Quando a gente estuda a História da Igreja, em qualquer período, acaba se concentrando apenas em alguns personagens ou temas principais. Em 2017, quando da celebração dos 500 Anos da Reforma Protestante Luterana (a data fixada foi 31.10.2017, data presumida da fixação, também presumida, das 95 Teses por Lutero na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg [1]), a Universidade Presbiteriana Mackenzie nos fez, a todos nós, protestantes, o favor de programar um evento, que teve lugar no dia 23.11.2017, sobre As Outras Faces da Reforma Protestante [2] – isto é, sobre personagens importantes da Reforma Protestante (no caso Luterana) que, no entanto, não figuram na história entre os “Atores Principais”: são coadjuvantes. Os atores principais são Martinho Lutero (com o apoio de Felipe Melanchthon), no caso da Reforma Luterana em Wittenberg, na Alemanha, Ulrico Zwinglio, no caso da Reforma Suiça — Língua Alemã, em Zurique, João Calvino (com o apoio de Teodoro Beza), no caso da Reforma Suiça – Língua Francesa, em Genebra, e o Rei Henrique VIII (com vários auxiliares, alguns dos quais ele mandou enforcar ou decapitar), no caso da Reforma Anglicana, na Inglaterra. Os atores da chamada Reforma Radical são todos menores, não tendo alcançado a projeção e o alcance que os quatro mencionados alcançaram.
Fui convidado, na ocasião, a participar, junto de ilustres colegas, e, por um tempo, hesitei entre falar sobre Andreas Rudolf (André Rodolfo) Bodenstein von Karlstadt (que era Reitor / Chanceler da Universidade de Wittenberg, onde Lutero trabalhava, e, portanto, chefe dele) e Katharina (Catarina) von Bora (esta, a freira que se tornou mulher de Lutero). Optei por falar sobre Karlstadt [3]. Deixei para falar sobre von Bora em um evento no Dia Internacional da Mulher, no ano seguinte (2018), na Faculdade de Teologia da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil (a FATIPI). Foram iniciativas interessantes, porque me fizeram estudar personagens que, no caso da Reforma Luterana, em geral são colocados de lado em favor, naturalmente, de Martin Luther (Martinho Lutero) e Philip Melanchthon (Felipe Melancton) – os atores principais, o primeiro bem mais principal do que o segundo, que só conseguiu conviver com o autoritarismo de Lutero porque era um homem santo, e, por conseguinte, humilde – malgrado sua enorme cultura.
[ Parêntese: A grafia de nomes antigos e estrangeiros é sempre disputada. Não vou entrar no mérito da discussão, grafando os nomes das duas formas que mais frequentemente encontro, em Inglês e Português. Às vezes, uso o Latim. Mas é raro. Depois da primeira vez que menciono o nome, vou usar o sobrenome, em Português, que não é tão controvertido e é mais conhecido. Lutero é nome bem mais conhecido do que Martin, Martinus, Martinho, Luther ou Ludder, como preferem alguns sofisticados. Fim do parêntese. ]
Também em 2017 publiquei um pequeno livro chamado de Breve História da Igreja Antiga: Dos Primórdios ao Fim do Império Romano no Ocidente (novas edições em 2018, 2019, 2021) [4]. Concentrei-me basicamente em quatro temas:
- A questão da evolução institucional do Cristianismo, (a) de uma seita judaica para uma religião autônoma (independente e concorrente do Judaísmo), (b) de uma religião autônoma ilícita para uma religião autônoma lícita, no Império Romano, e, finalmente, (c) de uma religião autônoma lícita para uma religião oficial e única do Império Romano;
- A questão da razão da perseguição aos cristãos, seja ela promovida por entidades locais ou pelo governo imperial, até o início do século 4, sempre muito lembrada e explorada;
- A questão da formação da constituição e do reconhecimento do cânon do Novo Testamento, ao lado da aceitação da Bíblia Judaica (o Velho Testamento); e
- A questão da definição formal e oficial da Ortodoxia Cristã nos Concílios Ecumênicos e, consequentemente, da criação oficial, da crítica, da condenação e (a meu ver lastimável) da perseguição das Heresias.
