição. Essa é a razão por que comete o seu ato em segredo. O herege, ao contrário, sabe que ele está certo e a instituição errada. Por isso, não se envergonha, e prega as suas ideias. [ . . . ] É necessário notar que o ‘herege’ não se chama a si mesmo de herege. Sob o seu ponto de vista, ele proclama a verdade a uma instituição que se desviou da verdade. [ . . . ] O herege é aquele que crê na voz de sua consciência, assumindo o risco da liberdade. E este risco se exprime na coragem de se desviar da verdade cognitiva social. Ora, se assim é, qualquer instituição que tenha mecanismos para identificar e eliminar o desvio está comprometida com a eliminação do livre exame, e, portanto, da liberdade. [ . . . ] Por que mecanismos se conclui que os ortodoxos são ortodoxos e os hereges são hereges? A história nos dá uma pista muito interessante para responder a esta pergunta: os hereges são sempre os vencidos e os ortodoxos os vencedores. Em última análise, a decisão é feita por um processo político. Os hereges são os fracos; os ortodoxos são os fortes. Aquilo que uma instituição eclesiástica reconhece como verdade, e que usa como critério para estigmatizar o herege, foi formulado e imposto, um dia, por aqueles que detinham o monopólio do poder político nesta mesma instituição. Se a situação tivesse sido a oposta, isto é, se os perdedores tivessem sido vitoriosos, o seu pensamento teria sido imposto como verdade e ortodoxia, e o de seus oponentes [seria considerado] como heresia. Assim, ortodoxia e heresia pouco ou nada revelam sobre o problema da verdade. Tais conceitos simplesmente apontam para os vencedores e os perdedores. Os procedimentos inquisitoriais para identificação e eliminação do pensamento desviante só são possíveis se… (a) um grupo pretende ser o detentor da verdade absoluta: [ . . . ] aquela que é completa, fixa e final, [e que] não pode, portanto, ser contestada ou mudada. (b) este grupo detiver os instrumentos políticos de coerção e violência para a eliminação efetiva dos desviantes. Mas se nossa análise é correta, a pretensão de verdade absoluta nada mais é do que a face ideológica das realidades do poder político nos limites institucionais.”
[Rubem Alves, Dogmatismo e Tolerância (Edições Paulinas, São Paulo, 1982), Capítulo 11: “Certeza e Inquisição”, pp. 109-111]
1. O Objetivo
O objetivo principal desta página (“A Inquisição Presbiteriana: 1964-1984” [https://www.facebook.com/tributo.a.serveto/]) e do seu grupo de discussão (que tem o título provocativo da canção de Geraldo Vandré: “Para não dizer que não falei das flores…” [https://www.facebook.com/groups/388265459131347]) é criar condições para que se reconte e se discuta uma história que já foi contada e discutida por muita gente (em especial, aqui no Brasil, em dissertações de Mestrado e teses de Doutoramento, em capítulos de livros, e em um livro, em particular, de autoria de João Dias de Araújo, Inquisição Sem Fogueiras, ao qual serão feitas referências detalhadas mais abaixo): a história de controvérsias, brigas, conflitos, crises, perseguições, expurgos, divisões, etc. entre os presbiterianos — tanto aqui no Brasil, foco principal, como nos Estados Unidos, país do qual o presbiterianismo veio para o Brasil, a partir do ano de 1859.
É fato sabido e notório que, em Genebra, na Suíça, berço do calvinismo que oportunamente se tornou presbiterianismo na Escócia, Michel Serveto foi queimado em fogueira, em 27.10.1553, por não acreditar na doutrina da Trindade e por não concordar com a prática do Batismo Infantil. Não há controvérsia e briga pior do que a que acaba em morte… E essa teve lugar no berço do presbiterianismo, na presença de sua figura mais icônica: João Calvino. Esse fato marca uma tradição. Parece predispô-la para a beligerância…
De Genebra o calvinismo se espalhou, indo parar, entre outras plagas, nas Ilhas Britânicas, onde criou raízes e se estruturou como igreja na Escócia, através do trabalho de John Knox. Embora a Escócia fosse seu centro principal de influência, o calvinismo, já como presbiterianismo, irradiou para a vizinha Irlanda e também para a Inglaterra, berço da Reforma Protestante Inglesa e da Igreja Anglicana. Em um breve interlúdio de domínio presbiteriano na Inglaterra, lá teve lugar a Assembleia de Westminster, que elaborou, ao longo de alguns anos, a Confissão de Fé de Westminster (e documentos correlatos: Catecismos, Livro de Ordem, etc.), que tem servido de norma da fé presbiteriana por quase todo lugar em que o presbiterianismo se espalhou a partir das Ilhas Britânicas (Inglaterra, Escócia e Irlanda).
Foi das Ilhas Britânicas que o presbiterianismo veio para os Estados Unidos — saindo em especial da Escócia e da Irlanda, porque na Inglaterra, depois de algumas idas e vindas, a Igreja Anglicana se firmou como igreja nacional, estatal, representante para todos os fins da religião oficial: quem se opusesse a ela seria considerado dissidente e, como tal, perseguido (pelo menos por um tempo). Foi assim que os presbiterianos da Inglaterra acabaram fugindo para a Holanda e de lá vieram para a América, estabelecendo-se na chamada Nova Inglaterra, nas Colônias Inglesas do Nordeste da América do Norte. Os calvinistas escoceses e irlandeses vieram para outras partes das Colônias Inglesas, em especial para as chamadas Colônias Centrais, como a Pensilvânia e a Virginia, bem como para as regiões contíguas (New York, New Jersey, Delaware, Maryland, etc.). Séculos depois, saindo dessa região, o presbiterianismo veio para o Brasil, em 1859, estabelecendo-se primeiro no Rio de Janeiro, depois em São Paulo. Saindo do Sul dos Estados Unidos, também veio para cá em 1870, estabelecendo-se em Campinas.
O objetivo de recontar e discutir mais um pouco esse conjunto de questões certamente é um objetivo amplo demais. Ele envolveria a discussão de mais de quatro séculos de presbiterianismo, contando a sua ida da Suíça Francesa para as Ilhas Britânicas, destas para as Colônias Inglesas da América do Norte, e destas, já como Estados Unidos da América, para o Brasil — tudo ao longo de cerca de quatrocentos anos, contando até hoje. (Os Peregrinos chegaram na costa da Nova Inglaterra, no Mayflower, em 11.11.1620 — quase exatamente quatrocentos anos atrás neste dia 13.12.2020 em que escrevo estas linhas). Por isso, embora pretenda tocar em questões que surgiram lá fora e aqui no Brasil ao longo desse tempo todo, vou estreitar meu foco para privilegiar, no médio prazo, crises, controvérsias e divisões nas duas principais denominações presbiterianas brasileiras: a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), na qual nasci, em 1943, e cresci, e da qual fui membro durante 23 anos (contando do meu nascimento até 1966), e a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB), que se separou da IPB em 1903, da qual sou membro há dez anos (desde 2010, pois escrevo em 2020) e em cuja Faculdade de Teologia ocupei, de 2014 a 2017, a cadeira de História da Igreja e do Pensamento Cristão.
