Escritores que Definiram a Língua de seu País

Em Portugal e aqui no Brasil, consideramos Luís de Camões (1524-1579) o Pai da Língua Portuguesa. Ele publicou Os Lusíadas em 1572, mas publicou muitas outras coisas mais. Mas temos escritores mais modernos, já no século 19, lá e aqui, que formam, de certo modo, uma Trindade de Pais: Eça de Queiroz (1845-1900), em Portugal, e Machado de Assis (1839-1908), aqui no Brasil, no século 19 (Machado entrando um pouquinho no século 20).

Na Espanha, o Pai da Língua Espanhola é Miguel de Cervantes (1547-1616). Ele publicou Don Quijote de la Mancha em duas, partes, em 1605 e 1615. Não sei que escritores modernos poderiam ocupar posições semelhantes às de Eça e Machado em relação à Língua Espanhola de lá para cá (exceto já no século 20).

Na Inglaterra e nos Estados Unidos, certamente William Shakespeare (1564-1616) ocupa a posição de Pai da Língua Inglesa. Há vários escritores modernos, do século 19 e da primeira metade do século 20, que poderiam ocupar posições semelhantes às de Eça e Machado em relação à Língua Inglesa.

Na Alemanha, Martinho Lutero (1483-1546) ocupa a posição de Pai da Língua Alemã, por causa de sua tradução da Bíblia para o Alemão e de seus outros trabalhos. Talvez Johann Wolfgang von Goethe (1749-1832), nos séculos 18 e 19, ocupe posição equivalente à de Eça e Machado na Língua Alemã.

Na Itália, Dante Alighieri (1265-1321) ocupa a posição de Pai da Língua Italiana, por causa da Divina Comédia e de outros escritos.  Não sei que escritores modernos poderiam ocupar posições semelhantes às de Eça e Machado em relação à Língua Italiana.

Na Rússia, Alexander Pushkin, que viveu apenas 38 anos no início do século 19 (1799-1837), é, por alguns, considerado o Pai da Língua Russa. Não o conheço, mas mesmo sem o conhecer, por ter vivido tão pouco, e conhecendo Leo Tolstoy (1828-1910), que escreveu no fim do século 19 e começo do século 20, acho virtualmente impossível que alguém seja visto como maior do que Tolstoy escrevendo na Língua Russa.

O curioso se dá com a França. Não parece que a Língua Francesa tenha um só Pai: tem vários: François Rabelais (1483-1553), Michel de Montaigne (1533-1592), Molière (1622-1673), Jean Baptiste Racine (1639-1699), até o século 17, e, mais recentemente, já no século 19 e começo do século 20, Stendhal (1783-1842), Gustave Flaubert (1783-1842), Honoré de Balzac (1799-1850), Victor Hugo (1802-1885), Charles Baudelaire (1821-1867), Émile Zola (1840-1902); Marcel Proust (1871-1922), são todos escritores de primeiríssima ordem. E olhem que pulei o século 18, com Voltaire (1694-1778), Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), Denis Diderot (1713-1784), e outros philosophes famosos.

Harold Bloom, um dos mais famosos críticos literários americanos, chama a atenção do leitor, no início de seu livro The Bright Book of Life: Novels to Read and Reread, que Cervantes (cuja obra prima ele considera talvez a maior obra literária da segunda metade do segundo milênio, publicou Don Quijote de 1605 a 1615. Em 1605, Shakespeare publicou King Lear, e, em seguida, uma série de obras famosas: Macbeth, Anthony and Cleopatra, Romeo and Juliet, etc. Exatamente no meio desses sucessos literários, foi publicada a tradução da Bíblia para o Inglês chamada de King James Version (KJV): em 1611, que talvez seja o livro mais lido na Língua Inglesa.

Em Salto, 20 de Setembro de 2023



Categories: Liberalism

Leave a comment