Projetos de Vida, Planos e Interferências

27 de Setembro de 2019. Perto das 22h. Estamos de volta ao sítio, depois de bom tempo em São Paulo, do Encontro dos Manuelinos em Campinas e outros acontecimentos: uns planejados e esperados, outros, não. Eu agora assisto ao Globo Repórter sobre a Selva Africana. O último programa de Sérgio Chapelin na Globo. Dele eu gosto — mais do que do Sid Moreira, e muito mais do que do William Bonner, do qual já gostei. Hoje não tenho por ele a menor simpatia pelo Bonner. A Paloma dorme. Eu deveria estar dormindo também, mas o estresse dos últimos dias não me deixa dormir, como devia.

Hoje às 14h, foi enterrado nosso querido Sr. João, o caseiro do nosso sítio. Passei a noite, de ontem para hoje, no velório. Cochilei um pouco, entre 2 e 5 da madrugada, no banco reclinado do velho Corolla, estacionado numa vaga para idosos na frente da Funerária, em Salto. Cheguei ao velório por volta das 21h de ontem, saí de lá por volta das 13h30 de hoje, para acompanhar o féretro até o Cemitério — ironicamente chamado de Jardim do Éden. Quando nós, os que estamos vivos, “We, the living”, como disse Ayn Rand no título de seu primeiro romance, não estamos lá, imagino que o Jardim do Éden saltense seja um lugar de paz, mesmo que não seja bonito como se imagina que o Éden original tenha sido.

A Paloma chegou ao velório hoje cedo, por volta das 11h, vinda de Guarulhos, onde passou a noite com sua mãe, em um hospital de Guarulhos. Minha sogra não está bem de saúde, já faz algum tempo. Doenças têm rondado os pais da Paloma — que são mais novos do que eu. Felizmente, eu, apesar de minha queda de uma escada, que resultou em duas costelas quebradas, há quase um ano ano, tenho sido sido agraciado com saúde e poupado de problemas como os dos pais da Paloma e os que inesperadamente acometeram o Sr. João. O mesmo em relação à Paloma, às nossas meninas, às minhas outras duas filhas, aos parceiros delas e aos filhos deles todos.

Trouxemos Da. Vânia e seus três filhos, um já grande, com mais e 20 anos, e duas gêmeas de 14. Os últimos dias foram muito tristes e duros para eles. Desde ontem são viúva e órfãos. Mãe e filhos já choraram muito. A noite passada já eram viúva e órfãos. Mas o marido e pai, embora já morto, ainda estava ali do lado. Pelo menos podiam olhar para ele e tocá-lo, embora sem resposta. Hoje será a primeira noite que passarão na casa, sem o marido e o pai. Não será uma noite fácil. A cama dela parecerá extremamente vazia sem ele, e a casa deles, maior e mais silente.

Mesmo para mim e a Paloma esses dois dias não têm sido fáceis. Fomos pegos totalmente de surpresa. O Sr. João e Da. Vânia eram para nós parte da família. Ela continua a ser — mas ele não estará mais por perto, com seu sorriso alegre, seu humor divertido, suas brincadeiras de torcedor do Santos para com o mau período do SPFC, pelo qual a Paloma e eu torcemos. O trabalho mais duro de manutenção do sítio era dele. Teremos de encontrar uma solução que não envolva simplesmente trazer outros caseiros, pois, para nós, é inegociável que a Da. Vânia fique, com seus filhos, especialmente as gêmeas, Maíra e Maiara, por aqui. A menos que ela realmente não queira. Desde que vivemos juntos aqui no sítio eles deixaram de ser católicos e se tornaram crentes — frequentando a Congregação Cristã do Brasil,  que celebrou um culto na Funerária hoje à tarde, antes do corpo sair para o cemitério.

A Paloma tem a tese de doutoramento para escrever. Eu continuo com minhas leituras e meus escritos. Sem precisar estar tanto tempo em São Paulo, para que a Paloma frequente as disciplinas do Doutorado, pretendemos alugar o nosso apartamento no Morumbi e desfrutar, com nossas meninas, a Bianca e a Priscilla, de um apartamento menor, perto da Estação São Paulo – Morumbi, da Linha Amarela do metrô — na verdade, bem do lado da futura estação Vila Sonia, a menos de 5km de nosso atual endereço. Pretendemos que a vida de todos nós seja facilitada e barateada sem tanta necessidade de carro, ônibus, etc. Mas “O Canto da Coruja”, aqui em Salto, continuará a ser o nosso ancoradouro, especialmente quando a Paloma concluir o curso e terminar o seu afastamento do IFSP Capivari. Se Deus quiser, com a ajuda e a companhia de Da. Vânia e das meninas dela (Da. Vânia) e de nossos filhos, genros, netos, e demais parentes, que moram em Guarulhos na Zona Leste, e em Santo André.

Dizem que Deus, quando nos ouve falar de nossos planos, frequentemente sorri de forma condescendente… Inocentes, cogita ele: nem imaginam tudo o que pode impedi-los de realizar seus planos… É verdade. A Da. Vânia não esperava ficar sem o Sr. João justo quando compraram um terreno para poder construir uma casinha própria que desse mais segurança e estabilidade no futuro para a família, ou, quem sabe, lhes trouxesse renda adicional enquanto continuavam a morar na casa que lhes propiciamos aqui no sítio — onde, além de cuidar do sítio, da nossa casa e da deles, plantam suas próprias coisas, criam seus próprios animais (galinhas, patos, cabras, porcos, vacas, e têm um cavalo, este mais “for fun”), e têm a vida deles — em regra imperturbada, até ontem.

Esperamos, a Paloma e eu, que, Deo volente, nossos planos não sofram interferências dessa natureza muito cedo. Amém. Que Deus queira que assim seja é nossa esperança.

Em Salto, 27 de Setembro de 2019.



Categories: Interferences, Life Projects, Plans

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