Mesmo assim o objetivo ainda é amplo demais. Por isso, vou estreitar o foco, no curto prazo, ainda mais drasticamente (embora sem perder de vista os anos anteriores e os subsequentes). Vou me concentrar no período de 1964 a 1984, período esse de crise política no Brasil, com a Ditadura Militar, e de uma série de crises dentro da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), crises das quais eu fui, por algum tempo, participante ativo e, no restante do tempo, apenas observador curioso e interessado. Certamente essa série de crises tinha profundas raízes nos anos anteriores e até mesmo fora do país. Mas o ano de 1964 foi significativo para mim, não só por marcar o início da Ditadura Militar, mas porque foi nesse ano que eu entrei no Seminário Presbiteriano do Sul (SPS), em Campinas, e comecei a tomar conhecimento de uma série de problemas dentro da minha igreja, de que eu, em minha santa ingenuidade de crente leigo e meio alienado, não tinha jamais tido a menor ideia de que estivessem acontecendo, ou até mesmo de que pudessem acontecer por se tratar justamente de uma igreja…
A crise (ou as diversas crises) da IPB de 1964 (quando entrei no Seminário e teve início a Ditadura Militar no país) até 1984 (quando a Ditadura Militar tirou o time de campo e a crise na IPB arrefeceu um pouco) aconteceu em um período politicamente conturbado, a saber, os 21 anos que cobrem, no plano federal, o finzinho do governo João Belchior Marques Goulart (1961-1964), o Golpe de 1964, e o governo dos presidentes militares da Ditadura (1964-1984): em sua fase menos dura e mais branda (de Abril de 1964 até o final de 1968), Humberto de Alencar Castello Branco e Artur da Costa e Silva, até este ficar doente e ser substituído; em sua fase mais dura, a dos chamados “anos de chumbo” (de 1969 até o início de 1974), inicialmente a Junta Militar e, depois, Emílio Garrastazu Médici; e, depois de 1974, novamente em uma fase menos dura e mais branda, Ernesto Beckmann Geisel e João Baptista de Oliveira Figueiredo; assim, até chegar ao seu final melancólico, com a eleição de Tancredo de Almeida Neves para a Presidência, sua morte imprevista, e a posse de José Sarney de Araújo Costa. A direção política do país voltava para mãos civis, mesmo sem as “Diretas Já”.
Para mim, pessoalmente, o “olho do furacão” foi representado pelos anos de 1966-1967. Em 1966, dois anos depois do início do governo militar, Boanerges Ribeiro foi eleito Presidente do Supremo Concílio da IPB e assumiu controle da IPB com mão de ferro, dando uma guinada autoritária e inquisitorial nela, que mudou a sua face, o resto do seu corpo, os seus órgãos internos, e, principalmente, a sua mentalidade. Em 1970 Boanerges Ribeiro foi reeleito para um segundo mandato de quatro anos. Em 1974, quando ele terminou seu segundo mandato na Presidência do Supremo Concílio da IPB, a crise estava longe de ficar arrefecida, e, por isso, Boanerges Ribeiro se recandidatou mais uma vez, para um terceiro mandato consecutivo na Presidência do Supremo Concílio da Igreja, algo sem precedente histórico. Ele só deixou a direção em 1978, depois de doze anos na presidência da igreja, mas deixando um de seus homens fortes, Paulo Breda Filho, em seu lugar. Nesse ano de 1978, quando o governo do país passava para um presidente militar que se comprometeu a encerrar o período dos governos militares, João Baptista de Oliveira Figueiredo, e o governo da igreja saía das mãos do caudilho que a controlou com mão forte por doze anos, parecia que a crise da igreja entrava em um período de arrefecimento. O governo Figueiredo trouxe a anistia no plano político. Mas na igreja não houve anistia alguma. Mesmo assim, os ânimos estavam um pouco mais distendidos. Em 1984, com a passagem do governo do país novamente para mãos civis, parecia que o período de arroubos autoritários e inquisitoriais no país havia claramente terminado e que esse fato teria reflexos dentro da igreja. Mas não é certo quando o espírito que inspirou esses período cessou de existir dentro da IPB — se é que cessou.
O livro de João Dias de Araújo, Inquisição sem Fogueiras, que tem o subtítulo de “Vinte anos de história da Igreja Presbiteriana do Brasil (1954-1974)”, também cobre duas décadas da história da igreja, com sobreposição de dez anos com o período que me interessa mais de perto (os anos de 1964 a 1974).
O fato de me concentrar nessa crise, ou nesse conjunto de crises, da IPB não quer dizer que pretenda ignorar crises semelhantes na IPIB e nas principais igrejas presbiterianas americanas. Em 1968 escrevi, quando fazia o Mestrado no Pittsburgh Theological Seminary, em Pittsburgh, PA, USA, dois longos trabalhos (mais de cem páginas cada um) sobre a Controvérsia Conservadora / Liberal (também chamada de Controvérsia Fundamentalista / Modernista) e sobre o Evangelho Social no seio do protestantismo, em especial do presbiterianismo, americano. Ambos os trabalhos foram motivados por minha vivência na IPB de 1964 a 1966. Estou, portanto, de certo modo, retomando a minha história, ao voltar a lidar com essas questões. Na realidade, como os leitores da página e participantes do grupo de discussão poderão perceber, essas questões sempre estiveram na minha mente, como provam artigos escritos ao longo desse período inteiro. Embora na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), de 1974 até 2006, eu estivesse envolvido primariamente com Filosofia e Educação, publiquei sobre educação e doutrinação religiosa e política, lidei com questões epistemológicas relacionadas ao processo hermenêutico, tratei de questões relacionadas ao dogmatismo e ao ceticismo, estudei o Iluminismo Europeu para entender quando é que se criou o clima intelectual que, de um lado, permitiu o surgimento da Alta Crítica da Bíblia e da Teologia Liberal, e, do outro, criou a necessidade de uma Apologética Cristã moderna, que confronta o racionalismo crítico, o ceticismo e o relativismo na epistemologia, bem como os métodos e pressupostos da ciência moderna — todos esses, temas relevantes para as questões que serão aqui abordadas.
Como participante em uma parte dessa crise, ou desse conjunto de crises, pretendo não só recontar a história da igreja, mas expandi-la (e, espero, enriquecê-la) com minha história e experiência pessoal. O trabalho, portanto, vai misturar, com frequência, história e biografia. Estou convicto de que isso o enriquecerá — embora esteja certo de que muitos leitores, em especial os de pendores mais academicistas, possam me criticar por mesclar história e biografia.
2. O Contexto
A. Mais Distante e Mais Amplo
Desde que comecei a me interessar pela História da Igreja Cristã e do Pensamento Cristão me fascinaram as divisões — normalmente chamadas de cisões ou cismas — dentro da igreja, e o estudo dessas divisões me levou a me interessar pela questão da diversidade de ideias que estavam por trás dessas divisões.
Também me fascinou, e talvez até mais, o caminho percorrido para que, da diversidade de ideias inicial, se chegasse à construção da ortodoxia, que permitiu que a maior parte das ideias integrantes dessa diversidade de ideias pudesse vir a ser rotulada, estigmatizada e perseguida como heresia.
Confesso que desde muito cedo no meu estudo da História da Igreja e do Pensamento Cristão desenvolvi uma grande simpatia pelos criativos e corajosos pensadores divergentes que vieram a ser considerados hereges pelos ortodoxos.
Há cerca de um pouco mais de quatro anos empreendi um projeto, completado em 2017, de escrever uma História da Igreja Antiga (dos Primórdios até a Queda do Império Romano no Ocidente), focando exatamente a questão da diversidade inicial de ideias (que pode ser vista até mesmo no Novo Testamento e nos escritos Apócrifos mais antigos) que existiu até que a Igreja Cristã alcançou o respaldo do poder político com a conversão do Imperador Constantino em 312. O endosso político e o apoio financeiro, organizacional e jurídico do Império, de que a igreja passou a dispor, e o incômodo que a diversidade de ideias causava para o Imperador, por representar perigo de dissensões e conflitos, e, em última instância, instabilidade política e até mesmo guerra, levou a Igreja e o Império a um esforço conjunto concentrado de construção da Ortodoxia, que começou com o Concílio Ecumênico de Nicéia, em 325. Esse concílio foi presidido pelo próprio Imperador, dada a importância que ele dava à resolução em especial da questão da Divindade de Cristo. Não sendo teólogo, ele não percebeu que, resolvida (da forma que essas coisas são resolvidas) a questão da Divindade de Cristo, criava-se um outro problema: o Problema do Biteísmo, que oportunamente (com o reconhecimento também da Divindade do Espírito Santo) se tornou o Problema do Triteísmo, que ficou conhecido como o Problema da Trindade (que só foi resolvido, novamente da forma que essas coisas são resolvidas) no Concílio de Calcedônia, 126 anos depois, em 451.