Os personagens principais da História da Igreja Antiga foram, naturalmente, Jesus, Pedro, Paulo, Constantino, Atanásio, Teodósio e Agostinho (este já no final do período). Entre os demais personagens, incluo os principais hereges (Ebion, Ário, Nestório e Pelágio), estes como coadjuvantes mais importantes na discussão das questões centrais da ortodoxia: as doutrinas da Divindade de Jesus Cristo, da Trindade, e da Salvação.
Hoje quero apresentar ao leitor brasileiro um personagem terciário (talvez até quaternário, mas, se for, eu o promovo a terciário) da História da Igreja Antiga: Jovino (ou Joviniano), um monge que nem se sabe exatamente quando nasceu, mas que se presume ter morrido antes na primeira década do século 5 (entre 400 e 410). Ele morreu maltratado e perseguido porque, antes de morrer, foi considerado herege por gente importante e poderosa dentro da igreja do final do século 4 e início do século 5. Mas foi um herege de segunda linha, porque a doutrina acerca da qual manifestou sua “heresia” era uma doutrina hoje considerada secundária (mas, na época, vista como extremamente importante. Qual foi a “heresia” que Jovino (que era monge, notemos bem, e, portanto, celibatário) defendeu? Foi a doutrina de que o estado da pessoa casada é tão aceitável e nobre no Cristianismo quanto o estado da pessoa virgem ou celibatária. Em outras palavras, que o status matrimonial de uma pessoa, se solteira, casada ou viúva, e sua atitude para com o sexo, se abstinente (virgem, celibatária, viúva), ou praticante (no caso, necessariamente casada), não fazem nenhuma diferença para sua condição, presente ou futura, como cristã.
[ Outro Parêntese. Dois termos usados no último parágrafo não são, evidentemente, sinônimos: virgem é a pessoa que não teve ainda sua primeira relação sexual (mas que pretende ter, ou não, é indiferente); celibatária é a pessoa que optou, conscientemente, por não se casar (sendo, portanto, uma pessoa solteira por convicção e não por força das circunstâncias). Mas, na discussão, os dois termos às vezes se equivalem, às vezes, não. Agostinho, por exemplo, não era virgem quando se converteu, no ano 386, aos 31 anos: na ocasião, embora não oficialmente casado, já tinha até um filho, chamado Adeodato — filho esse tido fora do matrimônio, com uma companheira, chamada Una, com a qual viveu em união estável, durante quatorze anos, união na qual foi totalmente fiel, segundo ele próprio conta. Tecnicamente, Agostinho era solteiro. Por isso os autores cristãos não chamam Una de sua esposa, mulher, ou companheira, mas, em geral, preferem chamá-la, maldosamente, de sua amante ou concubina, insinuando que se ele, embora fiel à sua companheira, não se casou com ela, provavelmente foi porque ela, talvez, fosse uma garota de programa lá do século 4… (Eles não usam o eufemismo “garota de programa”: usam o termo “prostituta”, mesmo. Ao se converter, Agostinho abandonou a mulher com quem vivia e se tornou celibatário e abstinente sexual convicto, abstendo-se de manter qualquer tipo de relação de cunho sexual. Virou, por assim dizer, um santo. Fim do (longo) parêntese. ]
Tive conhecimento da existência de Jovino (Joviniano) através de um artigo de Dani Treweek, publicado na revista Christianity Today, de 2.12.2021, que compartilhei ontem (28.8.2022) no meu perfil no Facebook. O título do artigo é “Singleness Lessons I Learned from the Early Church” (Lições de solteiridade que aprendi com a Igreja Primitiva) – e o subtítulo é “The history of Christian celibacy is more complicated than we’d like to think” (A história do celibato cristão é mais complicada do que gostaríamos que fosse) [5]. Dani Treweek informa ser solteira. Não diz se é celibatária.
