Das Leben Jesu kritisch Bearbeitet [A Vida de Jesus, Criticamente Tratada], de David Friedrich Strauss (1808-1874), publicado, em primeira edição, em 1835, quando o autor tinha meros 27 anos, é um livro memorável. Talvez seja o livro mais importante do século 19 a tratar de assuntos centralmente relevantes para o desenvolvimento da Teologia Cristã, para o estudo crítico da Bíblia (em especial do Novo Testamento), e para um posicionamento acerca da história, da vida, da obra e do destino de Jesus de Nazaré.
O livro de Strauss, que é bastante longo (mais de 1500 páginas em três volumes, na edição em Inglês), ocupa lugar de honra no livro, também extremamente importante, de Albert Schweitzer (1875-1965), publicado em primeira edição, em 1906, quando ele também era bastante novo (tinha 30 anos), com o título de Von Reimarus zu Wrede: Eine Geschichte der Leben-Jesu Forschung [De Reimarus até Wrede: Uma História da Pesquisa sobre a Vida de Jesus] (J. C. B. Mohr / Paul Siebeck, Tübingen, 1906).
Schweitzer, como se sabe, foi Prêmio Nobel da Paz em 1952, pelo seu trabalho, como médico, na selva africana. Além de teólogo, médico e psicólogo, Schweitzer era organista, tendo sido exímio intérprete de J. S. Bach (um dos melhores de sua época). Strauss é o único autor que merece dois capítulos em seu livro, que ficou extremamente popular, fora do mundo de fala alemã, depois de sua tradução para o Inglês, por W. Montgomery, publicada em 1910, em 1ª edição, e já em 1911, em 2ª edição, com título de The Quest of the Historical Jesus: A Critical Study of its Progress from Reimarus to Wrede [A Busca do Jesus Histórico: Um Estudo Crítico de seu Progresso de Reimarus até Wrede] (Adam & Charles Black, Londres, 1910 e 1911) [1].
O Prof. F. C. Burkitt, da Universidade de Cambridge, que escreveu o Prefácio da 1ª edição, Prefácio que, na verdade, é uma Apresentação da obra, afirma, no primeiro parágrafo:
“The book here translated is offered to the English-speaking public in the belief that it sets before them, as no other book has ever done, the history of the struggle which the best-equipped intellects of the modern world have gone through in endeavouring to realise for themselves the historical personality of our Lord.” [O livro aqui traduzido é oferecido ao público de fala Inglesa na convicção de que ele apresenta ao leitor, como nenhum outro livro foi capaz de fazer antes, a história da luta que os melhores intelectos do século 19 travaram em seu grande esforço para entender a personalidade histórica de nosso Senhor.] [2]
Voltando ao livro de Strauss, ele foi traduzido para o Inglês, em 1846, com base na 4ª edição alemã, de 1840, por ninguém menos do que George Eliot (1819-1880, nom de plume de Mary Ann Evans – às vezes escrito Marian Evans), um dos mais famosos escritores da Inglaterra Vitoriana, que também traduziu para o Inglês Das Wesen des Christentums [A Essência do Cristianismo], de Ludwig Feuerbach, para o Inglês, em 1854. Não é exagero dizer que, traduzindo esses dois livros para o Inglês, Eliot colocou nas mãos dos leitores anglófonos as duas maiores críticas do Cristianismo que a Alemanha do século 19 produziu [3].