Com a construção da ortodoxia, aquilo que era apenas diversidade e pluralismo de ideias passou a ser heresia — algo a ser identificado, proibido, estigmatizado, e, se necessário fosse, perseguido manu militari — com a ajuda do Império, agora tornado o braço político e militar de uma igreja que, até há pouco, havia carecido de importância política e de instrumentos de poder e força para combater aqueles que ela considerava discordantes e divergentes dentro da igreja. (Sem Calcedônia, Michel Serveto não teria sido queimado).
Desde então, na Igreja Cristã, seja no âmbito maior da própria Religião Cristã, o Cristianismo, seja no âmbito mais reduzido de movimentos regionais (como o Cristianismo Ocidental e o Cristianismo Oriental), ou em cada uma das Principais Sés que constituíam a chamada Pentarquia (Roma, Constantinopla, Alexandria, Antioquia e Jerusalém), ou mesmo de Sés menos importantes ou mesmo igrejas locais que não eram sede de bispado, com surpreendente frequência e facilidade vieram a acontecer divisões e cismas — oficiais e declarados ou mais ou menos subterrâneos e mal disfarçados. Os conflitos entre o Cristianismo Oriental, que falava e escrevia grego, e o Cristianismo Ocidental, que falava e escrevia latim, existiu desde os primórdios e só veio a se resolver com a divisão da Igreja Cristã em dois grandes ramos, em 1054: o Oriental, grego-falante, que se denominou Ortodoxo, e o Ocidental, latino-falante, que se denominou Católico.
Essa divisão de 1054, que parece ser definitiva (em 34 anos completará mil anos) rachou em dois um Cristianismo até então (precariamente) unificado. Dali para frente passaram a existir claramente “dois Cristianismos”: o Cristianismo Ocidental, dito Romano (porque tinha sede em Roma) e o Cristianismo Oriental, dito Bizantino (porque tinha sede em Constantinopla, cujo nome era conhecido também como Bizâncio, o nome do local em que Constantinopla foi construída por Constantino). Com a queda de Constantinopla na mão dos turcos em 1453, a sede da Igreja Bizantina saiu do Bizâncio e perambulou por países mais ou menos próximos, como a Grécia, indo parar, finalmente, em Moscou, na Rússia. Por isso se fala, muitas vezes, em “Igreja Ortodoxa Grega” ou “Igreja Ortodoxa Russa”. Hoje a Igreja Ortodoxa tem ramos importantes em vários lugares, inclusive na Turquia, que abrigava sua sede original (posto que, onde era Constantinopla, floresce hoje a bela Istambul — Constantino soube bem escolher o lugar onde construiria sua cidade; pena que ela não carregue mais seu nome).
Várias outras divergências e separações ocorreram no Cristianismo Ocidental antes das Reformas do século 16. Alguns dos movimentos que as provocaram são geralmente chamados de pré-reformatórios. Entre eles temos o movimento dos Cátaros ou Albigenses, o dos Valdensiasnos, com Pedro Valdo, ambos a partir do século 12, o dos Lolardos, com John Wycliffe, na Inglaterra, no século 14, o Hussitas, com Jan Hus, na Morávia, no século 15, etc. Todos eles foram rapidamente declarados heréticos pela Igreja Católica e, no caso de um deles, a Igreja Católica matou o líder, Jan Hus, na fogueira. E, desde as Reformas do século 16, divergências, conflitos e separações foram coisas que nunca faltaram, em especial dentro do Protestantismo — que poderia bem ter sido um movimento unificado, em vez de plural, pluralíssimo, mesmo, não fosse a importância dada a detalhes de doutrinas, e, naturalmente, às vaidades pessoais. No início do século 16 a língua franca ainda era o Latim. De certo modo foram as Reformas Protestantes que promoveram as línguas nacionais, como o Alemão, o Francês, o Inglês, o Holandês.
Assim, o que se chama, genericamente, de Protestantismo é resultado de uma cisão dentro da Igreja Ocidental, dita Católica, de fala Latina — até aquela ocasião o único ramo do Cristianismo Ocidental. Consumada a cisão, entre 1517 e 1555, criou-se um novo ramo do Cristianismo: o Ramo Reformado, ou Evangélico, ou Protestante, que, como acabei de ressaltar, nunca foi um ramo unificado, nem mesmo muito unido, dividindo-se em luterano, calvinista, anglicano, radical, etc. Outros sub-ramos surgiram rapidamente, no devido tempo: batistas, menonitas, metodistas, adventistas, pentecostais, etc. Curiosamente, foi o ramo suíço-francês-calvinista da Reforma, o último movimento significativo de reforma criado no século 16 (depois do alemão-luterano, do suíço-alemão-zwingliano, do suíço-alemão-moraviano-anabatista, e do inglês-anglicano), que herdou, em alguns países, o nome de “Igreja Reformada” (ramo esse que, especialmente nos Estados Unidos e no Brasil, é predominantemente presbiteriano).
Mas, é bom lembrar, sempre houve divergências e cisões dentro do Cristianismo — mesmo do Cristianismo nascente, cuja identidade não estava ainda plenamente estabelecida. Por volta do ano 50 ficou caracterizado, no chamado Concílio de Jerusalém, um evento descrito em Atos dos Apóstolos cap. 15 e comentado por Paulo na Epístola aos Gálatas cap. 2, o princípio de uma divisão entre Cristãos Judaizantes, com sede em Jerusalém, e Cristãos Gentios, com sede em Antioquia. Paulo era claramente o líder desta facção, a outra sendo liderada por Pedro ou por Tiago, irmão de Jesus. Essa divisão, segundo tudo indica, não se consumou, por uma razão simples. Os Cristãos Judaizantes viam o Cristianismo não tanto como uma religião independente, mas como um ramo (uma seita) do Judaísmo. Ao concordarem, no Concílio de Jerusalém, com a validade do Cristianismo Gentio, estavam, na realidade, sacramentando uma cisão dentro do Judaísmo — o que torna o próprio Cristianismo, originalmente, basicamente um cisma dentro do Judaísmo. Os Cristãos Judaizantes acabaram sendo absorvidos pela nova religião (o Cristianismo Gentio virou apenas Cristianismo) ou, então, foram reabsorvidos pelo Judaísmo.
Essa longa introdução ao tema das divergências, dos conflitos e das cisões dentro do Cristianismo já serve de explicação para o meu interesse no assunto.
B. Mais Próximo e Mais Estreito
Émile G. Leonard [1], historiador francês do protestantismo brasileiro, afirmou, perto do final de seu conhecido livro, O Protestantismo Brasileiro [2], que a “Questão Doutrinária” dos anos 1938-1942, dentro da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) representava “a última crise digna de nota no protestantismo brasileiro” [3]. Ele provavelmente escreveu isso em 1950 [4].
