A Alemanha e a Ideia de Império (Reich)

I. Preâmbulo: Duas Coisas que Parecem não Conjuminar

Este artigo vai parecer meio desconjuntado. Ele é composto de duas partes que, à primeira vista, parecem nada ter que ver uma com a outra:

A primeira contém um esboço de minha autobiografia intelectual, que discute meus interesses intelectuais e minha trajetória acadêmica.

A segundo contém o assunto declinado no título, que parece nada ter que ver com a primeira parte.

Mas espero que o leitor paciente, que consiga navegar pela minha prosa meio prolixa, perceba que as duas partes contêm pontos de ligação importantes.

II. Esboço de Minha Autobiografia Intelectual

Eu sempre me interessei pela História — mas esse interesse está sempre casado a um outro interesse, que se tornou primário deixando o meu interesse pela História em posição secundária.

Três coisas que reputo interessantes nesse processo.

O primeiro é que, ao passar de um interesse principal para o outro, os interesses principais anteriores nunca deixaram de existir: os interesses principais são cumulativos, por assim dizer. Eles foram, pela ordem, a Teologia, a Filosofia, a Educação, a Tecnologia, os Processos de Mudança e Inovação, e a Política (em um sentido mais genérico).

O segundo é que o interesse na História ficou constante, ainda que, a maior parte do tempo, exceto agora no fim, secundário (em relação ao interesse principal) .

O terceiro é que, de um tempo para cá, o interesse primário passou a ser a História e os outros interesses (Teologia, Filosofia, Educação, Tecnologia, Processos de Mudança e Inovação, Política) passaram a ocupar uma posição secundária. Em outras palavras: houve uma inversão: o que era secundário passou a ser primário e o que era primário passou a ser secundário (mas ainda de forma cumulativa, sem que eu perdesse o interesse em qualquer deles).

Por um tempo (1964-1970), o meu interesse primário foi a Teologia. Marco o início desse período em 1964, quando fui para o Seminário, já com vinte anos completos. O interesse na História aqui apareceu como interesse na História da Igreja Cristã e na História do Pensamento Cristão, ou História da Teologia Cristã. Nesse período eu estive vinculado a Seminários ou Faculdades de Teologia. Primeiro, o Seminário Presbiteriano do Sul, pertencente à Igreja Presbiteriana do Brasil, localizado em Campinas, SP-BR (1964-1966). Depois, a Faculdade de Teologia, pertence à Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, localizada em São Leopoldo, RS-BR (1967). Depois, o Pittsburgh Theological Seminary, da United Presbyterian Church in the USA, localizado em Pittsburgh, PA-US (1967-1970). Durante esse período que vai de 1964 a 1970, obtive minha Graduação, em Teologia, e meu Mestrado, em História da Igreja Cristã e do Pensamento Cristão.

Depois (1970-1974), o meu interesse primário passou a ser a Filosofia. Marco esse início em 1970, quando comecei a cursar o meu Ph.D., na University of Pittsburgh, localizada em Pittsburgh, PA-US. Esse interesse se acrescentou ao meu interesse na Teologia. Havia desistido de ser pastor e professor em seminário e decidido a ser professor, se possível, em nível universitário. A filosofia me seria mais importante. Concluí meu Doutorado em 1972 e trabalhei em duas universidades americanas, na área da Filosofia: a California State University at Hayward (hoje chamada de California State University, East Bay), localizada em Hayward, CA-US, de Agosto de 1972 a Julho de 1973, e o Pomona College, integrante dos Claremont Colleges, localizado em Claremont, CA-US, de Agosto de 1973 a Junho de 1974.

Em 1974, no mês de Junho, voltei para o Brasil, para trabalhar na Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), localizada em Campinas, SP-BR, onde fiquei, de Julho de 1974 até Dezembro de 2006.