O livro de Strauss permite que ele seja considerado “O Pai da Crítica” do Novo Testamento [4]. Ele foi o primeiro teólogo a encarar a Bíblia como um texto puramente humano, sem inspiração e revelação divina, e ele tratou a Bíblia (no caso, o Novo Testamento) sem nenhuma cerimônia, submetendo-a a uma crítica severa, que incluía elementos textuais, históricos e literários. Ele não hesitou em considerar passagens e, por vezes, livros inteiros como se fossem, mais do que parábolas, lendas e mitos, nos quais não seria possível encontrar nenhum elemento histórico. Karl Barth, em seu famoso livro Die Protestantische Theologie im 19. Jahrhundert: Ihre Vorgeschichte und ihre Geschichte [A Teologia Protestante no Século 19: Sua Pré-História e sua História] [5], afirmou o seguinte a respeito do livro de Strauss:
“1835 . . . schrieb er . . . sein Leben Jesu, kritisch Bearbeitet, durch das er gleichzeitig mit einem Schlag auf lange hinaus der berühmteste Theologe Deutschlands and für jede kirchliche und akademische Stellung lebenslänglich unmöglich wurde”. [Em 1835 e 1836 ele escreveu o seu livro A Vida de Jesus, Tratada Criticamente, livro que fez dele, imediatamente e por vários anos no futuro, o teólogo mais importante da Alemanha, mas, ao mesmo tempo, o deixou impossibilitado, pelo resto de sua vida, de obter ou manter um cargo eclesiástico ou acadêmico no país.] [pág, 490 – Minha tradução.]
Otto Pfleiderer, em sua Introdução ao livro de Strauss, declara:
“The Leben Jesu of David Friedrich Strauss, which was published in the year 1835, marked an epoch in the history of theology. On the one hand, this book represents the crisis in theology at which the doubts and critical objections of centuries as to the credibility of the Bible narratives had accumulated in such overwhelming volume as to break through and sweep away all the defences of orthodox apologetics. On the other hand, in the very completeness of the destructive criticism of past tradition lay the germs of a new science of constructive critical inquiry, the work of which was to bring to light the truth of history. . . . Nevertheless, it cannot be disputed that it takes rank amongst the standard works which are secure of a permanent place in literature for all time, for the reason that they give final expression to the spirit of their age, and represent typically one of its characteristic tendencies. The liberating and purifying influence which such works exert on their own time, as well as the service they render in opening out new lines of thought, lends to them, for all coming generations, a peculiar value as admirable weapons in the great fight for truth and freedom.” [A Vida de Jesus de David Friedrich Strauss, que foi publicada em 1835, marcou época na história da teologia. De um lado, o livro representa a crise na teologia que foi causada pelas dúvidas e objeções críticas que, durante séculos, colocaram em questão a credibilidade das narrativas bíblicas. Colocadas lado a lado e acumuladas em um só livro, essas dúvidas e críticas destruíram completamente as estratégias de defesa da apologética ortodoxa. Do outro lado, a abrangência e completude da crítica destrutiva da tradição herdada do passado plantou as sementes de uma nova ciência da investigação crítica, esta construtiva, cujo trabalho iria lançar luz sobre a verdade da história. . . . De qualquer modo, não é possível questionar que o livro de Strauss assumiu posição de destaque entre as obras que possuem lugar permanente na literatura de todos os tempos. Isto se dá porque A Vida de Jesus, de Strauss, deu expressão final e acabada ao espírito de sua época, representando, de maneira típica, uma de suas mais importantes tendências. A influência liberadora e purificadora que trabalhos como o de Strauss exercem sobre o seu próprio tempo, bem como o serviço que prestam ao descortinar novas linhas de pensamento, lhes concedem, para todas as gerações futuras, um valor especial como as armas admiráveis que são na grande luta pela verdade e pela liberdade.] [p.12. Minha tradução do Inglês.]
