Sub-título: Meus oitenta anos + três quartos de ano de vida serão comemorados privadamente em 6.6.2023, se Deus quiser.

Eu me implico muito com uma coisa que a maior parte das pessoas considera uma bobagem. Para mim não é bobagem. Eu custei muito a chegar aos oitenta anos (cheguei em 7.9.2022), e não vou deixar barato, esperando mais um ano para dizer que eu estou no meu octogésimo ano. Interessa-me mais informar qual é o ano de minha vida que eu estou vivendo no momento, do que qual o ano de minha vida que eu, tendo completado, vivi antes do meu último aniversário.

Segundo o costume atual, quando a gente nasce, a gente não tem nenhum ano de vida completado, naturalmente. Mas a gente está no primeiro ano de vida. A gente vive um ano inteiro sem ter nenhum ano (i.e., antes de completar um ano), só tendo meses. A gente leva doze meses, ou 365 dias (se o ano não for bissexto) para completar um ano de vida. Notem bem: COMPLETAR. Aquilo que a gente completa se torna passado, foi embora, deixou de existir. Quando a gente completa um ano de vida, no último dia do primeiro ano de vida, a gente, às 24h, entra no segundo ano de vida. Mas no modo de falar sacramentado em nossa língua, a gente vai passar o segundo ano de vida inteiro dizendo e ouvindo falar que a gente tem um ano, quando deveria dizer que a gente está no segundo ano, ou no ano 2, de vida.

Assim sendo, no dia seguinte àquele em que a gente completa um ano, a gente não está mais no primeiro ano de vida: está começando o segundo ano. O dia daquilo que se chama de nosso PRIMEIRO ANIVERSÁRIO não está, dentro do nosso costume atual, dentro do nosso primeiro ano de vida: ele já é o primeiro dia do nosso segundo ano de vida, da mesma forma que o dia em que nascemos é o primeiro dia de nosso primeiro ano de vida que, infelizmente (a meu ver), se chama de nosso ano zero.

A partir do dia em que eu, no ano passado, completei 79 anos de vida, no dia 7.9.2022, eu passei a viver o meu octogésimo ano de vida, que vou viver, se Deus permitir, até o dia 6.9.2023. No dia 7.9.2023 eu já estarei, Deo volente, no primeiro dia do meu octogésimo primeiro ano de vida.

No entanto, minha família e alguns amigos meus esperam que eu celebre meus 80 anos quando eu já os tiver completado e estiver vivendo o primeiro dia do meu octogésimo primeiro ano. Gosto mais do primeiro dia do novo ano do que do último dia do ano velho, que é o ano que já passou e acabou. Se foi bom ótimo, se não foi, ou não foi tanto, pelo menos acabou.

Acho o costume atual errado — e acho que deveríamos mudar. Em vez de dizer “Fulano tem dez anos”, apenas quando ele já está no primeiro dia de seu undécimo ano, deveríamos dizer, assim que a pessoa entre no seu décimo ano, “Fulano está agora com dez anos”. Se algum chato (como eu) perguntar “Mas ele já completou seu décimo ano?”, a gente responde, corretamente, esclarecendo: “Não, não completou: ele está com dez anos incompletos. Ele só os completará em tanto.detanto.detanto, quando entrar no seu décimo primeiro ano de vida. Festejaremos muito, então, o fim da primeira década completa de vida dele (ou seja, sua saída dos dez anos).

De um bebê que tem, digamos, seis meses, diremos que ele tem um ano incompleto. Tem só meio ano — o que quer dizer que ele já viveu metade de seu primeiro ano, indo, dali outros seis meses, completar seu primeiro ano de vida, ticar o Ano 1, e dizer que ele está nos dois anos, ou no ano 2, ou no segundo ano, ou com um ano mais x meses, ou com um ano e meio, ou com um ano + 3/4 de outro (3/4=9 meses), e assim por diante.

Para mim, faz muito mais sentido. Mas não tenho esperança nenhuma de que os nossos hábitos linguísticos errôneos, ou “misleading” (indutores de erro), sejam corrigidos.

Em Salto, em 30.5.23.

PS

No dia 6.6.2023, daqui a oito dias, eu terei vivido 79 anos + 3/4 (9 meses) do meu octogésimo ano de vida.

No dia 6.9.23 eu completarei (e terminarei) os meus 80 anos de vida (Deus permitindo). No dia seguinte, 7.9, que é o dia em que eu nasci, eu estarei no primeiro dia do meu octogésimo primeiro ano de vida.

Nesse dia, 7.9.2023, aceitarei os parabéns (virtuais) pela entrada no meu octogésimo primeiro ano de vida aqui mesmo no Facebook. “So help me God“. A minha entrada no meu octogésimo ano (que se deu no ano de 2022) passou (meio) batida.

Entendeu? Hai capito? Did you understand? Hast du verstanden? Est-ce que tu a compris? ¿Entendiste? Entendeches? Morou?

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