A “Questão Doutrinária” foi um conjunto de acirradas controvérsias doutrinárias que surgiram na a Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB) — não na IPB — ao longo de cinco anos, começando em 1938, quando a IPIB tinha meros 35 anos, e que acabaram por transformá-la em três igrejas:
- A igreja original, que havia sido criada em 1903, a partir de uma divisão da Igreja Presbiteriana do Brasil, e que manteve o seu nome, continuando a ser chamada de Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (IPIB);
- A Igreja Presbiteriana Conservadora (IPC), criada em 1940, que, como o nome indica, era mais conservadora do que a IPIB;
- A Igreja Cristã de São Paulo (ICSP), criada em 1942, que era mais liberal do que a IPIB, e que tirou até o termo “Presbiteriana” do nome, era constituída, em sua maioria, por pastores e presbíteros que também eram professores universitários e intelectuais [5].
Embora a divisão de uma igreja em geral tenha mais de uma causa real e declarada [6], o pomo de discórdia (e, portanto, a causa ostensivamente invocada), em 1938, para o início dos embates foi uma questão que hoje, felizmente, pouca gente discute — mas que na época parecia ser da maior importância: qual o destino final dos ímpios, isto é, daqueles que, no Juízo Final, vierem a ser condenados? Irão eles padecer “penas eternas”, isto é, sofrer as piores agruras, o tempo todo, por toda a eternidade, ou serão eles simplesmente “aniquilados” depois de reprovados em Juízo? Por incrível que pareça, a aniquilação total parece uma pena bem mais benevolente do que a alternativa [7]. Não nos esqueçamos que por detrás dessas brigas todas estava Calvino, que, quando da execução de Serveto, considerou a decapitação do espanhol uma pena mais branda…
Léonard chamou essa de “a última crise digna de nota no protestantismo brasileiro”. Mal imaginava ele que a Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), igreja mãe da IPIB, faria eclodir uma megacrise que, no devido tempo, assumiu dimensões inquisitoriais, apenas quatro anos depois de ele declarar pacificado o protestantismo brasileiro. Essa megacrise iria durar pelo menos 30 anos (1954-1984) e, de certo modo, produz efeitos retardados até hoje!
João Dias de Araújo, falecido recentemente [8], pastor presbiteriano do mais alto quilate, publicou em 1975 um livrinho que considero extremamente importante, com o sugestivo título de Inquisição sem Fogueiras: Vinte Anos de História da Igreja Presbiteriana do Brasil (1954-1974) [9]. A crise, como eu disse, durou pelo menos dez anos mais do que esses 20 anos que ele aponta. Ela continuou, pelo menos, até que terminasse a Ditadura Militar brasileira (final de 1984). Mas seus after shocks ainda se fazem sentir até hoje. Talvez seja necessário que morram os que nela se envolveram para que as novas gerações, não filhas da crise, possam esquecê-la ou transcendê-la por completo. Ou seja: se eu estou certo, o fim da crise está perto…
João Dias de Araújo chamou essa megacrise de uma “Inquisição Sem Fogueiras”. O fato de ela não ter tido fogueiras, porém, não a tornou menos inquisitorial. Na verdade, foi uma crise para ninguém botar defeito. Envolveu dissolução de presbitérios e mesmo de sínodos, perseguição e expulsão de pastores e até de presbíteros, expulsão de professores de seminário e até mesmo de reitores, extinção de seminários, fechamento de jornais e revistas, recebimento em doação, perda para o Governo do Estado de São Paulo, e recuperação do Instituto Mackenzie (hoje Instituto Presbiteriano Mackenzie), que compreende a Universidade e os Colégios do grupo, envolvimento de militares na administração da Igreja e do Mackenzie, etc.
Já bem no final do período (em 1978), a crise resultou em cisma, com a saída daqueles que vieram a formar a Igreja Presbiteriana Unida (IPU) [10].
Em termos de violência institucional e verbal, e mesmo de geração de ódio, essa megacrise deixou para trás até as grandes crises e cisões do presbiterianismo americano — em que crises nunca faltaram, crises essas que, em algumas ocasiões, envolveram até mesmo um candidato (por três vezes, todas sem sucesso) à Presidência dos Estados Unidos, William Jennings Bryan.
Quis a providência divina, ou quem sabe o destino, que eu fosse uma das (admitidamente menores) vítimas dessa inquisição. (Houve vítimas muito maiores do que eu – algumas delas, trágicas).
João Dias de Araújo informa, em seu livro, que, em 1966, “[foram] expulsos cinco professores e trinta e nove alunos do Seminário Presbiteriano de Campinas (SPC), porque não aceitaram a investigação da Comissão Especial de Seminários (CES)”. Bem… talvez não tenha sido só por isso. Mas esse foi o pretexto utilizado: desobediência à autoridade constituída.
Eu fui um dos 39 alunos expulsos. Meu nome está lá devidamente registrado em Inquisição sem Fogueiras [11]. Isso se deu em Agosto de 1966. Faz cinquenta e quatro anos neste ano de 2020. A alguns pode parecer estranho, mas orgulho-me de ter estado de um lado, naquela crise, que nunca me envergonhei de ter escolhido — embora minha escolha tenha me colocado fora da IPB naquele mesmo ano de 1966. Estou convicto de que o fato de ter ficado fora da IPB durante a maior parte dessa crise me poupou de muito problema, desgosto e sofrimento. O fato de eu estar lidando com essa questão agora, mais de 50 anos depois de ter saído da IPB, indica, porém, que tenho ainda necessidade de amarrar alguns fios soltos e acertar algumas contas.
C. História Oficial da Crise
A IPB criou, já faz um bom tempo, o cargo de “Historiador Oficial”. Ocupa o cargo atualmente Alderi Souza de Matos – um bom historiador e uma pessoa agradável.
No Prefácio de um de seus livros, ao qual farei referencia em seguida, Alderi Souza de Matos diz o seguinte — a citação é meio longa, mas é importante no contexto:
“É difícil para um historiador, principalmente o historiador oficial da denominação, tratar com objetividade e isenção de um período ainda recente e vivo nas memórias de muitos que participaram dessas lutas. Um estudioso externo, alheio à igreja e sem compromissos com ela, fica numa posição mais confortável. Apesar dessas dificuldades, houve um esforço no sentido de retratar de maneira fiel e cuidadosa a caminhada da igreja neste meio século [1959-2009]. Buscou-se também abordar essa época de maneira honesta, apontando conquistas e falhas, acertos e desacertos, para que a história não seja uma mera enumeração de eventos, mas um recurso didático e educativo para os presbiterianos oficiais. O autor sabe que provavelmente não agradará a todos. Haverá aqueles que lamentarão certas referencias, omissões ou enfoques, mas o presente relato é o melhor que pode oferecer, diante das dificuldades do tema.