 Depois (1974-1980), o interesse primário passou a ser, por força das circunstâncias, a Educação. Digo “por força das circunstâncias” porque não vim para a UNICAMP para trabalhar na área da Educação, mas, sim, para continuar a trabalhar na área da Filosofia. No entanto, a Faculdade de Educação da UNICAMP (FE-UNICAMP), que havia sido criada dois anos antes (em 1972), para ministrar as disciplinas pedagógicas dos Cursos de Licenciatura, resolveu criar, em 1974, um curso exclusivamente seu, o Curso de Pedagogia, no qual (no currículo adotado) havia duas disciplinas semestrais de Filosofia de Educação (I e II), para as quais não havia professor. Recém chegado Universidade, e com um Doutorado em Filosofia, eu fui escolhido para ser a “vítima”, embora nunca houvesse estudado Educação em nenhum dos cursos que fiz. Não tive como escapar. Passei o mês de Julho de 1974 lendo sobre a educação, dia e noite, para poder ministrar a disciplina EP-130 (EP=Educação/Pedagogia, o primeiro número indicando o semestre do curso em que a disciplina seria normalmente oferecida; no caso, já com uma dissonância: a primeira vez que a disciplina foi oferecida foi no Segundo Semestre de 1974, mas ela manteve na sigla o indicativo “130”). Não só fui escolhido para ser o Professor de Filosofia da Educação, mas, também, em Julho de 1974, para ser o Coordenador do Curso de Graduação (Pedagogia), que precisava ter um Doutor em Tempo Integral na Coordenação. No ano seguinte, 1975, quando foi criado o Mestrado em Educação, tornei-me Coordenador de Pós-Graduação (Mestrado) em Educação e deixei a Coordenação do Curso de Pedagogia. Moral da História: tive de entrar de cabeça na área da Educação, o que fiz, no período de 1974 a 1980. E o foco do meu interesse, acabou sendo histórico: A História da Filosofia da Educação (para a qual a História da Filosofia e a História da Educação, prática e teórica, são imprescindíveis).

Em 1980 passei a ser Diretor da Faculdade de Educação da UNICAMP (depois de ter sido Diretor Associado, de 1976 a 1980). Um dos primeiros encaminhamentos que fiz como Diretor Titular foi o de um projeto sobre o uso do computador na educação — em especial na aprendizagem de crianças da educação básica, para aprender Geometria, com a Linguagem de Programação “Logo”, criada por Seymour Papert. O ano era 1980, o encaminhamento era para a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) e os responsáveis pelo projeto eram os Professores Fernando Curado e Raymond Paul Shepard, respectivamente do Departamento de Ciências da Computação (DCC) do então Instituto de Matemática, Estatística e Ciências da Computação (IMECC-UNICAMP) e do Departamento de Psicologia da Educação (DPE) da FE-UNICAMP. Li com atenção, quis conhecer o grupo que estava apresentando o projeto, envolvi-me nele e no assunto, e, assim, a Tecnologia — mais especificamente, as Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTIC) — se tornou um novo interesse meu, que persistiu durante a década de oitenta e a maior parte da década de noventa, até por volta de 1997. Em 1983 criei, na UNICAMP, junto à Reitoria (dado o seu caráter interdisciplinar) o Núcleo de Informática Aplicada à Educação (NIED), que dirigi até 1986, quando fui para a Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, Núcleo que existe até hoje, 36 anos depois. Assim, esse foco de interesse na Tecnologia, especialmente a que se aplica à Educação, cobre os anos de 1980-1997. Com o passar do tempo me aventurei também pela aplicação da Tecnologia às áreas da Saúde e da Administração de Empresas (tendo participado, devidamente autorizado pela UNICAMP, da equipe que criou o Mestrado Profissional em Gerenciamento de Sistemas de Informação na vizinha Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUCCAMP), em Campinas, SP-BR.

A partir de 1998 comecei a dar consultoria, na área de Tecnologia Aplicada à Educação, para duas importante organizações. Primeiro, a Microsoft (primeiro no Brasil, depois na Matriz e worldwide), que queria acrescentar escolas ao seu mercado de software e melhorar a formação do pessoal que, mais cedo ou mais tarde, poderia vir a trabalhar para a empresa. Segundo, para o Instituto Ayrton Senna, que queria passar a atuar no mercado escolar de uma forma inovadora e mais criativa.

