A História de Fernão Lopes, um Homem que Amava o Isolamento e a Solidão

Recebi, agora de manhã, por email, uma propaganda, enviada por uma livraria portuguesa chamada Wook, na qual já comprei algumas coisas no passado, de um livro chamado O Outro Exílio: A História Fascinante de Fernão Lopes, da Ilha de Santa Helena e de um Paraíso Perdido (Editorial Presença, julho de 2018), de autoria de A. R. Azzam, tradução para o Português de Ana Vitória Abreu Cardoso.

Nem o texto da propaganda, nem a sinopse do livro que aparece no site da livraria, informa em que língua o livro foi originalmente escrito, nem quem é o autor, A. R. Azzam.

A sinopse do livro (disponível em https://www.wook.pt/livro/o-outro-exilio-a-r-azzam/22100540) informa o seguinte:

“Escudeiro, católico, renegado, mercenário, muçulmano, isolado numa ilha, místico, exilado, ambientalista: quantas vidas teve Fernão Lopes? Em 1506, Fernão Lopes — personagem que viveu cerca de um século depois do célebre cronista seu homónimo — partia rumo à Índia em busca de honra e riqueza. Ali converteu-se ao Islão, casou com uma muçulmana, combateu contra os seus compatriotas, acabando por ser capturado e torturado, em público, por traição. Quando, mais tarde, regressava a Lisboa, decidiu abandonar o navio junto à costa da ilha de Santa Helena, tornando-se no seu primeiro e único habitante. Mas as notícias de Fernão Lopes chegaram aos ouvidos do rei de Portugal, Dom João III, que ordenou que um navio o trouxesse à capital do reino.

Ao chegar, causou tamanha impressão a Dom João III, que lhe foi concedida a possibilidade de realizar um desejo: foi então que pediu permissão para voltar a Santa Helena.

A história do escudeiro Fernão Lopes é um exemplo fascinante de como, quando tudo parece perdido, o que conta é aquilo que somos.

Simultaneamente ela é um relato histórico e uma meditação sobre o isolamento e a solidão, fazendo com que o livro aborde o tema da redenção num dos períodos mais negros da Europa e seja um testemunho da espantosa relação entre o homem e a natureza selvagem.”

Chamaram-me a atenção, nessa sinopse, três frases, em particular.

A primeira, e a mais importante, é a seguinte:

“A história do escudeiro Fernão Lopes é um exemplo fascinante de como, quando tudo parece perdido, o que conta é aquilo que somos.”

A segunda é esta, que é parte final da sinopse:

“Simultaneamente ela [a história] é um relato histórico e uma meditação sobre o isolamento e a solidão, fazendo com que o livro aborde o tema da redenção num dos períodos mais negros da Europa e seja um testemunho da espantosa relação entre o homem e a natureza selvagem.”

A terceira diz o seguinte:

“Em 1506, Fernão Lopes – que viveu cerca de um século depois do célebre cronista seu homónimo – partia rumo à Índia em busca de honra e riqueza.”

Fui verificar quem foi o “homónimo” do personagem que é tema do livro. É um outro Fernão Lopes, que viveu entre ca. 1380 e ca. 1460 (por volta de oitenta anos, portanto, idade significativa para aquele tempo e que foi, durante os anos de 1418 a 1459, “escrivão e cronista oficial do reino de Portugal e o 4° guarda-mor da Torre do Tombo”, segundo nos informa a onipresente, e sempre útil Wikipedia, em Português, (vide https://pt.wikipedia.org/wiki/Fernão_Lopes).

Como nem a propaganda, nem a sinopse, informa em que língua o livro foi originalmente escrito, fui procurar.

Descobri, em um minúsculo artigo na Wikipedia em Português, no endereço https://pt.wikipedia.org/wiki/Abdul_Rahman_Hassan_Azzam), o seguinte sobre o autor:

“Abdul Rahman Hassan Azzam
Função: Secretário da Liga Árabe
Período: 1945 até 1952
Sucessor: Abdul Khlek Hassouna
Nascimento: 1893
Morte: 1976 (83 anos), em Cairo, Egito
Nacionalidade: Egito, Egípcio – Egito (, a partir de 1882), República Árabe Unida Egito (a partir de 1972)
Religião: Muçulmano
Profissão: Embaixador, diplomata
Anos de serviço militar: 1945 a 1952
Graduação: 1915 (109 anos)

Abdul Rahman Hassan Azzam (árabe: عبد الرحمن عزام) (1893 – 1976) [NB a ordem das datas no original] foi um diplomata e político egípcio. Ele foi o primeiro secretário-geral da Liga Árabe, entre 1945 e 1952. Azzam também teve uma longa carreira como embaixador e parlamentar.”

