O Iluminismo do Século 18 e o Pós-Modernismo: Breves Considerações

Eu não sou supersticioso, muito pelo contrário. Desde cedo meu pai procurou me convencer de que protestantes não têm superstições e que é a maioria católica que é supersticiosa (acredita em sorte e azar, acha que mau olhar afeta a gente, se benze e faz o sinal da cruz quando observa algo ruim, ou simplesmente quando passa em frente de uma igreja, se isola dando três batidinhas em algo de madeira quando ouve falar de alguma desgraça, etc.). (O artigo “Superstição” na Wikipedia em Português menciona um sem número delas). Assim, cresci razoavelmente livre de superstições. Ou assim sempre pensei. O referido artigo da Wikipedia assinala que as crenças de uma religião, em especial as menos comuns, são geralmente consideradas superstições por quem subscreve a uma religião diferente, ou, especialmente, por quem não subscreve a nenhuma religião (ou assim imagina). Como eu passei cerca de quarenta anos de minha vida me considerando  uma pessoa racional, que só aceita o que é comprovadamente verdadeiro e sustentado por indiscutíveis evidências, e que, por conseguinte, não professa nenhuma religião, pois religiões sempre dependem de fé, e não de assentimento racional, sempre me achei especialmente livre dessa praga (a praga, no caso, sendo as superstições e outras irracionalidades).

Mas, totalmente livre de superstições parece que ninguém fica. Quando mais de uma coisa acontece em um curto período de tempo parecendo apontar numa determinada direção é fácil de acreditar que se trata de um “sinal”, uma mensagem vinda do além, de que devemos pensar um pouco sobre aquilo que seria o objeto do dito sinal… Aconteceu algo assim comigo, nesses últimos três dias. Apareceram na minha frente, em posts, mensagens instantâneas, emails, links, chamadas, etc. referências a um conjunto de temas (como renascimento, humanismo, ceticismo, agnosticismo, iluminismo, modernismo, racionalismo, criticismo, objetivismo, secularismo, etc.), bem como ao nome de pessoas associadas com esses temas ou com movimentos ligados a eles (como Erasmo de Roterdã, Sebastião Castélio, Montaigne, Pierre Bayle, David Hume, Voltaire, Karl Popper, Ayn Rand, etc.). Pareceu-me improvável que o aparecimento desses temas e nomes, em um período de tempo relativamente curto, todos eles ligados, em minha mente, a uma só tendência, pudesse ser apenas uma simples e mera coincidência. Assim, contrariando os ensinamentos de meu pai, pensei na possibilidade de que tudo isso pudesse ser um sinal para que eu revisse, mais séria e detidamente,  minha posição a relação a esses temas e esses autores…

Meu amigo Enézio Eugênio de Almeida Filho, o Neddy, teve alguma participação nesse processo. Ele sempre chama minha atenção para livros e artigos que ele acha (sempre corretamente) que me interessam e que podem ter me passado despercebidos. E chamou minha atenção, ontem, para um livro chamado Beyond Doubt: The Secularization of Society, o sétimo volume (com vários autores) de uma série intitulada Secular Studies. Hoje cedo, me aparece por email a indicação de um artigo de um autor que discute uma análise de uma série de três ensaios seus acerca do Iluminismo, e que levanta as seguintes questões: será que as teses iluministas foram definitivamente suplantadas pelos posicionamentos pós-modernos e seus relativismos, ou será que estamos prontos para voltar para as teses defendidas pelas melhores mentes da segunda metade do século 17 e do século 18 inteiro, ou, quem sabe, para criar um Novo Iluminismo do Século 21, que não incorra nos exageros de nossos predecessores – se é que houve exageros? Será que o Iluminismo da Era Moderna realmente se esgotou e estamos às portas de um Renascimento Religioso, ou será que o Iluminismo, com as velhas ou com novas roupagens, está voltando? O artigo é “On the Question of Whether We Need a New Enlightenment for the 21st Century”, de Robert Elliott Allinson, publicado em Dialogue and Universalism, vol. 33 (1):217-228, deste ano de 2023. (A trilogia original de Allinson parece incluir os seguintes livros: A Metaphysics for the Future, de 2017, Space, Time and the Ethical Foundations, de 2019, e Awakening Philosophy: The Loss of Truth, de 2022. O autor que ele discute em seu artigo é o prolífico filósofo turco Michael H. Mitias. Não consegui, agora cedo, cópia integral do artigo de Allinson nem da crítica de Mitias. Mas com o tempo eu arrumo…).

Enfim… Essas duas inidicações, e mais algumas coisas que venho lendo, como a biografia conjunta de Erasmo e Lutero, a que já fiz referência em meu Facebook e em meu blog, Fatal Discord: Erasmus, Luther and the Fight for the Modern Mind, de Michael Massing, me fizeram refletir sobre esse conjunto de temas e autores. E, como sempre, quando topo com um assunto desse quilate, sento-me e começo a escrever, para tentar colocar em ordem ideias que podem ter ficado fora de lugar sem que eu percebesse…

Estou aberto a ideias e sugestões…

Em Salto, 13 de Junho de 2023.



Categories: Liberalism

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