1. Introdução: Mudanças nas Áreas de Atividade Humana
Este artigo pouco tem de original e criativo. Ele é uma compilação de material publicado em alguns livros e vários sites (que serão mencionados) e uma tentativa de sistematização do que se entende por revolução numa determinada área de atividade humana, como, por exemplo, as seguintes:
- Área de Comunicação e Fluxo de Informações (geralmente chamada de “Informação e Comunicação”, nessa ordem)
- Área de Produção de Bens e Serviços (que inclui a Agropecuária, a Manufatura Artesanal, a Indústria, e os Serviços)
- A Área de Permuta / Troca / Compra-e-Venda de Bens e Serviços (que inclui o Comércio e o Mercado)
- A Área de Locomoção Pessoal e Transporte de Bens e Serviços
- A Área de Estudos, Pesquisas, Treinamento e Educação
- A Área das Artes e da chamada “Alta Cultura”
- A Área de Lazer, Turismo e Esportes
Só tentar fazer uma lista mais ou menos ordenada dessas áreas de atividade humana já é um exercício interessante, no qual vale a pena investir. Tentar descobrir as principais mudanças que ocorreram dentro de cada uma dessas áreas, causando rupturas, mudanças de paradigma, etc. é algo mais interessante ainda, embora mais difícil – mas é o que vou tentar fazer. Chamar essas rupturas e mudanças de revoluções é comum em alguns casos, como no da Revolução Industrial, mas não em outros. Mas mesmo quando não normalmente identificadas com esse rótulo específico, porém, todas essas áreas sofreram, ao longo do tempo (às vezes séculos, outras vezes até milênios), mudanças revolucionárias.
Antes de entrar diretamente no assunto, faço três observações preliminares:
Primeira: Essa classificação de áreas de atividade humana é razoavelmente pessoal e até certo ponto arbitrária, pois há áreas de atividade que podem até ser chamadas de transversais, porque penetram e atravessam as demais (ou pelo menos várias das demais), como no caso de Comunicação e Fluxo de Informações; Locomoção Pessoal e Transportes de Bens e Serviços; Estudos, Pesquisas, Treinamento e Educação; etc.
Segunda: Quase sempre, quando há uma mudança significativa na maneira de fazer as coisas dentro de uma determinada área de atividade humana, ela ocorre porque uma nova tecnologia passou a ser importante naquela área – mesmo que essa tecnologia não tenha suplantado totalmente a tecnologia anteriormente vigente e dominante, esse fato fazendo com que, por vezes, várias tecnologias convivam de forma relativamente pacífica em uma determinada etapa de desenvolvimento daquela área (algo que se verá especialmente na área de Comunicação e Fluxo de Informações, que será discutida no Capítulo 2).
Terceira: Não vou nem de longe comentar todas as áreas. Vou começar fazendo uma rápida análise da área de Comunicação e Fluxo de Informações, que é uma área na qual tenho especial interesse (Capítulo 2), e, depois, passar para a área de Produção de Bens e Serviços, onde se encaixa a chamada Revolução Industrial (Capítulo 3) [1].
2. A Área de Comunicação e Fluxo de Informações
A primeira grande mudança que ocorreu na área de Comunicação e Fluxo de Informações, mudança que certamente merece o nome de revolução, veio com a invenção de uma tecnologia que pouca gente considera como tal: a tecnologia da linguagem [2]. Hoje o termo português “linguagem” é usado numa multiplicidade de sentidos (linguagem corporal, linguagem gráfica, linguagem cênica, linguagem cômica, etc.), fato que, a meu ver, só cria confusão. Tenho em mente aqui, quando falo em tecnologia da linguagem, a linguagem em seu sentido clássico, isto é, inicialmente, a linguagem vocal-verbal, isto é, que envolve o uso de ruídos consistentes produzidos pela voz humana (donde o “vocal”), ruídos esses que, no devido tempo, são identificados e caracterizados como palavras, que têm um sentido que vai além delas próprias (donde o “verbal”). Esse fenômeno produziu, em uma etapa inicial, o a linguagem oral humana, ou, de forma mais simplificada, a fala humana. (O fenômeno da linguagem escrita vai caracterizar uma segunda etapa dessa atividade, na forma de uma nova tecnologia, como veremos).
