O Conceito de Livro (e a Tecnologia)

Muita gente acha que o conceito de livro é inseparável da noção de um objeto físico, feito de papel, que contém informações impressas em tinta, possui dorso, capa (dura ou flexível), etc. Nada mais errado. Os que assim pensam fazem parte do mesmo time que achava que o conceito de livro tinha que ver com a noção de papiro, pergaminho, rolo, copista, etc.

Sou um apaixonado por livros impressos em papel. Tenho por volta de 30 mil deles. Eles são (pelo menos enquanto novos) em geral bonitos, cheirosos, fáceis de manusear, e excelentes adornos para estantes (para quem tem espaço suficiente para exibi-las).

Mas os livros impressos em papel estão com os dias contados. Their days are numbered

Lembro-me de ler uma história de mudanças induzidas por tecnologias. Quando se inventou a refrigeração a gás (geladeiras, ar condicionados, etc), os fabricantes de “ice boxes” (caixas com dois compartimentos nos quais você colocava, no de cima, gelo, no debaixo, comida) e de “ice fans” (ventiladores cujo fluxo do vento passava por um comparimento onde havia água com gelo) relutaram em acreditar que seu negócio nada tinha que ver com gelo, em si, mas com refrigeração (de produtos e de ambientes). Quebraram todos. Quebraram tentando aperfeiçoar ainda mais um modelo de negócio cujos dias estavam contados…

Editoras tradicionais relutam em acreditar que seu negócio, o livro, nada tem que ver com impressão em papel, envolvendo tinta, etc. (como nunca teve que ver com papiro e pergaminho). O livro é uma modalidade de disponibilização de informação — que hoje, e cada vez mais, será digital. De igual forma o jornal, a revista, a newsletter, etc. Quantas editoras e livrarias que se concentram na produção de livros, revistas, jornais etc. físicos, impressos, vão precisar quebrar para que isso seja percebido?

Quem ainda compra música em disco de vinil, ou em fita cassete, ou em cd?

Quem ainda compra filme em videodisco, VHS, dvd?

Livro impresso em papel consome árvores, é mais volumoso, ocupa mais espaço, estraga mais fácil, é atacado por cupins, e é mais caro (por exigir tudo isso mais estocagem e transporte caros). Além disso, para extrair um parágrafo dele para uma citação, você precisa digitar (o que leva tempo, permite a introdução de erros, etc.). Ninguém mais usa OCR (Optical Character Reader). O e-book não tem nenhuma dessas desvantagens. E só não custa MUITO MAIS BARATO por causa do conluio e do cartel das editoras que publicam livros impressos em papel que querem sugar de seus clientes um último centavinho de lucro antes de (elas) quebrarem — e que, por isso, impedem a Amazon (inter aliae) de cobrar barato por livros eletrônicos (que custam muito pouco para produzir, estocar e distribuir).

É isso… Fiz uma palestra na Abril sobre esse tema faz uns dez anos (num encontro em Indaiatuba da Abril Educação, organizado pela Ana Teresa Ralston). Não deram bola. Agora estão desesperados tentando vender partes da empresa.

Em São Paulo, 27 de Março de 2018



Categories: Books, Technology

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