Conversões, Desconversões e Reconversões

Os processos mencionados no título não acontecem apenas na religião. Acontecem também na tecnologia. E eu sou especializado em mudar de opinião e lealdade nas duas áreas.

Eu nasci, tecnologicamente falando, em um mundo já microsoftiano. Meu primeiro microcomputador foi um Commodore 64, comprado em Janeiro de 1982, mês e ano em que ele foi lançado pela Commodore Business Machines, uma empresa canadense, e o C64, como o apelidaram, não tinha, na realidade, um Sistema Operacional: ele falava simplesmente BASIC, nome de uma linguagem de programação. E embora essa linguagem de programação de alto nível, cujo nome era acrônimo para Beginner’s All-purpose Symbolic Instruction Code,, não tenha sido inventada por Bill Gates, ele, ainda menino, escreveu a primeira versão da linguagem que se tornou padrão nos microcomputadores da primeira geração (digamos, de 1977 a meados de 1981 – precisamente, 12 de Agosto, quando foi lançado o indefatigable IBM PC — que, aqui entre nós, sempre foi mais Microsoft do que IBM, porque a Microsoft acreditou mais nele do que a própria IBM, como se mostrará a seguir. 

O IBM-PC (que vim a adquirir só em 1985) tinha um Sistema Operacional, chamado PC-DOS (Personal Computer – Disk Operating System). PC-DOS foi uma forma de disfarçar o fato de que o sistema era, na realidade, MS-DOS (MicroSoft Disk Operating System). Bill Gates, ainda moleque, engoliu os pretensiosos engravatados da IBM (que quer dizer International Business Machines), que não acreditavam no hardware que tinham acabado de fazer e estavam procurando um software para fazê-lo utilizável. Bill Gates não tinha, mas comprou um Sistema Operacional que estava sendo desenvolvido em Seattle e ofereceu-o para a IBM por um preço relativamente barato (mas bem mais caro do que a pechincha que ele havia pago pelo sisteminha), DESDE QUE a IBM concordasse que a Microsoft vendesse o mesmíssimo sistema debaixo do seu nome, MS-DOS, para quem estivesse interessado. Acreditando que a máquina que haviam feito era brinquedo de criança (ou de engenheiro, que, nessa área, não passa de uma criança querendo se divertir) os compradores da IBM concordaram. Naquele instante decretaram que Bill Gates seria um biliardário (por muitos anos, o homem mais rico do mundo). Como a IBM cobrava um preço alto por uma máquina fraca (a máquina original não tinha unidade de disco, só de fita cassete, não tinha tela gráfica em cores, e tinha só um miserê de memória RAM, e nenhum de seus componentes era proprietário, todos eles encontráveis na Santa Efigênia, aqui no Brasil), Bill Gates incitou outros empresários a clonar a máquina da IBM, comprar o Sistema Operacional dele, e vender a máquina, com MS-DOS, por um preço bem mais barato no mercado. Todo mundo fez isso. Só grandes empresas compravam as máquinas originais da IBM por causa do nome (e porque tinham dinheiro sobrando). O resto do mundo comprou clones. Bill Gates só não é mais o homem mais rico do mundo porque ele criou uma fundação esquerdista que vem despejando grana no Terceiro Mundo, para custear  desenvolvimento e aplicação de vacinas, em especial na população pobre africana, a África sendo a dor de consciência dos americanos “progressistas”, e vem se esforçando para que essa fundação gaste toda a fortuna dele antes de ele morrer – mas, aqui entre nós, é tanto dinheiro que está difícil.

Voltando ao assunto: quando passei a usar um IBM-PC (um clone feito pela Itaú Tecnologia S/A — Itautec, que me deu o computador de presente, porque eu era consultor e acionista da empresa), continuei a usar um sistema basicamente microsoftiano. Isso, em 1985, quando a Itautec lançou seu Itautec I-7000 PC-XT. Poderia ter ficado rico se tivesse vendido minhas ações no tempo certo. Mas, como todo amador e principiante, eu me sentei em cima delas imaginando que seu valor só faria subir. Hoje elas me rendem algo abaixo de um real por mês — devidamente pagos pela ITAUSA, já que o grupo Itaú fechou a Itautec. Mas isso não vem ao caso. O importante é que usei o PC-XT da Itautec por um bom tempo. Foi meu primeiro microcomputador com disco rígido: o chamado “Disco Winchester” – de 5MB. Tudo isso. Hoje não caberia uma foto ou uma música nesse bendito Winchester, que ainda tenho no meu Museu de Tecnologia.

Em 1988, passei a ser consultor da própria Microsoft, quando o software “de rigueur” era ainda o MS-DOS. Só em 1990 a empresa lançou um Sistema Operacional gráfico realmente utilizável: o Microsoft Windows 3.0. Estive no show da COMDEX, em Las Vegas, para o lançamento do Windows 3.10, depois do Windows 3.1, depois do Windows for Workgroups 3.11. 