Nesse período de quinze anos, que foi de 1998 a 2013, gradualmente percebi que havia uma expectativa de que a introdução da Tecnologia na Educação Escolar pudesse mudar a escola e transformá-la em uma instituição melhor, inovadora e criativa. Logo percebi que a Tecnologia, em si, nada muda, e, por conseguinte, não inova e não melhora a qualidade da educação escolar. Cansei de ver computadores, então muito caros ainda, sendo usados em escolas puramente como máquinas de escrever, projetores, e arquivos de informação. A tecnologia entrava para fazer (agora, talvez, de forma um pouco mais rápida, confortável e eficiente) as mesmas coisas que já eram feitas há anos na escola, se não há décadas e séculos, quem sabe milênios. Notei que, quando os computadores se interconectaram em redes e se tornaram portáteis (por terem adquirido o tamanho de telefones móveis), eles começaram a se tornar mais interessantes para os alunos, como ferramenta de comunicação (recado, bate-papo, e-mail). Mas, nessa modalidade, em que cada aluno podia ter o seu equipamento, o uso da Tecnologia, pelo aluno, em sala de aula, ou mesmo dentro dos muros da escola, começou a ser controlado e mesmo proibido. Isso para mim deixou claro que a Tecnologia era (relativamente) bem-vinda quando era para usada para permitir que os professores fizessem as mesmas coisas de sempre, mas agora de forma mais rápida, confortável, eficiente, e, quiçá, mais atraente, mas que não era bem-vinda quando disponível para os alunos, podendo ser usada por eles de forma “disruptiva”, de modo a perturbar ou mesmo subverter os processos pedagógicos em vigência…

Ao perceber isso, ficou-me claro que não bastava introduzir a Tecnologia na escola, pois ela podia ser usada de forma “conservadora”, para fazer de forma mais conveniente o que já, antes, era feito, ou, no máximo, para estender o escopo de suas práticas, mantido o paradigma, isto é, preservando os modelos de ensino, mas fazendo com que alcançassem “alunos remotos”, localizados a distância, sem nenhuma mudança significativa nos processos, e, por conseguinte, sem nenhuma inovação. Meu interesse, assim, gradualmente se moveu para o entendimento e a gestão dos processos de mudança e inovação — estejam eles nas empresas, nas organizações não-lucrativas, nos governos, ou, naturalmente, nas escolas, nas coisas do dia-a-dia, e nos demais ambientes em que as pessoas aprendem (em casa, no trabalho, no lazer, nos momentos de leitura e reflexão, etc.). Quem muda e quem inova são pessoas, não é a Tecnologia. Esta simplesmente pode ajudar, facilitar, potencializar os processos de mudança e inovação desejados e conduzidos por pessoas, sozinhas ou em grupo — ou, então, na direção oposta, para conservar, fortalecer e tornar mais eficientes os processos convencionais utilizados para controlar os processos unidirecionais de transmissão de informação dos professores para os alunos.

Por fim, de 2013 para cá, dada a situação política do país, vim a me interessar por Política — sem abandonar o interesse na Educação e na Tecnologia. Em princípio, interessei-me pelo potencial que Mídias Interativas, usando Redes de Computadores e Outros Dispositivos Digitais (tablets, smartphones, etc.), podem ter na viabilização de Redes Sociais, totalmente horizontais, de alcance imprevisível, com impactos quase que instantâneos, na Política, e, com resultados potencialmente fantásticos, na Educação, em especial na área de Aprendizagem Ativa, Interativa e Colaborativa, voltada para a Construção de Capacidades e o Desenvolvimento de Competências. Isso me levou a reestudar a História, com  o olho mais focado no impacto da Tecnologia, não só as NTIC, como também as demais tecnologias, como as de Transporte e até mesmo as Bélicas (estas que estavam na raiz da invenção da Computador e das Tecnologias Digitais em Geral). Foi essa questão que me levou a voltar a estudar a História, com o foco na História Social, Política, e Militar.

É aqui que estou, nesta última etapa da minha vida.

III. Esboço de Algumas Ideias sobre o Assunto do Título

A história da fundação de Roma nos chega revestida de lendas e mitos sobre Rômulo e Remo, a loba, etc., no longínquo século 8 AC, quase três mil anos atrás.

Mas sabemos, agora mais como História (fatos) do que como Estória (lendas e mitos), embora sem muita garantia de que essa História reflita “was es wirklich gewesen ist“, o que realmente aconteceu: que de 509 AC até 27 AC houve, na região de Roma, uma República, e, a partir de 27 AC, um Império, que se expandiu por boa parte do mundo então civilizado, até 476 AD, no mundo  ocidental, o Império Romano Ocidental, até 1453, no mundo oriental, o Império Romano Oriental.