A fala humana, assim, é uma tecnologia que usa sons produzidos pela voz humana, que podem ser classificados em simples (fonemas) e complexos (palavras, que envolvem combinações de fonemas, e frases que envolvem combinações de palavras), sons esses que, a partir de um determinado momento, são usados como símbolos para se referir a coisas e outras pessoas, e, combinados em frases, até para se referir a acontecimentos e eventos que ocorrem com certa regularidade. O sentido de um símbolo está sempre em apontar para além de si mesmo.
Antes dessa etapa inicial, criada pela invenção dessa tecnologia da fala humana, havia comunicação e fluxo de informações, mas ele era não verbal, tendo lugar, não através de palavras, mas, sim, por gestos, como o de apontar, ou através da mímica e de outras expressões corporais, e, quando muito, por meio de grunhidos, que são sons que podem ir dos razoavelmente agradáveis e amáveis aos assustadores e intimidatórios, mas que não são caracterizáveis como palavras e frases. Um cão que faz ruídos agradáveis e amáveis quando vê seu dono ou late e rosna ferozmente para desconhecidos (ou para outros animais, ou mesmo para outros cães) está se comunicando dessa forma não-verbal que antecede a invenção da linguagem tipicamente humana, a linguagem vocal-verbal.
Por incrível que pareça não existe nada parecido com um consenso sobre como e quando surgiu a linguagem vocal ou verbal – que parece existir apenas entre os humanos. Isso é lastimável, porque muitos estudiosos, mesmo sem chegar a uma data definida para o surgimento dessa linguagem, identificam o seu surgimento como marco significativo do aparecimento do Homo Sapiens. Estimativas tão abrangentes a ponto de se tornaram virtualmente inúteis, afirmam que isso teria dado em algum momento no período que vai de 150 mil a 50 mil anos atrás… Como se vê, a precisão não é a característica mais notável desses estudos! Outra característica, além do quando, é o como. De que forma surgiu a linguagem vocal-verbal, a fala humana, ou, ainda alternativamente, a oralidade? A fala humana tem continuidade com a forma precária de comunicação anterior, por gestos, expressões corporais e grunhidos, ou ela é algo inteiramente novo, descontínuo, um salto na evolução, salto esse que veio a produzir o Homo Sapiens – o homem que sabe, que constrói conhecimentos, etc.?
Charles Darwin apostou na tese da continuidade entre a Linguagem Vocal-Verbal e as formas precárias de comunicação anteriormente existentes. Disse ele:
“I cannot doubt that language owes its origin to the imitation and modification, aided by signs and gestures, of various natural sounds, the voices of other animals, and man’s own instinctive cries.” [“Não posso duvidar de que a linguagem deve sua origem à imitação e à modificação, acrescidas de sinais e gestos, dos vários sons naturais, das vozes de outros animais, e dos ruídos e gritos instintivos do homem”.] [3]
Noam Chomsky, por sua vez, escrevendo cerca de um século depois, acredita na tese da descontinuidade. Segundo ele,
“A single chance mutation occurred in one individual in the order of 100,000 years ago, installing the language faculty (a component of the mid-brain) in ‘perfect’ or ‘near-perfect’ form.” [“Uma única mutação, produzida ao acaso, ocorreu em um indivíduo, cerca de 100.000 anos atrás, instalando nele a faculdade da linguagem (um componente do cérebro médio) em uma forma ‘perfeita’ ou ‘quase perfeita'”.] [4]
Já Steven Pinker acredita que a linguagem vocal-verbal é inata no ser humano, embora tenha se manifestado de forma evolutiva, e não de forma já basicamente pronta, “perfeita” ou “quase perfeita”, como pretende Chomsky [5].
Por aí se vê quão confiável é a ciência, em especial quando trata de questões relacionadas ao homem…
Ficando no plano natural, minha simpatia fica mais com Darwin: fico do lado da continuidade. Mas estou convicto de que, muitas vezes, uma pequena mudança no plano quantitativo faz com que a água do copo se complete e transborde, produzindo algo que pode ser chamado de uma mudança qualitativa.