São comuns as críticas às chamadas histórias institucionais, como é o caso desta obra. A razão é que tais relatos, ao fazerem o registro ‘oficial’ da história de uma organização, tendem a dourar a pílula, apresentando uma versão excessivamente otimista e ufanista dos fatos. Evidentemente, este livro não tem tal objetivo. Sua perspectiva é simpática ao tema, ou seja, o autor escreve como alguém que, antes de ser o historiador da igreja, é um membro da mesma, pertencendo a uma quarta geração de presbiterianos. Portanto, sua atitude é diferente [da] de alguns autores que têm escrito sobre o período em tela de maneira agressiva e rancorosa. Todavia, essa atitude simpática não impede, ao mesmo tempo, uma abordagem serena e equilibrada dos acontecimentos, na certeza de que podem ser ricos de ensinamentos para a presente geração e para aquelas que a seguirão.” [12]
Considero essa passagem extremamente sensata. Embora tenha sido, não sou, desde 1966, membro da IPB. E sou um daqueles que, não sendo membro da igreja, muito menos seu historiador oficial, está “numa posição mais confortável”. Embora tenha meus motivos para sentir um certo rancor da IPB, pela forma com que fui tratado em 1966, e pela forma (às vezes pior) com que ela tratou vários colegas e amigos meus e alguns de meus professores por quem tinha grande estima, muito tempo já passou, e a vida me foi extremamente boa, para que eu fosse agressivo ao tratar do tema. Espero tratar do assunto da mesma forma que Alderi Souza de Matos: de forma serena e equilibrada, tão fiel, cuidadosa, objetiva e isenta quanto me é possível. Sempre tive simpatia pelo movimento presbiteriano, mesmo quando não me conformava com a direção em que algumas das igrejas desse movimento caminhavam. Sinto, pela figura de Calvino, enorme simpatia — mesmo quando discordo de algumas de suas teses teológicas e apesar do affaire Serveto, que eu considero uma mácula na imagem do reformador. E considero a República de Genebra minha pátria no mundo. Sempre que lá estou (e nos últimos 30 e poucos anos estive diversas vezes), não deixo de visitar a Catedral de São Pedro, o Muro dos Reformadores, a Universidade [antiga Academia] de Genebra, fundada por Calvino. E de passar em frente ao local em que ele morou (mesmo que a casa que lá existe não seja a original).
Mas também visito o castelo de Voltaire, em Ferney-Voltaire, na vizinha França, para não me esquecer de que, como dizia David Hume, amigo de Voltaire, antes de ser filósofo (e aprendiz de teólogo), sou gente, sou homem. E, sendo homem, como dizia Terêncio, nihil humanum a me alienum puto — nada que é humano me é alheio. Digo isso para ressaltar que, embora não tenha rancor pela IPB, tenho enorme desprezo moral por algumas das pessoas que a dirigiram no período que pretendo discutir — e não vou conseguir esconder esse desprezo (e nem tentar).
Na passagem citada, Alderi Souza de Matos observa que seu livro provavelmente não agradará a todos, alguns lamentando a inclusão de “certas referências”, outros criticando a omissão também de “certas referências”, etc. No meu caso, o que me desagrada em seu livro são determinadas omissões, que eu vou destacar a seguir.
Reconheço que um livro, qualquer que seja, mas especialmente de história, não pode cobrir tudo, mesmo num período limitado, como 50 anos. Há que se fazer escolhas, selecionar tópicos e materiais, deixar coisa de fora.
Nos filmes americanos envolvendo cenas de tribunal, testemunhas, quando chamadas a depor, juram, em cima da Bíblia, “dizer a verdade, toda a verdade, e nada mais do que a verdade”. Historiadores, inclusive os oficiais, não precisam fazer juramento semelhante. Mas se espera que digam a verdade e não digam nada mais do que a verdade. Contudo, não são obrigados a dizer toda a verdade — nem mesmo toda a verdade que conhecem.
O problema é o que incluir e o que deixar de fora. E, para isso, reconheço, não há regras totalmente objetivas. Como se diz de árbitros esportivos, também de historiadores: muitas vezes há que se fazer “a judgment call”: uma decisão subjetiva, baseada no que se percebe, valoriza, sente, acha certo. No futebol hoje há o VAR para conferir. Na história, nem sempre.
Estou com Alderi Souza de Matos nessa questão — embora meus “judgment calls” possam ser diferentes dos dele em alguns casos, simplesmente porque eu estive envolvido neles e eles me afetam de uma forma especial que não diz nada para ele.
D. Uma Questão que me Preocupa e Intriga
Uma publicação oficial da IPB, escrita por Alderi Souza de Matos (pastor, como os historiadores anteriores da IPB [13]), sob o título Uma Igreja Peregrina: História da Igreja Presbiteriana do Brasil de 1959 a 2009 [14], também conta uma história que se sobrepõe em quinze anos (1959-1974) com história contada por João Dias de Araújo. Mas Alderi Souza de Matos omite, em sua narrativa, a expulsão dos 39 alunos do Seminário Presbiteriana de Campinas. Não diz uma palavra sobre o fato, embora discuta o contexto em que essa expulsão se deu.
Ao discutir os anos 1966-1970 na vida da IPB, que ele descreve, eufemisticamente, como os anos da “Reação Conservadora”, Alderi Souza de Matos informa o seguinte, a propósito da CES (“Comissão Especial de Seminários” [15]):
“A CES foi instalada em Fortaleza [cidade que sediou a reunião do Supremo Concílio da IPB em 1966, em cuja ocasião a comissão foi criada], onde se reuniu duas vezes. O Seminário do Norte, atendendo a ofício da comissão, tomou as medidas necessárias quanto ao corpo discente. [Que medidas seriam essas? O autor não esclarece.] . . . O Reitor do Seminário de Campinas, Rev. Júlio de Andrade Ferreira, renunciou ao seu cargo no início de agosto [de 1966] e a Congregação dos professores, com duas exceções [o autor não indica, mas as exceções foram Américo Justiniano Ribeiro e Waldyr Carvalho Luz], declarou que não receberia a comissão, recebendo por escrito a solidariedade de 39 alunos” [16].
A CES foi uma excrescência criada pelo Supremo Concílio da IPB em sua reunião de 1966, em Fortaleza, em que foi eleito Presidente do Supremo Concílio (embora ele se achasse “Presidente da IPB”), Boanerges Ribeiro (colega de Seminário de meu pai no SPS).
Eis o teor da decisão do Supremo Concílio de Fortaleza (1966) acerca dos Seminários:
“O Supremo Concílio RESOLVE:
1) Reconhecer que uma situação de fato existe que compromete o futuro da Igreja.
2) Declarar que, embora respeitando o foro íntimo de cada indivíduo, a IPB [Igreja Presbiteriana do Brasil] não entende que a liberdade de exame implique na abertura de suas portas a toda sorte de dúvidas e heresias.
3) Determinar que os professores dos seminários da IPB se dediquem ao preparo intelectual e espiritual de seus alunos e se abstenham de propagandas e práticas ecumênicas e ideológico-políticas.
4) Determinar às Congregações que cancelem as matrículas de todos os alunos cujas ideias ou cuja conduta sejam havidas pelas Congregações de professores ou pelas entidades superiores da administração incompatíveis com os padrões éticos e doutrinários da IPB.
5) Nomear uma Comissão Especial [CES] com plenos poderes [plenipotenciária] para dar execução às providências desta resolução, podendo, inclusive:
a) Dispensar professores, devolvendo-os aos seus Concílios de origem;
b) Nomear professores e levantar recursos em entendimento com a tesouraria do SC;
c) Reestruturar ou reorganizar Diretorias dos Seminários, de modo que as medidas tomadas se tornem efetivas.
6) Assegurar direitos amplos de defesa aos incriminados, segundo os termos do CI e do CD.
7) Determinar que a Comissão supra se instaure e inicie seus trabalhos no prazo máximo de trinta dias, a contar da data da aprovação.” [17]
Essa Resolução é um total acinte. Nunca se havia testemunhado, dentro da IPB, tamanha afronta às normas que regulam o relacionamento entre as várias instâncias da instituição. A dose foi demasiada até para quem inicialmente tinha simpatias para com os novos dirigentes. Só foi engolida mesmo por quem tinha realmente estômago forte, como Américo Justiniano Ribeiro e Waldyr Carvalho Luz.
O acinte e a afronta são tantos que em algumas transcrições do texto da Resolução do Supremo Concílio em pauta ela foi abrandada através da omissão dos seguintes elementos:
- No item 5:
- Esta parte do item: “podendo, inclusive:
- Dispensar professores, devolvendo-os aos seus Concílios de origem;
- Nomear professores e levantar recursos em entendimento com a tesouraria do SC;
- Reestruturar ou organizar Diretorias dos Seminários, de modo que as medidas tomadas se tornem efetivas”.