Sabemos, também, que:

(a) o Império Romano Ocidental começou a se desmantelar a partir de 410 AD, com o início da invasão de seus espaços por Tribos Germânicas vindas do Norte (a antigamente chamada de “Invasão dos Bárbaros”: Godos, Visigodos, Ostrogodos, Hunos, etc.);

(b) antes disso, o Império Romano havia incorporado a Igreja Cristã a si próprio, através do Imperador Constantino, em 313 AD, e do Imperador Teodósio, em 381 AD, misturando os negócios da Igreja aos seus próprios, e tornando a Igreja Cristã a Igreja Oficial do Império;

(c) com a extinção do Império Romano Ocidental em 476 AD, a Igreja Cristã, em especial no Ocidente, entrou no vácuo do extinto Império e assumiu várias de suas funções, na área administrativa, jurídica, cultural, reivindicando até mesmo uma certa ascendência sobre a área e o poder político;

(d) no ano 800 AD o Imperador Carolíngio Carlos, de origem francesa (gaulesa), tendo conquistado vários de seus vizinhos, a Oeste e a Leste, neste caso envolvendo parte das tribos tipicamente germânicas, as alemãs, pretendeu, com base nisso, junto ao Papa, o seu reconhecimento como Imperador de um Novo Império Romano, meio gaulês – meio germânico, que, se reconhecido pela autoridade religiosa, poderia ser considerado Sacro e servir ao Poder Religioso como seu “braço militar”, vindo a ser assim reconhecido no Dia de Natal de 800 AD, e recebendo o glorioso nome de Carlos Magno, Charlemagne, Karl der Große (Grosse);

(e) no século seguinte o trono do Sacro Império Romano do Ocidente caiu nas mãos de Otto, germânico e alemão, que veio a ser Otto I (dentre vários), e que tornou o Sacro Império Romano um Império tipicamente Germânico, na parte central da Europa, vinculado ao Papado, e coexistindo com Reis Franceses que procuraram criar seu próprio Império, conseguindo apenas manter o reinado de uma nação, ainda que importante;

(f) esse Sacro Império Romano-Germânico do Ocidente sobreviveu, como tal, até por volta do ano 1806, quando foi desmantelado por Napoleão, que buscava criar seu próprio Império, sendo considerado por muitos o Segundo Império Romano no Ocidente, mas o Primeiro Império Alemão da Europa (das erste Reich);

(g) os estados germânicos, sacudidos que foram pelo choque napoleônico, voltaram a se reunir, em 1815, como Confederatio Germanica, ao Norte, e, em 1871, depois da vitória sobre a França na Guerra Franco-Prussiana, debaixo da liderança firme do Premier Bismarck, como o Segundo Império Alemão (das zweite Reich), elevando Wilhelm I, da Prússia, à categoria de Imperador (Kaiser) da Alemanha;

(h) esse Segundo Império conquistou colônias fora da Europa, estimulando o seu apetite de se tornar um Império maior do que o Britânico, então o maior do mundo;

(i) seus vizinhos, ao Oeste (França e Reino Unido) e ao Leste (a Grande Rússia) não viram com muitos bons olhos esse apetite territorial e, nesse clima, acabou se desencadeando a então chamada Grande Guerra de 1914-1918 (a Primeira Guerra Mundial), que destruiu as pretensões da Alemanha, acabou também com o Império Otomano, dos Turcos, que vinha controlando o que havia sido o Império Romano do Oriente, e acabou levando a Rússia ao Comunismo com o seu império próprio e sob o nome de União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS);

(j) inconformada, não só com a derrota, como com seu tratamento nas mãos dos vitoriosos, a Alemanha, depois e um pequeno ínterim democrático, a chamada República de Weimar (1919-1933), acabou por se aventurar em uma nova aventura de guerra com objetivos imperiais, designando-se, já sob a liderança do seu Chanceler e, depois, também Presidente, Hitler, “das dritte Reich“, o Terceiro Império, anexando a Áustria e aliando-se à Itália, conquistando a Polônia e boa parte dos países do Leste Europeu, para não falar nos Países Bálticos, nos chamados Países Baixos (Holanda, Bélgica, Luxemburgo), e na própria França, e decidindo, ao mesmo tempo, invadir a URSS e a Grã-Bretanha — conseguindo no primeiro, mas não no segundo, caso.

Moral da história: a Alemanha perdeu, e perdeu feio. Foi dividida entre Aliados do Ocidente (Inglaterra, Estados Unidos e a invadida, mas libertada França) e o grande Aliado do Oriente, a URSS (invadida, mas que foi capaz de reagir e rechaçar o inimigo, não sem inúmeras perdas próprias). A Alemanha foi obrigada a desmilitarizar-se. Mas, com a ajuda americana, se recompôs social, cultural e economicamente, e se reunificou, em 1991, voltando a ser  país mais importante da Europa, líder inconteste dentro da União Europeia (com a França tentando tocar “segundo violino”, especialmente depois de a Grã-Bretanha haver anunciado sua saída do bloco, já que é notoriamente incapaz de reger a orquestra, posição que cabe à Alemanha).