O grande mérito da obra de Strauss está no fato de que ela, ao considerar a Bíblia um livro puramente humano, deixando de lado as categorias de inspiração e revelação divina, e, por conseguinte, os pressupostos de infalibilidade e inerrância, abriu as portas para o trabalho histórico, científico e literário de desentralhar, desenredar, desembaraçar, nos materiais que registram os primórdios da história do Cristianismo, canônicos ou apócrifos, agora não faz tanta diferença, o que é história e o que é literatura e poesia, o que é fato e o que é lenda e mito, o que é verdade e o que não passa de imaginação e fantasia. O seu foi um ato de extrema coragem, mas ele o executou de modo focado, coerente e íntegro, pagando o caro preço representado pelo fechamento das portas das instituições eclesiásticas e acadêmicas, que viam nele, não o pesquisador dedicado e competente, não o intelectual ousado e destemido, mas, sim, o destruidor das premissas que sustentavam a crença na Bíblia como um livro especial, mais do que isso, especialíssimo, a Palavra de Deus, que, acreditava-se, só poderia conter a verdade, somente a verdade, e nada mais do que a verdade.
Como diz Pfleiderer,
“To all earnest seekers after truth, the Leben Jesu of Strauss may be helpful, not as supplying the truth ready to hand, but as stripping the bandages of prejudice from the eyes, and so enabling them clearly to see and rightly to seek it.” [Para todos aqueles que seriamente buscam a verdade, a Vida de Jesus, de Strauss, é extremamente útil, não porque o livro lhes entregasse a verdade pronta e empacotada, mas, sim, porque, removendo de seus olhos as bandagens do preconceito, ele lhes permitiu ver as coisas com clareza nunca antes alcançada e lhes deu condições de procurar a verdade da maneira certa”.] [p.12. Minha tradução.]
No que pode ser considerado um laivo de genialidade, Pfleiderer compara Strauss a Lutero. Criticando aqueles que gostariam de censurar a Vida de Jesus, de Strauss, ou, pelo menos, impedir que ela fosse reeditada, Pfleiderer afirma:
“But no one can hold such an opinion who is able to follow the course of the history of the religious thought of Protestantism. The critical process which reached its conclusion in Strauss’s book, with its negative or revolutionary results, was latent from the beginning in the life-blood of Protestantism. The theologians of the Reformed Churches of the sixteenth century subjected the traditions of Catholic Church history to keen historical criticism; and if they did not then think of extending its operations to Biblical tradition, we are justified in recognising in the well-known declarations of Luther, as to the inferior value of certain books of the Bible, and as to the unimportance of physical in comparison with spiritual miracles, plain predictions of the line of development which Protestant theology was destined ultimately to take.” [Mas ninguém pode defender uma posição como essa (de censura do livro de Strauss) se conhecer bem o curso da história do pensamento religioso do Protestantismo. O processo crítico que alcançou sua conclusão lógica no livro de Strauss, com seus resultados negativos ou revolucionários, já estava latente, desde o início, na corrente sanguínea do Protestantismo. Os teólogos das Igrejas Reformadas do século 16, de qualquer das vertentes, sujeitaram as tradições da Igreja Católica (a Tradição) à mais penetrante crítica histórica. O passo seguinte seria estender às tradições bíblicas (à Escritura) o mesmo escrutínio crítico. Embora eles tenham parado antes de fazer isso, não podemos ignorar as declarações bem-conhecidas de Lutero sobre o valor inferior de certos livros da Bíblia, e sobre a menor importância dos milagres físicos quando comparados aos espirituais. Estava aqui claramente delineada a linha de desenvolvimento que a teologia Protestante estava um dia destinada a assumir.” [pp.12-13. Minha tradução.]