Eis o que Treweek diz acerca de Jovino:
“Considerem, por exemplo, a resposta dada [pela Igreja Cristã] ao ex-monge Jovino, do século 4, que ousou sugerir que ‘mulheres virgens, viúvas e casadas, que tenham passado pela água purificadora do batismo cristão … têm todas o mesmo mérito’. Essa afirmação sua de que todos os cristãos [na verdade, ele fala sobre todas as mulheres cristãs] são iguais diante de Cristo, independentemente de seu estado marital [ou matrimonial], fez com que Jovino fosse, eventualmente, declarado herege em múltiplos sínodos da igreja primitiva, enquanto ainda estava vivo.
A afirmação de Jovino também provocou numerosas e longas críticas de autores patrísticos, como a de Jerônimo, pai da igreja primitiva (que pediu que ‘seus leitores não se perturbassem demasiado se viessem a ler o lixo nauseabundo de Jovino’), e mesmo de Agostinho (que se declarou contente que a igreja ‘tenha feito oposição constante e decisiva a esse monstro’, e que procurou, ele próprio, ‘com todo o poder que o Senhor lhe concedeu, impedi-lo de secretamente esparramar seu veneno’)”.
[“For instance, consider the response to the fourth-century ex-monk Jovinian, who dared to suggest that ‘virgins, widows, and married women, who have been once passed through the laver of Christ … are of equal merit.’ This affirmation of Christians’ shared equality in Christ, regardless of their marital status, eventually contributed to Jovinian being declared a heretic at multiple early church synods during his lifetime.
It also inspired numerous and lengthy critiques by patristic authors, like early church father Jerome (who begged ‘the reader not to be disturbed if he is compelled to read Jovinian’s nauseating trash’) and even Augustine (who was thankful that the church ‘opposed this monster very consistently and very forcefully’ and who took steps to stop Jovinian from ‘secretly spreading poisons with all the power which the Lord gave me’)”.]
Ou seja: houve concílios menores da Igreja (não os grandes Concílios Ecumênicos) que consideram Jovino herege e importantes Pais da Igreja (como Jerônimo, o autor da tradução da Bíblia para o Latim, conhecida como Vulgata, e Agostinho, tido por muitos o mais importante Pai da Igreja antiga e o mais importante teólogo da Idade Média) que se referiram a ele em termos no mínimo deselegantes. Infere-se que Jovino estivesse morto por volta de 410 porque Jerônimo (de novo ele) afirma, em uma de suas obras, escrita em 409, que Jovino “havia, entre aves e porcos, soltado, não seu último suspiro, mas seu último arroto para fora desta vida” (“amidst pheasants and pork rather belched out than breathed out his life”), segundo se informa [6].
No entanto, algum tempo antes (cerca de uns duzentos anos), segundo informação prestada por Treweek, com base no livro Marriage, Celibacy, and Heresy in Ancient Christianity: The Jovinianist Controversy (Casamento, Celibato, e Heresia no Cristianismo Antigo: A Controvérsia Jovinianista), de David G. Hunter, havia gente, na Igreja, que pensava bastante diferente de Jerônimo e Agostinho e, na realidade, consideraria Jovino (estivesse ele vivo então) não só ortodoxo como um importante combatedor de heresias.
No início do século 2, consta que havia uma seita cristã, chamada Encratismo, que enfatizava autodisciplina, que, para ela, significava não só não comer carne e não beber vinho, mas, e mais importante de tudo, não fazer sexo e, por conseguinte, abster-se do casamento. Os encratistas rejeitavam o sexo até mesmo dentro do casamento – isto é, rejeitavam o matrimônio, em si (que outra razão haveria para se casar, senão poder fazer sexo livremente, mesmo que apenas dentro do casamento?). No início do século 3, os primeiros importantes Pais da Igreja, como Irineu e Clemente de Alexandria, também se opunham aos Encratistas, afirmando que proibir o casamento (com a permissão do sexo que vem com ele) era uma heresia.