Fui consultor da Microsoft (tanto aqui no Brasil como lá em Redmond) até 2013. Mas em 2011, sinto dizer, comecei a traí-la… Em meados de 2011, a Paloma (para quem não conhece, a minha melhor metade) foi contratada pelo Colégio Visconde de Porto Seguro, no Morumbi, em São Paulo, para começar em Agosto. Em Julho, em uma viagem de férias que fizemos aos Estados Unidos, ela resolveu comprar um Apple MacBook Air, porque sabia que o Porto Seguro estava fechado com a plataforma Apple, não com a plataforma Microsoft. Trouxe, toda orgulhosa, o dito cujo e, no primeiro dia de trabalho, descobriu que o Porto Seguro lhe havia reservado um MacBook Pro – melhor do que aquele que ela havia comprado. Resultado: ela me deu o MacBook Air de presente. Eu, meio contra a vontade, o aceitei. O problema é que, se eu aparecesse com um notebook da Apple numa reunião na Microsoft, corria sério risco de perder minha preciosa consultoria. Mas, em casa, comecei a explorá-lo – e, aos poucos, fui me desconvertendo das máquinas Windows (embora em Abril de 2011 houvesse comprado minha sexta máquina Windows da Dell, um Vostro, na época, todo incrementando e rodando Windows 7). Quando minha consultoria morreu de morte natural em 2013 (todos os meus contatos na empresa foram sendo dispensados, um depois do outro), eu pude me declarar desconvertido da linha Microsoft Windows (que andava uma coisa horrível naquela época) e plenamente convertido à linha Apple. 

Usei o meu MacBook Air presentado pela Paloma até o final de 2017, quando ele começou a abrir o bico. Em nova viagem aos Estados Unidos, comprei uma belezura chamada de MacBook 12” (entregue no início de 2018), finíssimo e levíssimo, uma delícia para carregar para baixo e para cima. Ele me serviu basicamente bem durante cinco anos. Tive uns problemas com o teclado (ele era tão fino que não havia muito espaço para fazer um encaixe das teclas do teclado). Por duas vezes a Apple me trocou todo o teclado, gratuitamente, mesmo sem que o computador estivesse em garantia ou segurado. Depois ainda me trocou a tela, porque concluiu que, depois de duas trocas e teclado, e uma de bateria, a tela apresentava problema, consequência também do problema da finura e leveza excessiva do equipamento, fato que levou a Apple a descontinuar sua fabricação. Mas o meu, com o seu terceiro teclado, segunda tela e segunda bateria, sem que eu pagasse um tostão furado, continua funcionando, embora de vez em quando me dê uns sustinhos… 

Como os notebooks da Apple têm preço proibitivo aqui no Brasil, e eu não tenho plano de viajar para os EUA, comecei a namorar uns notebooks beleza da Dell. Isso em meados de 2022, onze anos depois de eu haver começado a namorar os notebooks Apple. No final do ano de 2022 o namoro ficou sério (contra a vontade da Paloma, que é uma appleana fanática). O final de 2022 ficava cinco anos depois de minha compra do MacBook 12”. A linha que eu namorava era a mesma de um notebook que eu comprei em 2008: XPS. Notebooks tão potentes que eram anunciados mais para gamers. Só que a aparência era, em tudo, quase idêntica à de um MacBook. O peso, só 1.300 gramas. Quer dizer: nada, para um cara forte como eu (relativamente falando, na casa dos octogenários). 

Ontem, depois de muita hesitação, e três dias inteiros de negociação online (Whatsapp) com uma gentil vendedora da Dell, chamada Luana Rodrigues, que é da idade de minha neta mais velha, mas sabe fechar uma venda, eu sucumbi. Comprei o Notebook XPS 13 Plus mais bem configurado à venda no Brasil. Nos EUA a máquina já está um pouquinho mais envenenada. Agradeço o empenho da Luana, sem o qual eu teria desistido ao final do primeiro dia.

Meu novo brinquedo — já escrevi um artigo sobre como o ser humano, especialmente a metade masculina dele, é mestre no uso de tools and toys, em especial de tools que são também toys — deve chegar em dez dias. Estou ansioso como alguém que, onze anos distante da fé, se reconverteu à linha Microsoft Windows e aos microcomputadores Dell. Paris vale bem uma missa.

Sei que vou ter algumas vantagens – mas temo que também tenha algumas desvantagens. Neste caso, o das desvantagens, o MacBook 12” ainda continuará em uso. Pretendo usar o meu XPS basicamente para escrever e armazenar meus textos, em um Solid State Disk (SSD) de 1TB. Meus textos são todos escritos em Microsoft Word (nessa área nunca houve traição, nem mesmo tentação de traição). E a versão para Windows de Microsoft Office, hoje Microsoft Office 365, sempre saiu primeiro e foi um pouco mais avançada do que a versão para a linha Apple (embora o primeiro Microsoft Office tenha sido feito para o Apple Macintosh, não para MS-DOS). Um outro software favorito meu, Intuit Quicken (um software de contabilidade financeira que uso desde 1987, que a Microsoft já tentou comprar mais foi bloqueada pelo setor antitrust to governo americano, provocado pelo Google, empresa pela qual nunca tenha tido simpatia, apesar de a Paloma ser uma “Google Innovator”), também lança suas novas versões primeiro para Microsoft Windows, só depois (às vezes de um bom tempo) saindo a versão para o MacOS. [Apesar da crítica de Windows pela esquerda tecnológica, o mundo tecnológico ainda é predominantemente Windows.]

Vamos ver no que dá. Mas alea jacta est – a sorte está lançada. Se não der certo, não terei vergonha de dizer, de me declarar arrependido, e de, humildemente, voltar para a Apple. Por via das dúvidas, vou guardar cerca de 100 dólares por mês para fazer uma poupança e, se tudo der errado, comprar um MacBook envenenado daqui uns dois anos. Usar Linux e Android eu me recuso. Minha religião não permite usar um software que tem uma versão chamada Ubuntu.

Em Salto, 15 de Janeiro de 2023



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