O que impediu os teólogos da Reforma de aplicaram à Bíblia / à Escritura os mesmos princípios que aplicaram à Tradição da igreja (as resoluções dos Concílios, as Bulas Papais, etc.) foi o fato de que, naquele momento, em que combatiam a Igreja Católica, precisavam de uma base de ataque que lhes desse garantia de sucesso e vitória, e essa base acabou sendo uma doutrina da Bíblia como a única regra de fé e prática, a Bíblia como um livro literal e verbalmente inspirado por Deus, a própria Palavra de Deus. À pretensa infalibilidade papal eles contrapuseram a pretendida infalibilidade e inerrância do próprio Deus, que seria, em última instância o autor da Bíblia…
Continua Pfleiderer:
“It is intelligible enough that the criticism of the Bible could not arise amongst the orthodox theologians of the sixteenth and seventeenth centuries. They were restrained by a rigid doctrine of inspiration from an unprejudiced treatment of the Bible, and were moreover too much absorbed in dogmatic controversies and the defence of their confessions of faith, to feel the need of more searching Biblical studies. It was amongst English Free-thinkers and Deists that the credibility of the Biblical narratives was first seriously assailed, and with so much temper as to greatly detract from the scientific value of the result.” [É compreensível, também, que a crítica da Bíblia não surgisse entre os teólogos ortodoxos do século 16 e 17. Uma doutrina rígida da inspiração da Bíblia os impedia de adotar um tratamento da Bíblia sem preconceitos. Além disso, eles estavam por demais absorvidos pelas controvérsias dogmáticas envolvidas na defesa de suas próprias confissões de fé para poder sentir na carne a necessidade de estudos bíblicos mais perscrutadores. Foi apenas entre os Livre-Pensadores ingleses, os Deístas, que a credibilidade das narrativas bíblicas começou, pela primeira vez, ser colocada em questão e atacada seriamente – na verdade, o ataque teve tanto ímpeto que até prejudicou, por algum tempo, o valor científico dos resultados obtidos.] [p.13. Tradução minha.]
Onde passa um boi, passa uma boiada, diz o ditado brasileiro. Pela porteira aberta por Strauss veio uma multidão de teólogos, historiadores, especialistas em literatura e em análise de texto. O século da Crítica Bíblica estava lançado. A primeira ‘vítima’ foi o Velho Testamento, mais remoto um pouco do Cristianismo. O foco inicial foi o Pentateuco. Mas a data e a autoria dos demais livros, em especial dos livros proféticos, logo recebeu sua quota de atenção. Logo em seguida o objeto de crítica passou a ser o Novo Testamento, em especial os Evangelhos, dentre eles os Sinóticos, que parecem contar uma mesma história mas divergem nos detalhes e, segundo tudo indica, nos objetivos da narrativa… Com a Crítica Bíblica veio uma teologia diferente, que levava a sério os resultados da Crítica Bíblica. A Teologia Liberal do século 19 estava a caminho. No final do século 19, começo do 20, haveria, em especial nos Estados Unidos, um choque violento entre Liberais (chamados Modernistas) e Conservadores (chamados de Fundamentalistas). A leitura dos 90 artigos que constituem o texto completo de The Fundamentals é, por vezes, entristecedor e deprimente.
O resto é história. Mas a história, às vezes, se repete.
Em Salto, 4 de Janeiro de 2022
NOTAS
[1] A primeira edição em Alemão do livro de Schweitzer (1906) tem Prefácio do autor. Em 1913 saiu uma segunda edição alemã, anunciada como revisada e melhorada, que contém um novo Prefácio de Schweitzer. Nessa segunda edição o título principal (Von Reimarus zu Wrede) foi omitido, e o subtítulo passou a figurar como o título, sem o artigo indefinido “Eine” e com a inserção de um segundo hífen na parte final do título, que ficou sendo Geschichte der Leben-Jesu-Forschung – título que permanece até hoje nas edições em Alemão. A edição alemã de 1950/1951 é rotulada de 6ª edição (embora o texto do livro em si seja mera reimpressão daquele da 2ª edição, como o foi o texto das edições 3ª, de 1921, 4ª, de 1926, e 