Só isso. Acrescente-se que escreveu vários livros. Mas o artigo da Wikipedia diz uma palavra a respeito de seu livro sobre Fernão Lopes ou mesmo sobre os demais livros do autor. Sua atividade política parece ter obnubilado o seu esforço e a sua atividade na área da literatura. No entanto, a julgar por este livro, parece que seus valores morais, religiosos e políticos parecem lhe haver dado a motivação para escolher seus temas na área literária.

Há um artigo sobre A. R. Azzam, o autor do livro, também na Wikipedia em Inglês (no endereço https://en.wikipedia.org/wiki/Abdul_Rahman_Hassan_Azzam). Esse artigo é muito maior do que o da Wikipedia em Português, e, também, informativo e interessante ao extremo, com informações preciosas sobre a vida pessoal e profissional de Azzam. Mas não toca no livro aqui discutido.

Fui tentar a Amazon. Na Amazon US encontrei a seguinte referência ao livro:

The Other Exile: The Story of Fernao Lopes, St Helena and a Paradise Lost (Icon Books, 2017, [Hardcover]), by Abdul Rahman Azzam (Author)”.

Mas nem mesmo a Amazon US informa se o livro foi originalmente escrito em Inglês ou em alguma outra língua, como, naturalmente, o Árabe. Há várias resenhas de leitores, algumas extremamente bem escritas e muito interessantes, outras, nem tanto. Mas nenhuma informação sobre a língua original do livro.

Por enquanto, ficamos sem saber.

Para concluir.

Resolvi fazer este pequeno artigo no meu blog porque, primeiro, achei o tema do livro interessante e o seu objeto, tanto quanto o seu autor, instigantes.

Mas tenho uma outra razão. Há uns dez dias (se não me engano desde o início deste mês de Março de 2024), o F a c e b o o k parece ter me colocado em algo parecido como estado de liberdade condicional. Sem nenhuma advertência ou notificação prévia, quando tento publicar alguma coisa no meu perfil, o post às vezes entra direto, às vezes, não. Se é uma fotografia de um lugar bonito, compartilhada de algum site que publica apenas fotos desse tipo, normalmente o post entra direto. Faço isso várias vezes, quase todos os dias, sem problema: o post entra direto. Mas se o conteúdo do post é algo de minha autoria, ou, então, um compartilhamento que envolve texto, como o inócuo material “Today in Christian History”, publicado diariamente sob os auspícios da revista Christianity Today, eu recebo uma pequena advertência de que meu material estará sob exame, para verificação, se não viola os padrões do Facebook, e, se não violar, será liberado oportunamente”. Algo assim. A maior parte das vezes o material que não foi publicado para ser examinado simplesmente desaparece. O post fica lá, mas com um buraco vazio no caput, resquício de algo que deveria estar lá, mas foi removido antes de chegar lá. O conteúdo desses posts simplesmente desaparece.

Este artigo mesmo, que escrevi, em uma primeira versão, direto no F a c e b o o k, recebeu a notificação e desapareceu. Estou tendo a pachorra de escrevê-lo novamente, para publicá-lo no meu blog, e, em seguida, tentar publicar um link para o artigo no blog, para ver se, assim, passa. Assim, publicado via WordPress, passou.

Para fazer um teste, tentei publicar novamente o artigo, diretamente, em meu próprio nome. Eis a mensagem que recebi (está em Francês porque meu site do
F a c e b o o k está em Francês, para eu praticar a língua:

Votre publication est en cours de traitement. Nous vous informerons quand elle sera prête à être examinée.

Não voltou, nem voltará.

Chamei a atenção de meu amigo Dr. Ricardo Kassin, advogado, que já me socorreu contra o F a c e b o o k no passado, para que acompanhe o que parece que vai ser uma novela com enredo que, dado o clime político da nossa dita nação, pode ser meio complicado.

Eduardo Chaves

Em Salto, 12 de Março de 2024



Categories: Liberalism

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