- Esta parte do item: “podendo, inclusive:
- No item 6:
- Todo o item
- No item 7:
- Todo o item [18].
A omissão das cláusulas exemplificativas do Item 5 tem o objetivo, evidentemente, de abrandar a impressão negativa sobre os membros da igreja, deixando, em seu lugar, a impressão de que a CES só poderia mexer em alunos (objeto do Item 4), não em professores (a Congregação dos Seminários), nem na Diretoria dos Seminários.
A omissão do Item 6 provavelmente se dá porque a CES de fato não respeitou o direito de defesa de alunos, professores, reitores ou membros das Diretorias dos Seminários.
Até Alderi Souza de Matos, normalmente reservado e comedido, se sente obrigado a dizer, em seu livro, já mencionado, que “nunca na vida da IPB uma comissão havia recebido prerrogativas tão extraordinárias, assumindo funções normalmente reservadas aos concílios superiores e seus tribunais” [19]. Isso é o historiador oficial da IPB dizendo, a propósito de uma decisão da igreja para a qual trabalha.
Fica evidente da passagem de Alderi Souza de Matos citada atrás, que em Agosto de 1966 o SPS tinha (pelo menos) 39 alunos — aqueles que (num raro momento de unidade com seus mestres, menos dois destes) se solidarizaram com a Congregação do Seminário.
Seria uma fantástica coincidência exatamente 39 alunos do SPS expressarem solidariedade com a Congregação do Seminário pela recusa de receber a CES em Agosto de 1966 (fato relatado por Alderi Souza de Matos) e exatamente 39 alunos do SPS serem expulsos da instituição no mesmo mês de Agosto de 1966 (fato relatado por João Dias de Araújo, mas não por Alderi Souza de Matos). Mas Alderi Souza de Matos não nos diz se a solidariedade expressa pelos alunos do SPS teve alguma punição, muito menos que ela resultou na expulsão dos alunos: ele silencia sobre as possíveis consequências desse ato.
No entanto, Alderi Souza de Matos não silencia sobre a expulsão dos professores — embora a chame de “dispensa”. Eis o que ele diz:
“Nos dias 25 a 27 de agosto a CES se reuniu no Seminário de Campinas, sob a presidência do Dr. Marcos Pimenta. . . . Em 21 de setembro, mediante convocação, reuniu-se a diretoria do Seminário de Campinas, composta de representantes de presbitérios. . . . Nessa ocasião foi feita a reforma dos estatutos da diretoria, com base em um anteprojeto da Comissão Especial, sendo criada uma Assembleia com dezoito membros e seis diretores. . . . Compareceram à reunião 38 representantes de presbitérios, 14 dos quais dissentiram do procedimento adotado. . . . A Assembleia, agora composta de representantes dos sínodos e não mais de presbitérios, deveria estudar a situação do seminário e tomar as medidas cabíveis. . . . Nos dias 20 e 21 de dezembro de 1966, reuniu-se extraordinariamente a Assembleia do Seminário de Campinas. . . . Foram dispensados os professores Revs. Júlio Andrade Ferreira, Samuel Martins Barbosa, Elizeu Narciso e Francisco Penha Alves. Foi reeleito reitor o Dr. Eduardo Lane, que já havia assumido a reitoria com o pedido de exoneração do Rev. Júlio. Como deão foi eleito o Rev. Américo J. Ribeiro e como bibliotecário o Rev. Waldyr Carvalho Luz. Houve diversos protestos contra a reforma dos estatutos da diretoria e a demissão dos professores, com os quais se solidarizou o Sínodo da Guanabara. Também foi dispensado de suas funções no SPS o Rev. Antonio Marques da Fonseca Júnior. . . . Três dos professores dispensados . . . recorreram à Justiça do Trabalho pleiteando reintegração ou indenização, o que provocou fortes críticas por parte da liderança da IPB. O Sínodo Oeste de São Paulo foi censurado e advertido pela CE-SC por ter apoiado os professores.” [20].
Alderi Souza de Matos não deixa claro que, tendo renunciado ao cargo de Reitor no início de Agosto, Júlio Andrade Ferreira voltou a ser apenas professor da casa (e membro da Congregação do Seminário), onde lecionava Teologia Sistemática. Fica a impressão de que Júlio renunciou de forma totalmente voluntária no início de Agosto, voltou a ser mero professor da casa, e, no final do ano, num procedimento administrativo de rotina, foi dispensado de suas funções. Só a referência ao processo na Justiça do Trabalho indiretamente contradiz essa a impressão. Júlio também era, na época, o que Alderi Souza de Matos é hoje: o historiador oficial da IPB.
Numa rara manifestação de opinião pessoal, Alderi Souza de Matos afirma: “Foi de se lamentar o afastamento dos professores, todos os quais vinham prestando relevantes serviços à igreja” — e fornece uma curta biografia de cada um deles [21].
Sobre a expulsão dos 39 alunos, nenhuma palavra. Mas Alderi Souza de Matos vai fazer referência a alunos no contexto. Comento em um momento.
João Dias de Araújo, porém, não silencia acerca dos alunos. Ele diz, com todas as letras, que, no mês de agosto de 1966, 39 alunos foram expulsos, e dá nome e sobrenome de cada um deles (embora às vezes com pequenas falhas na grafia). E diz também que, no final do ano, em dezembro de 1966, Júlio Andrade Ferreira e quatro colegas professores foram igualmente expulsos (e não apenas burocraticamente “dispensados”). No caso de Júlio Andrade Ferreira, que já havia pedido demissão da função de Reitor cinco meses antes, mas continuava professor, foi o fato da expulsão do cargo de professor, e não uma mera dispensa corriqueira como as que acontecem todos os dias, que justificou, e assim explica, o recurso à Justiça do Trabalho.
Embora a expulsão dos professores tenha sido feita pela recém criada Assembleia, que passou a existir depois da reforma dos estatutos da diretoria do Seminário determinada pela CES, a expulsão, no fundo, como era do conhecimento de todos que viveram esses episódios, foi determinada pela CES, porque os professores (no entender da CES) insultaram os membros da comissão e o Supremo Concílio que a criou, ao aprovar a decisão de “não receber” a CES. Como vimos, a decisão da Congregação foi simplesmente ignorada pela CES, que era plenipotenciária e tinha poderes para expulsar tanto alunos como professores que atravessassem o seu caminho e procurassem dificultar o seu trabalho.
Mas Alderi Souza de Matos não diz uma palavra sobre esse pano de fundo.
E os 39 alunos?
Alderi Souza de Matos deixa claro, por implicação, que em Agosto de 1966 o SPS tinha no mínimo 39 alunos, pois informa que 39 alunos se solidarizaram com a Congregação em sua recusa de receber a CES.
Na verdade, porém, o SPS tinha perto do dobro desse número de alunos. Além dos 39 solidarizantes, havia, em polo oposto, os quinze que haviam assinado o célebre (e nefasto) “Manifesto dos Quinze” (que Alderi Souza de Matos menciona, mas em outro contexto [22], apesar de o contexto ser o mesmo em que ocorreu a expulsão dos alunos — voltarei à questão), e havia, se bem me lembro, pelo menos mais uns outros pelo menos 20 alunos, principalmente do primeiro ano, que ficaram “em cima do muro”, nem denunciando colegas, como os 15 manifestantes, nem se solidarizando com a maioria da Congregação (como os trinta e nove expulsos). Se somarmos 20+15+39, temos 74 alunos como o número de alunos em meados de 1966. Essa é uma estimativa minha, mas é bem fundamentada.