É interessante comparar essas tentativas de explicação da fala humana com algo como o relato bíblico, contido no livro de Gênesis… Ali se afirma que Deus criou o homem já pronto, capaz de entender a fala (no caso, a divina), capaz de falar, ele próprio, com Deus e, em seguida, com sua companheira… (Ela, mais loquaz, conseguiu falar até mesmo com o Diabo, disfarçado de serpente…) Provavelmente, os Hebreus acreditavam que Deus falava hebraico, razão pela qual o homem foi criado tendo, de fábrica, o hebraico como sua língua materna (paterna?) e natural. De qualquer maneira, embora Deus tenha dado a Adão a tarefa de dar nomes às coisas, mesmo antes disso Deus e Adão já conversavam. A história da Torre de Babel se originou para tentar explicar por que, embora tendo tido, como se supõe, uma origem singular e única, a espécie humana veio a falar tantas línguas diferentes…
Enfim… A maturação, ou, como eu prefiro, a invenção da fala humana parece marcar o início da primeira revolução na área de atividades classificada como Comunicação e Fluxo de Informações.
As demais revoluções são bem mais conhecidas e bem menos controvertidas, exigindo menos atenção.
A segunda revolução tem início com a invenção, aparentemente pelos fenícios, com aperfeiçoamento pelos gregos, da linguagem escrita alfabética (isto é, usando um número limitado de sinais gráficos, as letras de um alfabeto, para representar qualquer um dos vários conjuntos de som que caracterizassem a fala humana em uma determinada língua. (Cada língua tem um número de fonemas próprio, por isso o número de fonemas da língua grega ou da língua inglesa não é igual ao número de fonemas da língua portuguesa.) Isto teria se dado por volta dos anos 1.000 a 750 AC [6].
Registre-se que, ao inventar a linguagem escrita alfabética, o ser humano de modo algum desprezou a linguagem oral, ou a fala: as duas conviveram muito bem na segunda etapa, e, na realidade, felizmente, convivem até hoje.
A terceira revolução aconteceu com a invenção da tecnologia da impressão gráfica, isto é, com a invenção da prensa tipográfica por Johannes Gutenberg, por volta de 1455 [7].
Registre-se, novamente, que ao inventar a impressão gráfica, o ser humano de modo algum desprezou a escrita manuscrita, que convive com a linguagem oral e a linguagem escrita impressa até hoje. Felizmente – imaginem se as escolas tivessem, hoje em dia, como aparentemente já acontece na Finlândia, de abandonar o ensino da caligrafia, por ela ter se tornado uma “forma de escrita morta”!
Por fim, a quarta revolução aconteceu com o surgimento da tecnologia digital, em meados do século 20 (o primeiro computador eletrônico foi concluído em 1945, e posto para fazer algo útil em 10 de Dezembro daquele ano), mas se popularizou apenas depois da invenção dos microcomputadores, no final da década de 1970 [8].
Para concluir este capítulo, temos quatro grandes revoluções na área de Comunicação e Fluxo de Informações, e todas elas foram desencadeadas em decorrência da invenção de uma nova tecnologia, que foi essencial no surgimento de uma nova era [9]:
- A Era da Linguagem Falada (simplificando: fala humana, oralidade), com a tecnologia da linguagem vocal-verbal
- A Era da Linguagem Escrita (simplificando, escrita manuscrita), com tecnologia da Linguagem Escrita Alfabética
- A Era da Linguagem Impressa (simplificando, impressão gráfica), com a tecnologia da Prensa Tipográfica
- A Era da Linguagem Digital (simplificando, digitalização), com a tecnologia do computador e suas diversas “mutações”: microcomputador, notebook, tablet, smart phone, etc.
3. A Área de Produção de Bens e Serviços
Aqui a questão é um pouco mais complexa, mas, talvez, não tão interessante, por estar mais distante de nós, pessoas interessadas na educação, para quem a área de Comunicação e Fluxo de Informações é mais próxima. Em princípio, podemos dividir as eras aqui em três (seguindo Alvin Toffler) – mas a coisa não é tão nítida, nem fica sempre muito claro qual a tecnologia que serviu de catalista para o surgimento de uma nova era. As três eras seriam:
- A Era da Agropecuária
- A Era Industrial
- A Era dos Serviços
Há autores que se concentram na era industrial, que já é um assunto bastante complexo em si mesmo, distinguindo três ou quatro etapas dentro dela. A introdução da era da agropecuária, antes da era industrial, e da era dos serviços, depois, como prefere Toffler, ao falar em “Três Ondas”, complica a análise ainda mais.
