Sou um sujeito cheio de manias, confesso. Um cara manioso (embora não maníaco). Não procurem a palavra “manioso” no Houaiss que ele não dá. É uma falha dele. Devia dar. Um cara cheio de manias, mas dentro do razoável, como eu, é manioso, não é maníaco, que já é uma condição bem perto do doentio ou patológico. É assim que eu entendo.
Percebo — também sou um sujeito que se observa e se analisa — que, à medida que vou ficando mais velho, adquiro mais manias e as que já tinha ficam mais enraizadas. Uma mania mais recente, que, de vez em quando, deixa minha mulher e minhas filhas um pouco irritadas, é ficar em casa: não sair da toca por qualquer dá cá aquela palha… Já passeei muito na vida, já viajei, tenho cartão de quem viajou só na United mais de um milhão de milhas, mas hoje pago para ficar em casa, quietinho, no meu canto, ruminando meus pensamentos, meus planos, minhas preocupações… (Essa é uma outra mania: preocupo-me demais com as coisas. I’m a chronic worrier.)
Por falar em canto, essa é outra mania: ter meus cantos favoritos, tanto aqui no sítio, como no apartamento em São Paulo. Mesmo em locais em que estou apenas temporariamente, como um hotel ou a casa de minha filha, acabo arrumando meus cantos favoritos… Isso quer dizer que não basta ficar em casa (ou naquilo que passa por minha casa no momento): é preciso estar no meu canto (ou nos meus cantos, em geral tenho mais de um) na casa.
Aqui no sítio tenho uma poltrona gostosa, que reclina, balança e gira, que é o meu canto. Na verdade, temos quatro dessas poltronas: duas minhas, duas da Paloma, uma de cada um no quarto, e uma de cada um na sala, em ambos os casos, em ângulo de mais ou menos 60 graus em relação à TV. Embora as poltronas sejam virtualmente idênticas, exceto pela cor, prefiro, das duas possibilidades, ficar no quarto.
Ainda aqui no sítio, tenho, no escritório, que fica no mezanino, outra poltrona, esta mais simples, mas igualmente gostosa. Há hora em que é até mais gostosa. Nela é que trabalho, durante o dia. Fica ao lado de duas mesas minhas, mas eu trabalho com o computador no colo. Ali é o meu canto produtivo, por excelência.
(Já escrevi sobre esse canto, em particular, em 28/4/2016… Vide “O meu Canto n’O Canto da Coruja”, em https://chaves.space/2016/04/28/o-meu-canto-no-canto-da-coruja/.
No apartamento de São Paulo, tenho dois cantos, um no quarto, outro na sala de TV. No quarto, há uma poltrona vermelha que a Paloma me deu logo que mudamos para o Morumbi. Na sala, uso um sofazinho de dois lugares que é uma delícia.
Manias. Se estou, seja no sítio, seja em SP, mas não estou em um dos meus cantos, é como se não estivesse em casa. Levanto-me para tomar refeições, fazer uma coisa ou outra, entreter visitas ocasionais, mas anseio rapidamente voltar para um de meus cantos.
Manias… manias… (Outra mania é usar reticências demais. Assim…).
Quando leio, inevitavelmente num desses quatro cinco lugares, uso uma almofada no colo onde apoio, seja o computador, que tem uma bandeja de madeira para ficar bem nivelado, seja o livro. Quando estou lendo tenho ao meu lado uma lapiseira 0,7 da Pentel, lead/grafite B, e uma borracha, para sublinhar e anotar ou, então, apagar um ou outro sublinhado que não sai retinho (outra mania) ou uma ou outra anotação que não sai como eu queria. Rabisco meus livros todos, mesmo os mais caros e bonitos, com sublinhados, círculos (na verdade, ovais) em torno de algumas palavras em especial, flechas, anotações de MB (Muito bom), NB (Notar Bem), BS (Bull Shit), pontos de exclamação (máximo 3) ou interrogação (também máximo 3). Exceto por rabisca-los, cuido excessivamente bem dos meus livros. Todos eles têm meu nome (na verdade, minha assinatura — ela é bem legível) e o local e a data onde os adquiri. Às vezes marco um local dentro do livro com um papelzinho discreto. Tenho vários bloquinhos cujas folhas são usadas quase que exclusivamente para isso.
Outra mania são os cadernos. Meus favoritos são aqueles importados, caríssimos, dos quais tenho alguns, mas poucos. Em geral uso uns bastante bons, de 80 a 100 páginas, onde anoto ideias, referências, rabisco esboços, etc. Uso-os, hoje, quase que exclusivamente para fins de estudo e pesquisa. Coisas mais chinfrins, como To Do’s mundanos (comprar ração para os cachorros, licenciaciar o carro, etc.) eu anoto na minha agenda eletrônica no MacBook e num aplicativo chamado Reminder (que é um modelo simplificado de gerenciador de projetos).
Para finanças, pagamento de contas, e outros compromissos envolvendo dinheiro, tenho um excelente aplicativo, que se chama Quicken, que uso desde 1987-1988. Vi-o pela primeira vez com meu amigo Daniel Sigulem, então Diretor do Centro de Informática em Saúde da então Escola Paulista de Medicina. Sempre tenho tido a última versão dele desde então. Normalmente sai uma nova versão a cada ano. Por aí dá pra se ver o apego. É uma mania. Ele converte até entre diversas moedas estrangeiras. Especialmente quando viajo, não consigo ficar sem ele. Quando estou em casa, às vezes não o uso tão religiosamente, mas, em viagem, não deixo de tê-lo a mão. Agora há um bom app (uma boa app?) para o telefone também. É fácil anotar os gastos quando se está na rua.
Paro por aqui, porque uma de minhas manias é ter manias… E, se eu continuar relatando-as, não paro tão cedo… 🙂
15-12-2017 (16h) –> outra mania é colocar data e hora nas coisas que eu faço. A hora às vezes deixo de pôr, mas a data é infalível. Tenho todas as minhas agendas desde 1961, se bem que umas não tão ricamente anotadas quanto as outras… (e aqui vão os últimos três pontinhos deste artigo.)
Categories: Manias
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