Alderi Souza de Matos informa, na mesma página [23], que “em 1967” o SPS tinha 31 alunos (que certamente incluía os quinze do malfadado Manifesto dos Quinze. Se em Agosto de 1966 havia pelo menos 39 (que assinaram a carta de solidariedade), mais 15 alunos (que claramente não a assinaram), ou seja, pelo menos 54 alunos (e eu acredito que o número real ficava entre 70 e 75 alunos, por causa dos estimados 20 primeiro-anistas que ficaram em cima do muro), e Alderi Souza de Matos omitiu o fato de que os 39 solidarizantes foram expulsos por causa de sua solidariedade aos professores, ele tem a obrigação de explicar aos seus leitores como um corpo discente de cerca de 70-75 alunos caiu, de um ano para o outro, para bem menos do que a metade. Nós sabemos que a diferença são os alunos expulsos, e Alderi Souza de Matos sabe também, só que ele optou por ocultar o fato.
Mesmo concedendo que alguns se formaram no final de 1966 (eu acredito que nem houve formatura, mas é possível que alguns, no máximo uns cinco, tenham se formado na Secretaria), mas também admitindo que, apesar das lutas internas na IPB, uma nova turma deve ter entrado no início de 1967 (turma de quantos?), há um problema de contabilidade acadêmica a explicar, que Alderi Souza de Matos não explica. João Dias de Araújo explica, com todas as letras, todos os nomes, e todos os números.
João Dias de Araújo diz, em seu livrinho, acanhado, do ponto de vista gráfico (datilografado em máquina de escrever, com diagramação mínima, e impresso em mimeógrafo), perto do livro de Alderi Souza de Matos, que um líder da Igreja Evangélica de Espanha, ao ouvir que a IPB havia expulsado apenas de um de seus seminários nada menos do que 39 candidatos ao ministério, mais da metade, observou que esse número, do qual a IPB abria mão, era maior do que a totalidade dos candidatos ao ministério que a Igreja Evangélica espanhola tinha [24]. João Dias de Araújo comenta: “A saída dos 39 alunos comprometeu a futura liderança da igreja” [25]. Mesmo ficando apenas no plano quantitativo, não há a menor dúvida.
Embora o SPS não tenha sido fechado (como aconteceu com o Seminário do Centenário), ele foi seriamente mutilado. No início de 1967 seu corpo discente estava reduzido a menos da metade do que era em Agosto de 1966. Entre os 39 expulsos, quase a totalidade era do 3o, 4o e 5o anos. Uns poucos alunos do 5o ano resolveram não resistir e protestar em Agosto de 1966, porque lhes faltava apenas um semestre para se formarem. Eu estimo que seu número não era maior do que cinco. É compreensível a decisão deles. Mas a formatura de 1966 foi mutilada — e a de 1967 e 1968 (esta, a que seria a minha) simplesmente não existiu.
Pior do que isso. O corpo docente foi mutilado também. Ficaram apenas dois professores. Os outros cinco foram expulsos poucos dias antes do Natal de 1966 (20 e 21 de Dezembro). Isso significa que a nova diretoria do SPS foi obrigada a contratar a toque de caixa novos professores. Ela recorreu a pastores da região, nem todos bem preparados para assumir, de uma hora para a outra, cadeiras do Curso de Teologia.
Além disso, como assinala João Dias de Araújo, “o seminário se tornou uma escola vigiada, por dentro e por fora. Um clima de terror foi implantado. A liberdade acadêmica foi extinta.” [26] Não é fácil nem agradável trabalhar em clima de terror, em que você sabe que qualquer coisa que você diga, que venha a ser considerada “politicamente incorreta”, pode representar sua punição e até mesmo a sua expulsão.
É isso. Por enquanto.
Notas
[1] Émile-Guillaume Léonard trabalhou na Universidade de São Paulo (USP) de Maio de 1948 a Dezembro de 1950, em decorrência da chamada “Missão Francesa”. Marcone Bezerra Carvalho publicou uma biografia dele que foi publicada em Fides Reformata (XVII, no 2, 2012), pp. 27-44. O texto completo da biografia pode ser encontrado em:
https://cpaj.mackenzie.br/wp-content/uploads/2020/01/2-Émile-G.-Léonard-introdução-à-sua-vida-e-obra-Marcone-Bezerra-Carvalho.pdf.
[2] Émile G. Léonard, O Protestantismo Brasileiro (3a edição, ASTE, São Paulo, 2002). A primeira edição publicada na forma de livro pela ASTE (Associação dos Seminários Teológicos Evangélicos) é de 1963, mas o estudo de Léonard apareceu originalmente na forma de artigos publicados nos números 5 a 12 da Revista de História da Universidade de São Paulo (USP) durante os anos de 1951 e 1952 (quando ele já não estava mais no Brasil).
[3] Op.cit., p. 325 (da terceira edição, que é a que estou usando). O itálico foi acrescentado.
[4] Imagino que os artigos foram escritos por volta de 1950, mesmo que concebidos um ou dois anos antes. Em Dezembro de 1950 ele encerrou sua permanência no país e voltou para França. Dificilmente teria escrito os artigos depois de seu retorno, dadas as múltiplas ocupações que o esperavam.
[5] A Igreja Presbiteriana Conservadora existe até hoje. A Igreja Cristã de São Paulo deixou de existir quando morreram os que a criaram. A “Questão Doutrinária” é descrita e analisada por Léonard na obra citada, pp. 319-327 (mas todo o Capítulo 9, pp. 275-340 é relevante), e também por Éber Ferreira Silveira Lima no Capítulo 3 do seu interessante livro Protestantes em Confronto: Conservadores e Liberais na Época de Vargas (1930-1945), publicado pela editora da IPIB (Pendão Real, São Paulo, 2005), pp. 88-107.
[6] Levantei essa questão, e sugeri, superficialmente, algumas respostas, no artigo “Por que se Dividem as Igrejas”, publicado em meu blog Liberal Space, em 3/11/2014, e que pode ser encontrado em:
https://liberal.space/2014/11/03/por-que-se-dividem-as-igrejas/.
[7] O magnífico filme argentino El Secreto de sus Ojos, ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 2009, toca nessa tese: a morte muitas vezes é uma punição branda demais para determinados crimes — sofrimento contínuo e inevitável o tempo todo sendo uma pena muito mais dura. . . Numa outra linha, é interessante que a “condenação dos ímpios” não tenha sido questionada, nesse contexto, por defensores do chamado “universalismo”, tese de que, no final dos tempos, Deus, em sua infinita bondade (bem como onisciência e onipotência), encontrará uma forma de salvar a todos, os pios (naturalmente) e mesmo os (até ali) ímpios.
[8] Em 9 de Fevereiro de 2014, na cidade de Feira de Santana, BA.
[9] Joás Dias de Araújo, Inquisição sem Fogueiras, 1a. edição, feita pelo próprio autor, Recife, 1975; 2a. edição, Salvador, Novembro de 1982, aparentemente também pelo próprio autor; 3a. edição (Instituto Superior de Estudos da Religião, Rio de Janeiro, 1985), com o subtítulo de Vinte Anos de História da Igreja Presbiteriana do Brasil (1954-1974); eu possuo uma cópia dessa; ignoro se as duas primeiras edições tiveram subtítulo, porque nunca as vi; 3a. edição, revista e atualizada (Fonte Editorial, São Paulo, 2010), também com um subtítulo, só que agora diferente: História Sombria da Igreja Presbiteriana do Brasil; eu possuo uma cópia dessa edição também; 4a. edição, sem qualquer outro qualificativo (Resistência Reformada, sem local indicado, 2020), com o subtítulo voltando a ser o que era na 3a. edição não revista e atualizada, com prefácio de Cláudio Márcio Rebouças da Silva e Posfácio de Ricardo Quadros Gouvêa; possuo uma cópia dessa edição, em formato e-book Kindle da Amazon).