Registre-se que, da mesma forma que, no capítulo anterior, a primeira era que representa uma revolução, a da fala humana, veio precedida de uma era em que havia alguma comunicação e algum fluxo de informações, mas sem linguagem vocal-verbal, apenas através de gestos, outros movimentos corporais, e grunhidos, neste capítulo, a primeira era que representa uma revolução, a da agropecuária (inicialmente de baixíssima tecnologia), foi precedida de uma era em que as pessoas, tipicamente nômades, simplesmente colhiam frutos de arbustos e árvores (gathering and picking), caçavam (hunting), pescavam (fishing) e extraíam da natureza outros insumos (extracting), como madeira, fibras de plantas, pedras, areia, barro/argila, etc.) úteis para a sua sobrevivência. Assim viviam. Acabando o que podiam colher, caçar, pescar ou extrair, mudavam-se para outro lugar, onde pudessem encontrar mais recursos naturais, nunca criando raízes em uma determinada localidade. Esses nômades, que em geral viviam em pequenos bandos, tinham pouquíssimas posses, nenhuma propriedade privada imóvel, como um terreno ou uma casa, vivendo em cavernas, barracas ou tendas, porque ficavam em geral pouco tempo em um determinado lugar, tendo de partir assim que os recursos ali disponíveis terminavam ou ficavam escassos.
A civilização, propriamente dita, surgiu, em sua primeira era, na área de Produção de Bens e Serviços, ou (para usar a expressão tornada popular por Toffler) na sua primeira onda, quando a raça humana deixou de ser nômade e se tornou sedentária: acomodou-se em um determinado lugar, que escolheu para ser seu local de residência. Ali teve início a era da agropecuária. Isso se deu, segundo Toffler, cerca de dez mil anos atrás, por volta do século 8 AC. Nessa era, o ser humano começou a:
- construir casas, depósitos, locais de sacrifício e adoração, e criar mecanismos (normas e leis, por exemplo) e instituições (voltadas para a legislação, a vigilância, a aplicação das normas e leis) que organizam e tornam viável a vida em sociedade estável (elemento de sedentariedade);
- criar animais domésticos (treinados para produzir companhia e segurança) e animais pastoreáveis (rebanhos de cordeiros e ovelhas, por exemplo), usando esses animais para transporte e carga, usando a lã dos cordeiros e ovelhas para fazer roupas e agasalhos, usando o leite das ovelhas como alimento, empregando os animais maiores (como cavalos), depois de inventado o arado, para puxá-lo (elemento de pecuária);
- cultivar a terra, plantando árvores, arbustos, hortaliças e sementes de vários tipos (trigo, cevada, milho, etc.) que produzissem alimentos e nutrientes que pudessem ser consumidos pelo grupo, estocados para tempos de escassez, ou trocados por outros produtos com grupos vizinhos (elemento de agricultura).
Esta é considerada a primeira era da civilização, propriamente dita. A energia para o trabalho era tipicamente a força animal, vindo do próprio ser humano ou dos animais que ele criava. Várias tecnologias contribuíram para o aparecimento dessa era: implementos, instrumentos e ferramentas (feitos de madeira, ossos, pedra, oportunamente de ferro) que ajudavam na agricultura, a construção de moradias de madeira, barro e, para o telhado, folhas, etc. Os meios de locomoção, transporte e produção eram os animais, especialmente os de montaria ou aqueles capazes de puxar algum tipo de charrete, carroção ou arado.
Essa primeira revolução na área de Produção de Bens e Serviços, a era da agropecuária, durou muitos séculos – na verdade, vários milênios. Ela teve início, segundo Toffler, dez milênios (dez mil anos) atrás – e ainda continua a pleno vapor, fazendo, hoje, uso das mais modernas tecnologias introduzidas nas eras seguintes (a era industrial e a era digital).
O que Toffler chama de “segunda onda” da civilização começa com a era industrial, que geralmente tem seu início colocado por volta de 1650-1750. Seu auge durou cerca de 300 anos, alcançando seu ponto mais alto por volta de 1950, depois da Segunda Guerra Mundial, quando começou a ceder lugar para a era seguinte, a era digital, como veremos num instante.
