Post transcrito aqui de meu blog “Liberal Space” (http://liberal.space).
Este é o sétimo post sobre “El Secreto de sus Ojos”. Como o sexto, porém, ele passa pelo filme argentino para discutir questões que o tangenciam e que foram levantadas no último post, no artigo de Luiz Felipe Pondé.
Não resta dúvida de que o cinema argentino, através da direção competente de Juan José Campanella, está achando o seu caminho – e é um caminho bom. “El Mismo Amor, La Misma Lluvia”, “El Hijo de la Novia”, e, agora, “El Secreto de sus Ojos” são prova disso. Os dois últimos foram indicados para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro – o último, ganhando o prêmio. Isso mostra que o mundo está de olho no cinema argentino.
Quando vi “O Quatrilho” (1995) pensei que o cinema brasileiro tivesse começando a achar seu caminho. O filme foi reconhecido através de sua indicação para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro (não o tendo ganho por uma injustiça, no meu jeito de ver). “Bella Donna” (1998) foi também um bom filme. Mas agora o cara me vem com “Lula, o Filho do Brasil”, um filme com todo o jeito de um comercial político…
Por que o Brasil não engrena na Sétima Arte? Por que essa tentação, aparentemente quase irresistível, para alternar entre a Scylla da chanchada (quando não da pornochanchada) e a Charybdis do filme pseudo político, onde há abundância de violência e carência de enredo, de boa história?
Por que, com raríssimas exceções, que se contam nos dedos de uma mão, o brasileiro não é capaz de fazer um filme como “El Secreto de sus Ojos”, que faz você sair do cinema emocionado, com lágrimas nos olhos, comentando “Que coisa mais linda!!!”?
O cinema é uma arte narrativa. Por isso, uma boa história, transformada em enredo por quem entende da coisa, é essencial. “The End of the Affair”, de Graham Greene. Que história magnífica. Já foi transformada em filme duas vezes, uma em 1955, outra em 1999, tão boa é. “The Bridges of Madison County”, outra história fantástica, esta de Robert James Waller. “The Remains of the Day”, de Kazuo Ishiguro. As várias boas histórias de Nicholas Spark: “The Notebook”, “Message in a Bottle”, “Nights in Rodanthe”… Todas essas lindas histórias foram transformadas em excelentes filmes (que portaram bem o título do romance em que se inspiraram). Se a história é boa, meio caminho está andado.
Mas o cinema é uma arte narrativa visual. Embora ela seja essencial, a boa história não basta: ela tem de ser contada através de imagens bem tomadas. Aqui o trabalho do cinegrafista (ou cinematógrafo) é essencial – embora ele precise estar bem ajustado com o diretor. Por fim, o cinema é uma arte que depende muito mais de grandes diretores do que de grandes atores. A boa história, visualizada em imagens engajantes, tem de ser narrada por um “master story teller”. Compare-se o suspense criado pelos flashbacks criados por Campanella em “El Secreto de sus Ojos”, por Neil Jordan em “The End of the Affair”, e por Clint Eastwood, em “The Bridges of Madison County”.
Boa história, belas imagens, narração competente.
O Brasil tem boas histórias em sua literatura, como bem salienta Pondé. Deve ter bons cinematógrafos. Fábio Barreto e Fernando Meirelles provam que temos bons diretores. Por que não temos um número razoável de bons filmes? Por que a Argentina está na nossa frente nessa área – e aumentando a distância?
Parece que a “estética cinematrográfica brasileira” está definida, não por uma boa história, belas imagens, e narração competente, mas por violência (policial, política), sexo e humor escrachado (a essência da chanchada). Essa receita não dá filme bom. Quando a abandonamos, como em “O Quatrilho”, quase levamos o Oscar. Mas no restante, passamos longe.
Em São Paulo, 31 de Março de 2010
Transcrito aqui em Salto, 31 de Dezembro de 2015
Categories: Movies
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