Eis o que afirma Hunter, no livro mencionado:
“Através de líderes da igreja como Irineu e Clemente de Alexandria, uma nova posição emergiu dentro do Cristianismo no início do terceiro século. A ‘ortodoxia’ Cristã agora incluía a aceitação do casamento e o repúdio do encratismo radical. Rejeitar o casamento havia se tornado heresias e, como já observado, os ‘Encratistas’ agora estava incluídos numa lista de grupos, que crescia em tamanho, que era compilada por cristãos primitivos que se viam como heresiólogos. Se os escritos de Irineu e de Clemente de Alexandria bem refletem o consenso existente no início do terceiro século [início dos anos 200], parece que as vozes da moderação haviam conseguido uma vitória provisória sobre o encratismo radical. Especialmente na obra de Clemente de Alexandria, vê-se uma defesa do casamento que deliberadamente equilibrava as reivindicações em contenta entre cristãos ascéticos e não-ascéticos. Embora, para esses moderados, nem o celibato, nem o casamento, representasse uma forma de vida cristã considerada como intrinsecamente superior, Clemente argumentava que as duas opções representavam oportunidades de exercer a virtude e a obediência ao Logos Divino.” [“Through the efforts of church leaders such as Irenaeus and Clement, a new boundary had emerged within Christianity by the beginning of the third century. Christian `orthodoxy’ now entailed the acceptance of marriage and the repudiation of radical encratism. To reject marriage had become `heresy, and, as noted above, the `Encratites’ now entered the growing lists of deviant groups compiled by early Christian heresiologists. If the writings of Irenaeus and Clement accurately reflect the orthodox consensus in the early third century, it appears that the voices of moderation had achieved a tentative victory over radical encratism. Especially in the work of Clement of Alexandria, dria, we see a defence of marriage that deliberately balanced the competing claims of ascetic and non-ascetic Christians. While neither celibacy nor marriage was considered an intrinsically higher form of Christianity, Clement argued, both ways of life provided opportunities for virtue and obedience to the divine Logos.”] [7]
No entanto, cerca de um século e pouco depois, a situação se altera drasticamente, e no final do século 4, início do século 5, Jovino é considerado herege por famosos Pais da Igreja por afirmar que o casamento cristão é uma condição tão aceitável e nobre quanto o asceticismo (a virgindade e o celibato) — posição que foi majoritária, e mesmo hegemônica, pelo menos até o surgimento da Reforma Protestante.
Compare-se, neste contexto, o importante livro de John Witte Jr, From Sacrament to Contract: Marriage, Religion, and Law in the Western Tradition (De Sacramento a Contrato: Casamento, Religião e Lei na Tradição Ocidental) [8], especialmente o capítulo 3 (“Patristic Foundations of Western Marriage” [Fundamentos Patrísticos do Casamento Ocidental]), em especial a seção “Augustine and the Goods of Marriage” (Agostinho e os Aspectos Bons do Casamento), em que Witte argumenta que a posição de Agostinho ficava entre a de Jerônimo e a dos Encratistas e a de Irineu e Clemente de Alexandria. Na verdade, na minha forma de entender, a posição de Agostinho é muito próxima da opinião moderada de Clemente de Alexandria. Ele (como Clemente de Alexandria) acha a posição de Ambrósio e Jerônimo, que era basicamente idêntica à dos Encratistas, por demais radical — mas, por sua vez, também acha a posição de Jovino radical demais, no extremo oposto. Agostinho tenta ficar entre os Encratistas, Ambrósio e Jerônimo, de um lado, e Jovino, do outro, que é o que Irineu e principalmente Clemente de Alexandria tentaram fazer anteriormente — só que numa época época em que não havia nenhum Jovino para radicalizar no extremo favorável à total igualdade de condições, em termos de “mérito religioso”, entre o os os defensores do asceticismo e os defensores do casamento como forma legítima de ser cristão.