Há autores que quebram a era industrial em duas eras menores, ou mesmo até em três, considerando a era seguinte, a era digital, como a terceira era industrial – proposta de que eu, na trilha de Toffler, discordo). Mais ou menos assim:
Do início (que coloquei em 1650) até por volta de 1850, um período de duzentos anos, teria havido a chamada primeira era industrial, que substituiu, em grande parte, o trabalho manual, geralmente doméstico e artesanal, pelo trabalho assistido por máquinas operadas por água ou vapor, que padronizaram, aceleraram ou mesmo (em alguns casos) automatizaram totalmente o processo de produção de bens. Esse processo foi revolucionário não só pelas alterações que essa era produziu na manufatura de bens, em si, mas por ter provocado a transferência significativa de pessoas das zonas rurais, em que trabalhavam na agropecuária, para as cidades, onde passaram a trabalhar na indústria. Esse foi um período de rápida urbanização, nunca antes vista. Outra mudança significativa foi o uso das máquinas a vapor também para mover navios, fato que transformou a navegação (que até então usava ou o trabalho manual, através dos remos, ou o ar, aproveitado pelas velas), e para a criação das primeiras Estradas de Ferro. Nessa primeira era industrial as principais indústrias eram as tecelagens e aquelas que fabricavam bens para uso humano e insumos (como alimentos) para consumo humano.
De cerca de 1850 até cerca de 1950, em um período de cem anos (que inclui, na segunda metade do século 19, as guerras de unificação nacional na Europa e a Guerra Civil nos Estados Unidos, e, na primeira metade do século 20, as duas guerras mundiais, que alimentaram o desenvolvimento industrial), a chamada segunda era (ou revolução) industrial substituiu, em grande parte, as máquinas a vapor por máquinas elétricas, incrementando, significativamente, os processos de automação industrial e, no devido tempo, iniciando os processos de automação de serviços, com a introdução de máquinas de escrever e de calcular, originalmente mecânicas, e móveis para escritórios e residências.
O processo envolvendo o entendimento, o domínio e a “industrialização” e “domesticação” da energia elétrica e a criação de máquinas elétricas, é, em si, uma história fascinante, que cobre vários séculos, basicamente andando junto com a Primeira Era Industrial. Mas foi só a partir da segunda metade do século 19 que a energia elétrica começou a ser aproveitada nas fábricas (com máquinas elétricas), nas residências (com a iluminação elétrica e o uso de utilitários domésticos elétricos), nos espaços públicos (ruas e praças), bem como na Comunicação e no Fluxo de Informações (com a invenção do telégrafo, do telefone, do rádio, da televisão e do próprio computador [10]), para não mencionar máquinas de escrever e calcular elétricas, e também nos Transportes (com a Ferrovia Elétrica). Outros tipos de transporte, como a bicicleta, o automóvel, e o avião requeriam outro tipo de energia, que não a elétrica – até pouco tempo atrás. Aqui surgiram as principais indústrias que continuam até hoje, como as voltadas para a fabricação de locomotivas e vagões (passageiros e cargas) para as Estradas de Ferro, a fabricação de automóveis, ônibus e caminhões, a fabricação de aviões, a fabricação de equipamentos e insumos usados em guerras, etc. As grandes companhias de exploração, refino e comercialização de petróleo surgiram nessa época também, e foi nessa época que começaram a ser construídas rodovias que cruzavam os países.
A partir da invenção do computador eletrônico, em 1945, surge (como preferem alguns) a terceira era (ou revolução) industrial, ou, como eu prefiro, nisto seguindo Toffler, uma nova era, que gradualmente está colocando fim à indústria convencional, e que veio a ser batizada com muitos nomes, mas que é normalmente conhecida como a era da informação (por ser a informação o principal insumo), ou a era do conhecimento (por se acreditar que o conhecimento é o seu principal produto), ou a era digital, por ser o computador eletrônico digital, em suas diversas gerações e mutações, a principal tecnologia. Mas sem energia elétrica, é bom registrar, o computador não funciona…
Como a história dessa era está próxima demais de nós, pois é nela que estamos vivendo, dispenso-me de analisá-la e encerro aqui este trabalho.