5ª, de 1933), e recebeu um novo Prefácio, o terceiro, de Schweitzer – que, pelo que consta, foi a última manifestação por escrito de Schweitzer sobre o seu famoso livro. A edição de 1966 é a primeira em brochura, e foi publicada em dois volumes, com o mesmo texto das edições anteriores, tendo, porém, lhe sido acrescentado um longo e excelente ensaio de James M. Robinson, estudioso americano que havia escrito, em 1959, a primeira história do movimento que ele chamou de A New Quest of the Historical Jesus (SCM Press, London, 1959), reabrindo uma questão que parecia estar fechada. O seu artigo de 1966, que tem o título frouxo de “Einführung zur Taschensuch-Ausgabe” [Introdução à Edição em Bruchura], retoma as questões por ele levantadas no seu livro de 1959. A 8ª edição do livro de Schweitzer é a que apareceu na edição de suas Gesammelten Werken [Obras Completas], em 5 volumes, dos quais o livro sob consideração é o terceiro. A 9ª edição, que eu tenho, é uma elegante edição em brochura, em um volume só, de 1984, que contém todos os Prefácios de Schweitzer e o artigo de Robinson. O título é simplesmente o mesmo que o livro tem tido desde sua 2ª edição, Geschichte der Leben-Jesu-Forschung (J C B Mohr / Paul Siebeck, Tübingen). A única diferença entre a 7ª edição e a 9ª é que esta foi editada em apenas um volume de 651 páginas, em brochura muito bem feita e confortável para usar. Além de duas cópias da primeira edição em Inglês, impressas em 1950, uma que me foi presenteada em 1965 por meu professor de Novo Testamento, Osmundo Affonso Miranda (ele a havia comprado em Campinas, em 1953), a outra que eu comprei em Pittsburgh em 1967 (e que é uma impressão de 1957 da primeira edição em Inglês), eu tenho a tradução para o Português, feita por Wilson Gonçalves e Wolfgang Fischer, publicada em 2005, pela Fonte Editorial (São Paulo), com o título de A Busca do Jesus Histórico. A edição em Português tem um artigo de apresentação de Jaime dos Reis Sant’Anna, professor da Universidade de São Paulo, com o título de “O Jesus Histórico: Este Estranho Desconhecido”, que comete algumas gafes que me parecem imperdoáveis em assuntos que teriam sido de fácil correção. A primeira frase diz que “Após 70 anos de espera, finalmente podemos proporcionar ao público de língua portuguesa a oportunidade de conhecer o pensamento de Albert Schweitzer”. A tradução brasileira foi publicada em 2005. Setenta anos a partir de quando? 1935? Mais abaixo, na primeira página da apresentação ainda, ele afirma que o livro A Busca do Jesus Histórico: Um Estudo de seu Progresso foi publicado em 1911. O que foi publicado em 1911 foi a 2ª edição (nem mesmo a primeira) da tradução para o Inglês, que tinha um título parecido. A obra original foi publicada em Alemão em 1906, como já esclarecido. Além do mais, o apresentador da tradução para o Português afirma que a tradução brasileira está sendo publicada pela Editora Cristã Novo Século, quando a editora que publica o livro é a Fonte Editorial. A edição em Português não contém os Prefácios de Schweitzer, o que é de lastimar.
[2] Pág. v da edição referida na nota anterior. A tradução é minha e a ênfase, na tradução, foi acrescentada por mim.
[3] Referências ao livro de Strauss serão feitas com base nessa tradução de George Eliot, publicada por Swan Sonnenschein & Co. Lim., Londres, impressão de 1902, que reproduz a edição de 1892. Cito a partir de uma edição em ebook, da Amazon. A tradução inclui Prefácios de Strauss para a 1a edição (datado de 24.5.1835) e para a 4a edição (datado de 17.10.1840), bem como um Prefácio Especial seu, de Abril de 1846, escrito especialmente para a edição inglesa, mas em Latim, contendo uma citação em Grego – prefácio esse que foi deixado por Eliot nas línguas que Strauss preferiu utilizar. A tradução inclui ainda uma importante Introdução escrita pelo famoso teólogo protestante e historiador alemão Otto Pfleiderer (1839-1908), esta sim traduzida para o Inglês, a que eu irei fazer referência adiante, a partir da tradução de Eliot.