Por que me interessei por Jovino e por essa temática? Por que ela corrobora, em grande medida, a minha tese, defendida no livro mencionado atrás, de que antes dos grandes Concílios Ecumênicos (que envolviam os bispos de toda a Cristandade), principalmente os de Niceia (325), o primeiro, e Calcedônia (451), o quarto, não havia uma Ortodoxia Cristã, oficial e propriamente definida, e, consequentemente, não havia Heresias oficialmente reconhecidas, anatematizadas e proscritas. Desde o início do Cristianismo, porém, havia grandes divergências de pontos de vista em relação a várias questões, como, por exemplo:
- A medida em que a Lei Judaica do Velho Testamento ainda precisava ser cumprida, ou se ela estava totalmente abolida (a circuncisão e os rituais alimentícios sendo os principais pomos de discórdia, especialmente entre Paulo e Pedro);
- O status de Jesus Cristo, se homem, ou Deus, e, em qualquer hipótese, se plenamente ou parcialmente, ou se era as duas coisas, em cujo caso, de que maneira, forma ou grau;
- O papel da fé e das obras na justificação diante de Deus (especialmente entre Paulo e Tiago);
- O papel da mulher na igreja, em especial na gestão das comunidades cristãs e na condução do culto;
- etc.
O “default” (o normal, o esperado), até o primeiro quarto do século 4 (ano 325), era a divergência, não a unidade. No próprio Novo Testamento vemos Paulo divergindo de Pedro, Paulo divergindo de Tiago, inúmeras referências a “falsos mestres” e “falsos profetas”, advertências aos crentes, especialmente feitas por Paulo, de que, se alguém ensinasse aos cristãos algo diferente do que ele havia ensinado (ele que nem sequer havia encontrado Jesus pessoalmente, enquanto Jesus era vivo), essa pessoa deveria ser liminarmente rejeitada e repudiada.
É fácil entender que, se autores, como Irineu ou Clemente de Alexandria, discordavam do que outro autor, ou um grupo de pessoas, propunha ou defendia, viessem a chamá-los de heroes. Mas heresia, nesse sentido lato do termo, simplesmente significa pensamento divergente e, por conseguinte, errado. Chamar alguém de herege, nessa época, é simplesmente dizer que, na opinião do que usa o termo, o outro está errado — não pressupõe que haja um conjunto de padrões e critérios, oficialmente definidos pela igreja, através de seus líderes (os bispos e patriarcas), que estejam sendo violados. Isto só veio a ser oficialmente definido a partir do Concílio de Nicéia, em 325.
O sentido de ortodoxia e heresia que realmente fez uma diferença no Cristianismo foi o sentido oficial, em que a ortodoxia foi definida, formalmente, em credos e em cânones de Concílios Ecumênicos, e, depois, em Confissões Protestantes, e as heresias foram especificamente descritas e denominadas, bem como explicitamente declaradas desvios da ortodoxia, desvios esses que eram anatematizados, esse anátema permitindo e autorizando os ortodoxos a expurgar os hereges, quando não a puni-los, bani-los do território, persegui-los fora do território, até mesmo com a morte. Isso veio a acontecer a partir das definições dos Concílios Ecumênios, inicialmente de forma moderada, mas, eventualmente, como veio a acontecer durante a Inquisição do final da Idade Média, de forma radical e violenta, punindo os hereges com a morte, em geral através da fogueira (talvez a forma mais lenta e cruel de execução). Esse costume continuou na era da Reforma Protestante. Lutero foi condenado por tribunais eclesiásticos, veio a ser excomungado pelo Papa, e esse fato, em si, já representava uma condenação à morte. No caso de Lutero, em especial, a excomunhão foi acompanhada por um decreto secular de banimento, aprovado pelo Imperador Carlos V, na Dieta de Worms, em 1521. Lutero só escapou da execução por heresia porque foi escondido e protegido pelo Príncipe Eleitor da Saxônia, que tinha jurisdição sobre a Saxônia, onde ficava Wittenberg.