Em Salto, 16 de Novembro de 2019
Notas
[1] A ideia deste artigo surgiu de uma conversa com minha mulher a propósito da demarcação da Revolução Industrial. No processo, constatei a existência de autores para os quais não houve apenas uma, mas duas revoluções industriais. Verifiquei também existirem autores que acham que há três, e alguns (um minoria) que acreditam haver quatro.
[2] Chamo de tecnologia tudo aquilo que, não sendo natural, isto é, não existindo na natureza ou não sendo inato no ser humano, é inventado por ele para tornar a sua vida mais fácil (ferramentas – tools) ou mais agradável (brinquedos – toys). Reconheço que essa é uma definição ampla e, talvez, demasiado genérica, mas continuo com ela.
[3] Apud Wikipedia (EN), “Origin of Language”, https://en.m.wikipedia.org/wiki/Origin_of_language. A citação vem de The Descent of Man (1851).
[4] Apud Wikipedia (EN), “Origin of Language”, https://en.m.wikipedia.org/wiki/Origin_of_language. A citação vem de Powers and Prospects: Reflections on Human Nature and the Social Order (1996).
[5] Apud Wikipedia (EN), “Origin of Language”, https://en.m.wikipedia.org/wiki/Origin_of_language. A referência é especialmente a The Language Instinct (1994), embora Pinker trate da questão em muitos outros livros e artigos.
[6] Apud Wikipedia (EN), “Origin of the Alphabet”, https://en.wikipedia.org/wiki/History_of_the_alphabet. Aparentemente, o alfabeto fenício-grego se baseou em um protoalfabeto semítico, que não continha vogais, inventado em algum momento antes do ano 1.000 AC. Por causa da ausência de vogais desse protoalfabeto, o fenício-grego é considerado o primeiro “verdadeiro alfabeto”. Compare-se também o curto mas instrutivo artigo de Laura Schumm, “Who created the first alphabet?”, no site History, em https://www.history.com/news/who-created-the-first-alphabet. Vide também o artigo “The Origin of the English Alphabet”, atribuído simplesmente a Melissa, no site Today I Found Out: Feed your Brain, em http://www.todayifoundout.com/index.php/2013/09/the-origin-of-the-english-alphabet/. Compare-se, por fim, o instigante livro de Walter Ong, Orality & Literacy: The Technologizing of the Word (Routledge, London & New York, 1982).
[7] Comparem-se estes livros de Elizabeth L. Eisenstein, The Printing Revolution in Early Modern Europe (Cambridge University Press, Cambridge [UK], 1983), e, especialmente, seu monumental The Printing Press as an Agent of Change: Communications and Cultural Transformations in Early-Modern Europe (2 vols, Cambridge University Press, New York and Cambridge [UK], 1979). Compare-se também, de Frédéric Barbier, L’Europe de Gutenberg: Le Livre et l’Invention de la Modernité Occidentale (Armand Colin, Paris, 2013).
[8] Comparem-se os seguintes artigos na Wikipedia (EN): “ENIAC”, em https://en.wikipedia.org/wiki/ENIAC, e “Microcomputer”, em https://en.wikipedia.org/wiki/Microcomputer. Gosto desse segundo artigo, porque ele diz o seguinte acerca do Commodore 64, meu primeiro microcomputador, adquirido em 1982, ano de seu lançamento, do fabricante canadense Commodore Business Machines: “The Commodore 64 was one of the most popular microcomputers of its era, and is the best-selling model of home computer of all time”. [“O Commodore 64 foi um dos mais populares microcomputadores de sua era é o modelo de computador doméstico mais vendido de todos os tempos”]. Quem se interessar por maiores detalhes sobre esse microcomputador, vide também o artigo o “Commodore 64”, em https://en.wikipedia.org/wiki/Commodore_64. As fontes bibliográficas sobre a Revolução Digital na área de Comunicação e Fluxo de Informações são inúmeras. Menciono apenas uma, que também me é especial: Peter Drucker, The New Realities (Harper Books, New York, 1989, 1994), tradução para o Português de Carlos Afonso Malferrari, sob o título As Novas Realidades (Livraria Pioneira Editora, São Paulo, 1989). Peter Drucker considera aparecimento da Revolução Digital e o consequente surgimento da Sociedade da Informação, produto da invenção do computador, uma Segunda Renascença. Ele afirma, nesse seu livro, que o livro impresso acabou por gerar a Primeira Renascença, em meados do Século 15, e o Livro Digital (o Texto Digital) gerou a Segunda, em meados do Século 20, cinco séculos depois.
