Uma Discussão no Facebook, iniciada por Eduardo Chaves
Post inicial de Eduardo Chaves, no Facebook de March 18, 10:24, localizado no seguinte endereço: https://www.facebook.com/eduardo.chaves/posts/10159640501582141
Eu entendo a educação como o processo de desenvolvimento do ser humano — que envolve, a partir de um determinado momento, a definição / escolha de um projeto de vida e a transformação desse projeto em realidade.
Viver, na realidade, é gerir nosso projeto de vida, descobrir nossos talentos, pontos fortes, pontos fracos, paixões, interesses, etc. Rousseau disse que tudo aquilo que não temos ao nascer, e de que precisamos para viver a vida que escolhemos para nós, deve estar no centro de nossa educação.
Não conheço melhor definição de educação e de currículo do que estas …
Que saudades de nossas intensas discussões. Diálogo ainda possível, interdisciplinar, reflexivo, transformador, colaborativo. Horas a fio, às vezes invadindo a madrugada. Muitas saudades de um país possível, muito além das dancinhas e firulas nos aplicativos.
Saudades também, meu caro Ney…
Aprendi ainda na juventude que quando somos carentes economicamente, única alternativa para futuro melhor, será pela busca incessante na educação formal. Atribuir sorte ou azar na vida, são argumentos justificando sua falta de vontade e conformismo.
Itiro Cavaquita: Se você deixar o “formal” de fora, concordo 100%!
Eduardo Chaves Não entendi seu argumento “formal”. Entendo formal como etapas curriculares, iniciando no Fundamental até fases de pós doutorado.
Itiro Cavaquita: Vim gradualmente me tornando convicto de que, do mesmo jeito que a escola atual, surgida na pré-modernidade, teve um início, relativamente bem delimitado no tempo, ela terá, e já está tendo, e da mesma forma, um fim, um óbito que será…
Itiro Cavaquita: Obrigado, Itiro, como pessoa que chegou a este grupo recentemente, por me instigar a elaborar um pouco o que penso.
Eduardo Chaves: Aceito seus argumentos como alternativa de formação cultural. Realmente observamos curriculuns escolares fora das reais necessidades organizacionais. Aliás, tive o privilégio de conviver com Executivos de Empresas multinacionais de difer…
A escola formal é a base para todos. Alguns são desafiados pela própria curiosidade e muitos padrões podem ser derrubados. O desenvolvimento de cada um é variável de acordo com suas iniciativas autodidáticas, intuitivas e práticas. O esforço individual na busca de novos conhecimentos se revela e impulsiona os pares a prosseguir nessa busca…
Deixar as mesmices de lado e sair na busca do essencial. Ótima reflexão. As amizades boas nos enche de ensinamentos valiosos. Abraço
A sociedade que a corrompe.
Simples assim!!!!
Adriana Martinelli: Saudades, também, como do Ney Mourão e de todos os demais membros daquela tropinha formidável que a gente tinha e que começou juntar já faz 23 anos — sem esquecer os internos, a Ciça, o Toni, a Kátia, a Simone… Em contato com o Antonio Carlos Gomes da Costa, e com a leitura do Amartya Sen e do Mahbub ul Haq, o primeiro, brasileiro, o segundo, indiano, e o terceiro, paquistanês, por incrível que pareça, meu pensamento sobre a educação deu uma guinada de 180 graus… Meu livro Educação e Desenvolvimento Humano: Uma Nova Educação para uma Nova Era, 1a edição 2003, relançada em 2018, e a 2a edição, revista e grandemente ampliada, contém, nesta segunda edição, uma história comprida da evolução de minhas ideias, começando com aquela patotinha inicial, em 1999… Estou trabalhando na 3a. edição, que vai além de ensino híbrido, até mesmo de home schooling, para deschooling e unschooling…
Houve algo que eu mudei nas ideias de ACGC, Sen e ul Haq: não é educação PARA o desenvolvimento humano, para melhorar índices de IDH, para melhor o desenvolvimento de um país, dando-lhe uma cara humana e não apenas econômica. É educação COMO desenvolvimento humano, educação entendida como um processo de desenvolvimento (não de formação) do ser humano individual, que nasce sem saber nada e sem saber fazer nada, mas com uma inacreditável capacidade de aprender, e aprende a reconhecer padrões visuais e sonoros (a cara e a voz da mãe, por exemplo), aprende a entender a fala humana e a falar si próprio, aprende a se equilibrar nas pernas e a andar, correr, subir escadas, saltar, virar cambalhota, tudo isso sem que ninguém o ensine a fazer essas coisas — embora não sem interação com outros seres humanos e sua ajuda, seu incentivo, seu apoio… Se o ser humano consegue aprender tudo isso, antes dos três anos de idade, sem professor com MBA, sem escola, sem currículo, sem ensino, sem avaliação somativa ou formativa, por que ele iria precisar, depois, quando já está craque, quando já foi mordido pela inseto benéfico da curiosidade, de toda essa parafernália caríssima e ineficiente que nossos antepassados um dia inventaram, a educação escolarizada. Graças a Deus por Ivan Illich, amigão do Paulo Freire, que em 1970, mais de 50 anos atrás, lançou o grito de independência pedagógica: “Educação Sem Escolas”. Graças a Deus pelo Paulo, amigão do Ivan Illich, que escreveu, na mesma época, que “Ninguém educa ninguém, mas tampouco alguém se educa sozinho: nós nos educamos uns aos outros, em comunhão, com a mediação DO MUNDO” (NÃO DA ESCOLA!!!). Paulo Freire é isso, não é aquilo que a esquerda e a direita tentam fazer dele.
Mas na hora em que eu comecei a dizer isso, virei como se fosse um leproso para os defensores da escola, e mais do que isso, da escola pública.
Ney Mourão: Você diz: “Muitas saudades de um país possível, interdisciplinar, reflexivo, transformador, colaborativo.” Possível, Ney, talvez seja, mas provável, acho muito difícil…
[Discussão transcrita na íntegra até 25.03.2022, 8h50]
Transcrito no blog em Salto, 25 de março de 2022.
Categories: Education, Human Development, Liberalism
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