Uma segunda edição do livro de João Dias Araújo saiu datada de Novembro de 1982, e a terceira edição, a que eu possuo, publicada pelo Instituto Superior de Estudos da Religião (ISER), do Rio de Janeiro, de cujo “Corpo Redatorial” fiz parte por um tempo (1974-1975), tem data de 1985.
[10] Nota para os leitores não muito enfronhados com a história do presbiterianismo brasileiro e especialmente paulista. É importante não confundir a denominação Igreja Presbiteriana Unida (IPU), que saiu da IPB, e tem hoje sede em Vitória, ES, com a igreja local conhecida também como Igreja Presbiteriana Unida, de São Paulo (Rua Helvetia, 772), que continua sendo parte da IPB. Na época da divisão entre a IPB e a IPIB, em 1903, a que é hoje a Igreja Presbiteriana Unida era chamada de Segunda Igreja Presbiteriana de São Paulo. A que era a Primeira Igreja Presbiteriana de São Paulo, fundada em 1865, ficou com a IPIB, passando a chamar-se Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo (com sede hoje na Rua Nestor Pestana, 136), sendo conhecida como a Catedral Evangélica de São Paulo. Ela comemorou em 2015 seu sesquicentenário. Tenho o privilégio de hoje ser membro dessa igreja, que frequentei com certa regularidade de 1961 a 1963, quando estudava no Instituto José Manuel da Conceição, em Jandira, SP.
[11] Op.cit., p. 58. Os cinco professores expulsos foram: Júlio Andrade Ferreira (reitor até dias antes da expulsão, como se verá), Samuel Martins Barbosa, Francisco Penha Alves, Antonio Marques da Fonseca Júnior e Eliseu Narciso. Os dois únicos professores não expulsos em 1966, Américo Justiniano Ribeiro e Waldyr Carvalho Luz, foram expulsos oito anos depois, em 1974. Os 39 alunos expulsos foram (em ordem alfabética, não na ordem em que João Dias de Araújo os lista) foram: Antonio Simões Ferreira Filho, Carlos Ferreira Júnior, Celso Martins de Souza, Ciro Rodrigues de Figueiredo, Clodomir Monteiro da Silva, Daniel Martins de Souza, Daniel Nogueira, Dario Pereira Ramos, Dorival Xavier de Oliveira, Edson Lacerda, Eduardo Oscar de Campos Chaves, Edval de Queiroz Matos, Eleny Alves Pereira, Elias Moacir da Costa, Ephraim Santos de Oliveira, Eurico Airton Monteiro, Gofredo Attílio d’Áuria, Henrique de Almeida Lara, Hermes Gonçalves Arana, Ilfeu Veriano Ferreira, Jaime Cleto da Silva, Javan Dias Laurindo, João Batista Pereira, José Alt dos Reis, José Salomão Pereira, Josenir Gomes da Silva, Natanael Maria dos Santos, Obed Júlio Carvalho, Octávio Stradioto, Oscar Pugsley, Paulo da Silva Gomes, Paulo Sérgio Emerique, Reinhold Felippe Ortlieb, Ricardo Swain Alíssio, Rubem Alexandre da Silva, Ubirajara de Campos, Vander Boaventura, Walter Carmelo Zoccoli, Wilson Arroyo. Corrigi os erros de grafia mais evidentes encontrados na listagem de João Dias, mas outros podem ter passado. Também não me lembro de haver dois alunos com exatamente o mesmo sobrenome: Martins de Souza (Celso e Daniel). É possível que tenha havido erro de digitação, porque os dois vêm um (Daniel) depois do outro (Celso) na listagem de João Dias.
[12] Alderi Souza de Matos, Uma Igreja Peregrina: História da Igreja Presbiteriana do Brasil de 1959 a 2009 (Editora Cultura Cristã [a antiga Casa Editora Presbiteriana], São Paulo, 2009), pp. 11-12.
[13] Os historiadores oficiais da IPB em geral são pastores que se interessam pela História da Igreja e, em alguns casos (como o de Alderi Souza de Matos), buscam formação especializada na área.
[14] Op.cit..
[15] Op.cit., pp. 75-76. O SPS, criado em 1888, era o principal seminário da IPB. Perdeu sua condição de principal depois das três gestões de Boanerges Ribeiro à frente do Supremo Concílio da IPB (1966-1970, 1970-1974, e 1974-1978). Esse tempo foi mais do que suficiente para Boanerges Ribeiro fazer um estrago na igreja — usando aqui o que os de fala inglesa chamam de um understatement — cujos efeitos ainda se fazem sentir.
[16] Op.cit., p. 76.
[17] Citado apud João Dias de Araújo, A Inquisição sem Fogueiras, p. 57, que remete a Brasil Presbiteriano, 15.7.1966 ou a Digesto Presbiteriano, 1966, p.53. [Há dúvida, porque as notas de fim de capítulo contêm erros de numeração.] Cita Resolução nessa forma integral, referindo-a Digesto Presbiteriano SC-66-091, Silas Luiz de Souza, Protestantismo & Ditadura: Os Presbiterianos e o Governo Militar no Brasil (1974-1985), Fonte Editorial, São Paulo, 2014, pp. 170-171.
[18] Vide, por exemplo, História Documental do Protestantismo Brasileiro, de Duncan Alexander Reily (3a edição, ASTE, São Paulo, 2003), p. 327. Na 1a edição do livro, de 1993, a passagem se encontra nas pp. 331-332. É lastimável que um livro que reúne documentos da história do Protestantismo no Brasil cite uma resolução tão importante de forma truncada. O próprio historiador oficial da IPB, op.cit., p. 75, afirma que “A Comissão Especial recebeu plenos poderes para dispensar e nomear professores e para reestruturar as diretorias do dos seminários, visando ao cumprimento das medidas da resolução” (ênfase acrescentada). Alderi Souza de Matos lista o nome dos seis membros da CES: “Presbíteros Marcos Machado Pimenta, Henrique Fanstone, Renato Guimarães [Coronel], e Olímpio Adorno Vassão; Pastores Jackson de Souza, Raimundo Loria, e Saulo de Castro Ferreira.”(p. 75)
[19] Op.cit., p. 75.
[20] Op.cit., pp. 76-77.
[21] Op.cit., p. 77.
[22] Op.cit., p. 61. A menção do Manifesto dos Quinze é feita no capítulo anterior ao capítulo em que é discutida “A Reação Conservadora”, deixando a impressão de que o Manifesto não teve relação com a crise de 1966 no Seminário Presbiteriano de Campinas. Eis o texto: “Em 1964 e 1965, a CE-SC concluiu que o problema de disciplina no seminário estava superado e julgou que não era necessário investigar o assunto [a referência aqui é à crise de 1962 do SPS, a que girou em torno de Richard Shaull]. No entanto, ao aproximar-se a reunião do Supremo Concílio, foi publicado [na verdade, distribuído] o Manifesto dos Quinze, em que alguns seminaristas [do SPS, orientados por Waldyr Carvalho Luz] faziam sérias alegações sobre a conduta dos colegas nos aspectos espiritual, doutrinário e ético” (op.cit., p. 61). Alderi Souza de Matos deixa de esclarecer que o Manifesto dos Quinze surgiu em reação aos artigos do jornal O CAOS em Revista, do qual eu era redator.
[23] Op.cit., p. 76.
[24] Op.cit., p. 58.
[25] Idem, ibidem.
[26] Op.cit., pp. 58-59.
Em Salto, 14 de Dezembro de 2020.
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