[4] Na realidade, antes de Strauss veio Hermann Samuel Reimarus (1694-1768), que ocupa, no livro de Schweitzer, o primeiro capítulo depois do capítulo introdutório que coloca o problema a ser investigado. Embora Reimarus tenha publicado várias obras interessantes, mas que não causaram sensação, houve uma que ele escreveu, mas não teve coragem de publicar. Só a mostrou a uns poucos amigos escolhidos. O título dela aparentemente era Apologie oder Schutzschrift für die vernünftigen Verehrer Gottes [Apologia, ou Texto em Defesa, dos Adoradores Racionais de Deus.] Depois da morte de Reimarus esse texto se perdeu e só veio a ser recuperado, em parte, por Gotthold Ephraim Lessing (1729-1781), que o publicou, em fragmentos, de 1774 a 1778, com o título de Fragmente eines Ungenannten [Fragmentos de um Desconhecido, ou, simplesmente, Fragmentos Anônimos]. Desses, um fragmento merece destaque: Von dem Zwecke Jesu und seiner Jünger [Dos Objetivos de Jesus e seus Discípulos]. Eis o que diz Schweitzer sobre ele. “Von der Großartigkeit der Darstellung in dem Fragment ‘Vom Zwecke Jesu und seiner Jünger’ kann man nicht genug sagen. Diese Schrift ist nicht nur eines der größten Ereignisse in der Geschichte des kritischen Geistes, sondern zugleich ein Meisterwerk der Weltliteratur. Die Sprache ist . . . eines Mannes, der nicht schreibt, sondern auf Tatsachen ausgeht. . . . Selten war ein Werk in dem berechtigten Bewusstsein einer so absoluten Superiorität über die zeitgenössischen Anschauungen geschrieben. Und in allem dennoch Ernst und Würde. Des Reimarus Werk ist kein Pamphlet.” [Dizer que o fragmento Dos Objetivos de Jesus e seus Discípulos é trecho de um ensaio magnífico mal começa a fazer justiça a esse trabalho. O ensaio não só representa um dos grandes momentos da história da crítica, ele é, também, uma obra prima da literatura mundial. . . . A linguagem não é a de um homem engajado em uma composição literária – é a de um homem que procura fatos. . . . O autor demonstra ter justificada consciência de sua superioridade absoluta em relação à opinião vigente no seu tempo. E, além de tudo, exibe dignidade e mostra seriedade de propósito. O texto do qual saiu o fragmento não é nenhum panfleto.]. David Friedrich Strauss publicou uma pequena obra chamada Herrmann Samuel Reimarus und seine Schutzschrift für die vernünftigen Verehrer Gottes [Hermann Samuel Reimarus e seu Texto em Defesa dos Adoradores Racionais de Deus.] Vide a referência em Albert Schweitzer, Geschichte der Leben-Jesu-Forschung, op.cit., pág. 57, nota 5.
[5] Estou a usar a 3a edição, de 1960 (a 1ª edição foi de 1946 e a 2ª, de 1952), publicada pela Evangelischer Verlag, Zürich, CH. Há uma tradução para o Inglês, de Brian Cozens, infelizmente apenas de uma parte desse livro de Barth, sob o título From Rousseau to Ritschl (SCM Press, Londres, 1952). Para se dar uma ideia, o livro tem 29 capítulos – uma introdução, 9 capítulos dedicados à Pré-História (século 18) e 19 capítulos dedicados à História da Teologia Protestante no Século 19. A tradução contém apenas 11 capítulos: a introdução, 6 capítulos dedicados à Pré-História (começando com Rousseau), e apenas 4 capítulos dedicados à História, propriamente dita, que cobrem Schleiermacher, Feuerbach, Strauss e Ritschl. A tradução acabou dedicando mais atenção e espaço ao século 18 do que ao século 19. Talvez os editores tenham inventado um título novo para não deixar muito óbvio o desfavor que foi feito ao século 19.
Categories: Liberalism
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