Na minha modesta opinião, Tomás de Aquino foi, ao longo de toda História do Cristianismo, o maior teólogo que a Igreja já teve – ou as Igrejas Cristãs já tiverem. Quem gosta de fazer listas de maiores teólogos, e eu sou um deles, em geral coloca na lista dos cinco maiores teólogos da Cristandade os seguintes: Agostinho de Hipo, Thomas de Aquino, Jean Calvino, Ernst Schleiermacher e Karl Barth. Não disputo essa lista, embora, pessoalmente, prefira trocar Karl Barth por Rudolf Bultmann. Há certo consenso, que alguns podem querer contestar, que Martin Lutero deve ficar fora dessa lista. O restante é bastante consensual. (Numa segunda lista, mais ampla, eu colocaria Anicius Boécio, Pierre Abelardo, Martin Lutero, François Turretini, Charles Hodge, Adolf von Harnack, Karl Barth e Carl F. H. Henry (pois Bultmann ocupa o lugar de Barth na minha primeira lista).
O maior desses cinco (da primeira lista, com ou sem Barth), na minha opinião é Thomas de Aquino (1225-1274). Para mim, não há nem sequer competição séria. Calvinistas e barthianos ferrenhos que me desculpem. Tenho dois principais motivos para pensar assim. Primeiro, Thomas liderou a transformação do Cristianismo de uma religião cuja teologia, do ponto de vista filosófico, era predominantemente platônica, para uma religião cuja teologia é, do ponto de vista filosófico, predominantemente aristotélica. Para mim, esse foi um avanço fantástico. A Igreja Católica concorda comigo (1). Segundo, Thomas demonstrou a necessidade e a viabilidade de uma Teologia Natural, baseada na reflexão racional sobre a realidade, que fosse independente da Teologia Revelacional, baseada na reflexão exegética sobre a Bíblia. E a Teologia Natural proposta por Thomas é predominantemente aristotélica, e se mantém, nos essenciais, até hoje, malgrado a crítica devastadora a que David Hume a submeteu no século 18. Na minha opinião, daqui para a frente, ou o Cristianismo se sustenta em algo parecido com a Summa Contra Gentiles, de Thomas, atualizado e alinhado com as contribuições do programa de Design Inteligente e com o programa de Lei Natural Moral, de C. S. Lewis (que ela chamava de Tao), ou perderá cada vez mais espaço.
A grande inovação de Thomas, no tocante à Teologia Natural, foi reconhecer que existem diversos indícios no universo natural de que apontam na direção de uma causa primeira, mas não só, na direção de uma causa primeira consciente e inteligente e altamente sofisticada em relação ao universo que ela queria criar – tanto do ponto de vista mecânico e operacional, como do ponto de vista estético e moral. A gênese do argumento do Design Inteligente está em Aquino. Não enxergar essa grande inovação, e pretender que o universo evoluiu a partir de quase nada por big bangs, explosões ocasionais, tentativas e erros, sorte ou azar, acaso, sobrevivência do mais apto, etc., revela uma cegueira quase tão preocupante quanto a cegueira dos que pretendem construir uma ordem socioeconômica pujante e rica nivelando por baixo e não incentivando e retribuindo o melhor de cada um.
Neste processo, a contribuição essencial de C. S. Lewis não pode ser negligenciada – e ela não se limita a acrescentar uma dimensão moral ao argumento do Design Inteligente (que não estava ainda formulado, na época de Lewis, na forma mais completa que ele hoje apresenta). C. S. Lewis mostrou a importância de que a Teologia Natural cristã englobe, além da dimensão intelectual e da dimensão moral, também a dimensão emocional, que envolve os sentimentos, e que, portanto, se relaciona com a moralidade, que não é apenas uma questão intelectual, a dimensão imaginativa e criativa, que envolve a inovação, e a dimensão estética, que envolve a beleza. Ou seja, C. S. Lewis traz de volta para a Teologia Cristã, a ênfase na chamada Transcendentalia: não só no intelecto (verum), como a moralidade e o sentimento (bonum), e a imaginação, a criatividade e a beleza (pulchrum). A importância que ele deu à literatura, mais do que à ciência, na definição de uma maneira de ver o mundo e encarar a vida humana é uma contribuição única na história da Teologia Cristã do século 20 – e não apenas na área da Apologética. Sem o acréscimo dessas dimensões não intelectuais será muito difícil combater o empirismo e positivismo científico (aqui que C. S. Lewis chama de cientismo).
É isso, por enquanto.
NOTA
(1) Eis o que diz sobre Thomas de Aquino o Papa Pio IX: “São Thomas refutou, ele próprio, os erros dos que vieram antes dele, e nos legou armas invencíveis que nos permitem refutar os erros que vieram a surgir depois dele.” Pio IX, “Letter”, Acta Sanctae Sedis in Compendium Opportune Redacta, 12:97, apud Adam Barkman, C. S. Lewis & Philosophy as a Way of Life: A Comprehensive Historical Examination of his Philosophical Thoughts (Zossima Press, Alentown, PA, 2008), p.179, Note 102.
Em Cortland, 20 de janeiro de 2024. Cerca de 22 horas (GMT -5)
Categories: Liberalism
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