Mensagem de Fim de Ano sobre a Educação

A partir de um ângulo mais teórico, a educação é o processo através do qual aprendemos a transformar aquilo que é desconhecido e estranho em algo conhecido e familiar, e, simultaneamente, aprendemos a reconhecer, naquilo que pretendemos conhecer e consideramos familiar e óbvio, algo que, para os outros, pode ser desconhecido, estranho, e muito longe de familiar e evidente.

A partir de um ângulo mais prático, a educação é o processo através do qual nos livramos dos sonhos que os outros têm para nós e aprendemos a sonhar nossos próprios sonhos e a corajosamente tentar transformá-los em realidade.

Em outras palavras: a educação é o processo através do qual nos desenvolvemos como seres humanos auto-conscientes, competentes e autônomos.

Normalmente, quando as pessoas pensam sobre a educação, elas, em geral pensam que a educação é algo que tem que ver com crianças, isto é, com seres humanos jovens, ainda despreparados para a vida. Mas a educação é algo que tem que ver com todas as pessoas, ao longo de toda a sua vida, do momento em que nascem, até a hora de sua morte.

Um outro viés que distorce nossa visão da educação é pensar que o ensino é parte essencial dela. Não é. O que é essencial na educação é a aprendizagem, sem a qual não há educação. Se temos interesse em algo, podemos nos beneficiar com algum ensino, mas a maior parte das coisas da vida, aquelas coisas que são mais importantes, aprendemos pela observação, pela reflexão, pela imitação, por tentativa e erro. Aprendemos a reconhecer os padrões visuais e sonoros que nos permitem a reconhecer a fisionomia e a voz de nossa mãe, de nosso pai, de nossos irmãos e demais parentes, um feito de aprendizagem de fenomenal dificuldade, sem que ninguém nos ensine como fazer isso. Aprendemos a nos mover pelo espaço, a engatinhar, a nos firmar sobre nossas pernas, a andar, a subir escadas e em móveis, a correr, sem que ninguém nos ensine a fazer isso. Aprendemos a reconhecer que os sons emitidos pelos outroos têm sentido, e que podemos também emitir sons que têm significado e produzem resultados, sem que ninguém nos ensine como fazer isso.

Finalmente, um outro mal-entendido. Pensam alguns educadores que as pessoas precisam aprender a aprender, e que é possível ensinar alguém a aprender. Tolice. Nascemos sem saber nada, e sem saber fazer basicamente nada. Mas nascemos com uma incrível capacidade de aprender, sabendo aprender com magistral competência. E com inúmeros interesses e enorme curiosidade, que são a mola propulsora da aprendência, o processo de aprender, de aprender sempre, de aprender o tempo todo, e de todas as formas imagináveis. O que a escola, centrada no ensino, em especial no ensino obrigatório de coisas que não nos interessam e que, portanto, não temos interesse e curiosidade de aprender, ou de aprender a fazer, é bloquear, naquele espaço e naquele tempo, a nossa educação, que, no entanto, fora da escola, continua, felizmente, a acontecer.

É essa a visão que nos legaram pessoas como Socrates, Jean-Jacques Rousseau, Ivan Illich, John Holt, Seymour Papert.

Eduardo Chaves, 27-28 de Dezembro de 2023
Cortland, OH



Categories: Liberalism

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