[9] Compare-se o que diz Harold G. Shane acerca da evolução das tecnologias de Comunicação e Fluxo de Informação, em “The Silicon Age and Education”, in Phi Delta Kappan, Janeiro de 1982, pp. 303-308: “A comunicação humana, ao longo do tempo, passou por quatro revoluções distintas: a palavra falada; a palavra escrita; a palavra impressa; e, finalmente, a quarta revolução, potencialmente mais profunda e ainda em curso, que se iniciou com o rápido desenvolvimento das telecomunicações”. Compare-se também minha análise em meu livro Educação e Desenvolvimento Humano: Uma Nova Educação para uma Nova Era (2a edição, Mindware Education & Amazon Books, 2019), passim, mas especialmente no Anexo 1.
[10] O telégrafo e o telefone são tecnologias, alimentadas pela eletricidade, de comunicação bidirecional a distância — no caso do telégrafo, a comunicação se dá por texto, no caso do telefone, por voz. O telégrafo, na modalidade inventada por Samuel Morse, passou a ser usado de forma relativamente generalizada a partir de por volta de 1850. Os sinais elétricos, no caso do telégrafo, foram sempre transmitidos por fios e cabos. O telefone, na modalidade inventada por Alexander Graham Bell, passou a ser usado de forma relativamente generalizada a partir de por volta do último quarto do século 19, popularizando-se no início do século 20. Os sinais elétricos, no caso do telefone, foram inicialmente, e por bom tempo, transmitidos por fios e cabos, depois utilizando ondas magnéticas (as chamadas micro-ondas) para transmissão de sinais de estação para estação, continuando a chegar aos usuários finais por cabos e fios, e, finalmente, quando o telégrafo não era mais usado, tendo o sinal chegado até os usuários finais sem fio, através dos telefones chamados celulares ou móveis. O rádio e a televisão são tecnologias, também alimentadas pela eletricidade, que, inicialmente, faziam uso de ondas magnéticas para a transmissão dos sinais sonoros e visuais. A transmissão era unidirecional, de um emissor-transmissor, a estação de rádio ou televisão, para o usuário final. Somente no último quarto do século 20 os sinais de rádio e televisão começaram ser transmitidos via cabo. O italiano Guglielmo Marconi recebe o crédito de ter inventado a tecnologia de radiodifusão, no final do século 19. A estação comercial de rádio prefixo KDKA (operando na frequência 1020 AM), de Pittsburgh, PA, fundada por Harry P. Davis, Vice-Presidente da empresa Westinghouse, também de Pittsburgh, reivindica ser a primeira estação de rádio comercial do mundo, alegando ter feito sua primeira transmissão em 1920 — mas há quem conteste, em especial a Radio Company of America (RCA), empresa criada pela General Electric, de Schnectady, NY, fundada por Thomas Edison, que adquiriu os ativos da empresa Marconi Company of America. A complicada história está contada no artigo “Radio”, indicado adiante. A televisão começou a ser pesquisada no final da década de 1920 nos Estados Unidos (havendo quem afirme que a primeira transmissão mundial de televisão foi feita em 1928 nos Estados Unidos), mas só se tornou viável e popularizou (em branco e preto e com sinais transmitidos pelas ondas magnéticas) depois do final da Segunda Guerra Mundial, no período de afluência que foi a década de 1950. As primeiras estações de televisão americanas foram spinoffs de estações de rádio. Para a história dessas quatro tecnologias, a Wikipedia (EN) é uma excelente introdução: Vide o artigo “Telegraphy”, em https://en.wikipedia.org/wiki/Telegraphy; o artigo “Telephone”, em https://en.wikipedia.org/wiki/Telephone; o artigo “Radio”, em https://en.wikipedia.org/wiki/Radio; e, finalmente, o artigo “Television”, em https://en.wikipedia.org/wiki/Television.
Categories: Change, Eras, Mudanças, Revoluções, Revolutions, Technology, Tecnologia
Leave a Reply