Mas há uma outra moral da história que me preocupa.

Se pegarmos um mapa político da Europa e traçarmos uma linha vertical (um meridiano) que passe por Roma, indo em direção do Norte, ele vai cruzar a ponta Leste da Áustria, perto de Innsbruck, passar por München (Munich / Munique) no Sul da Alemanha (Bavaria) e chegar ao Norte entre Hamburg e Berlin. Indo mais adiante, entra na Dinamarca.

Entre a Alemanha de hoje e a Itália estão um pedacinho da Áustria (que fala predominantemente Alemão) e a Suíça inteira, que mesmo inteira é menor do que o pedacinho da Áustria (e que, predominantemente, também fala o Alemão).

O Império Romano (o Antigo) tinha sede em Roma, na Itália. Depois, passou a ter duas sedes, a segunda em Constantinopla, mas a sede Ocidental continuou em Roma. Quando o Império Romano Ocidental caiu, mediante ataque de tribos Germânicas, vindas do Norte, a Igreja Católica com sede em Roma, e, portanto, Romana, assumiu boa parte de suas funções e conseguiu converter ao Cristianismo boa parte das tribos germânicas.

Cristianizadas, essas tribos germânicas recriaram, sob a proteção espiritual do Papa de Roma, o Império Romano Ocidental, agora sacralizado pela proteção espiritual da Igreja. Esse segundo Império Romano no Ocidente foi, a partir de 962 AD, o Primeiro Império Europeu Germânico. Sua sede ficou sendo principalmente a cidade de Aachen (Aix-la-Chapelle), perto do ponto em que a Alemanha, a Bélgica e a Holanda convergem.

Esse Império foi desmantelado, mas não destruído, por Napoleão, mas em 65 anos se reconstituiu, sob Bismarck (sendo Imperadores Wilhelm I, Friedrich III, e Wilhelm II), formando o Segundo Império Europeu Germânico, agora também com extensões coloniais, fora da Europa (especialmente na África).

Derrotado na Primeira Guerra, desmantelado e humilhado com multas, compensações, reparações e punições diversas, mas não totalmente destruído, o Segundo Império Alemão se metamorfoseou, primeiro em uma democracia meio de araque (a chamada República de Weimar, criada em 1919), e, vinte anos depois, estava reconstituído como Império Potencial, sob Hitler, com força militar e poderio econômico para fechar um tratado de Anexação  da Áustria (afinal de contas, Hitler era austríaco, de Linz), para incorporar ao seu territórios as áreas predominantemente germânicas da então Tchecoeslováquia, para invadir a Polônia, parte dos Países Bálticos, os Países Baixos, a França,  e para atacar e tentar invadir a Grã-Bretanha — e isso tudo em Aliança com a Itália de Mussolini.

Dois anos depois, a Alemanha de Hitler invadiu a URSS, com quem mantinha um Tratado de Não-agressão, e por pouco não a conquista, assumindo controle quase total e absoluto da Europa Central e Oriental.

Não fosse o fato de que seus aliados asiáticos, os japoneses, resolveram insultar os EUA, que resolveu entrar na guerra, no meio-tempo da guerra, por assim dizer  (embora não se soubesse disso na ocasião), os alemães teriam conquistado a maior parte da Europa. E se tivessem conseguido evitar que os Japoneses dessem aos americanos a deixa para ir lutar na Europa, a Alemanha teria conquistado facilmente também a Espanha e Portugal e, com esses dois países, arrematado a Europa Inteira, Central, Leste, Oeste, Norte e Sul.

Mas a Alemanha perdeu a Segunda Guerra também, basicamente para os Estados Unidos e para a URSS. Em 1945 a Alemanha estava arrasada em todos os aspectos — e dividida em duas partes entre os Estados Unidos e a URSS. A parte que ficou com os EUA, e, portanto, livre, se desenvolveu com extrema rapidez e em 45 anos estava em condições de reabsorver a outra parte.

Hoje temos a União Europeia. E quem é o país mais rico e poderoso da União Europeia? A Alemanha.  A União Europeia de hoje é, do ponto de vista político e econômico, o Quarto Império Alemão — das vierte Reich. E fez isso, desta vez, sem guerra convencional. Com tecnologia, especialmente soft.

É algo para refletir.

Em Salto, 9 de Julho de 2019.

#SPEXIT



Categories: Autobio, Autobiography, Domination, Germany

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