O que é mais triste e lastimável, que mesmo os protestantes, perseguidos por Roma cimo hereges, inventaram os seus hereges, como, por exemplo, no caso de Michel Serveto em Genebra, que acabou resultando na sua execução na fogueira, com anuência de Calvino. Isso também se deu nas Colônias Britânicas Protestantes na América, em que os puritanos decidiram caçar, perseguir e executar na fogueira supostas bruxas, em conhecida série de episódios históricos. E, nesses casos de Ortodoxia e Heresia formal e oficialmente definidos, havia sempre a “mão militar” do Império ou do Governo Local disposta a executar o ato sujo de discriminar, perseguir, prender, torturar, matar, de certo modo “livrando a barra” dos agentes eclesiásticos…
É isso que muitos cristãos, inclusive reformados, se recusam a entender hoje – e eu, hoje como desigrejado que estou, e, portanto, fora do alcance dos tribunais eclesiásticos atuais, vou bater nessa tecla até o fim da minha vida.
NOTES:
[1] Vide “Legends about Luther: Nailing the 95 Theses”, in https://www.luther.de/en/legenden/tanschl.html.
[2] Vide “As Outras Faces da Reforma Protestante”, in https://simposiomackenzie.wixsite.com/outrasfacesdareforma. Vide também “Simpósio as Outras Faces da Reforma”, in https://www.youtube.com/watch?v=w03zbi2hGAw.
[3] O vídeo de minha palestra, de um pouco mais de uma hora, está disponível no meu canal no Youtube, no endereço https://www.youtube.com/watch?v=zMAEST46E3k&t=3083s. O título de minha palestra foi “Andreas von Karlstadt: Um Reformador do Pensamento de Lutero”. Os slides utilizados na palestra podem ser consultados e baixados no site do aplicativo Slideshare, em https://www.slideshare.net/edwardkeys/andreas-von-karlstadt-reformador-do-pensamento-de-lutero. Há cópias não autorizadas do slides em vários sites, como, por exemplo, https://fdocuments.net/document/andreas-von-karlstadt-reformador-do-pensamento-de-lutero.html?page=1 e também https://vdocuments.com.br/andreas-von-karlstadt-reformador-do-pensamento-de-lutero.html?page=1. Sobre a Reforma Protestante Luterana, vide meu breve artigo na revista Visão, Órgão Oficial da Primeira Igreja Presbiteriana Independente de São Paulo (a Catedral Evangélica de São Paulo), com o título “A Reforma, a Cultura e a Modernidade por Ocasião dos 500 Anos da Reforma Luterana”, no endereço https://issuu.com/gustavo.curcio/docs/visao_especial_digital (pp.22-24).
[4] Vide https://www.amazon.com/Eduardo-Chaves/e/B07L45G3Q1/.
[5] O artigo pode ser acessado em https://www.christianitytoday.com/ct/2021/december-web-only/celibacy-singleness-early-church-lessons.html.
[6] Vide o artigo sobre ele na Wikipedia de língua inglesa (o título do artigo é “Jovinian”).
[7] Vide David G. Hunter, Marriage, Celibacy, and Heresy in Ancient Christianity: The Jovinianist Controversy (Casamento, Celibato, e Heresia no Cristianismo Antigo: A Controvérsia Jovinianista), Edição em ebook, Localizações Kindle 1479-1484.
[8] John Knox Press, 2012.
Em Salto, 29 de Agosto de 2022. [Revisto em 1 de Setembro de 2022.]
Leave a Reply