Jair Messias Bolsonaro – Encore

Em 14.9.2018 publiquei em meu blog Chaves Space um artigo com o título “Jair Messias Bolsonaro” em que comuniquei oficialmente que o estava apoiando na eleição presidencial que teria lugar no mês seguinte. Minha decisão de apoiá-lo, observei, foi tomada assim que soube que ele fora vítima, no dia 6.9.2018, de uma tentativa de assassinato. O artigo pode ser lido em https://chaves.space/2019/09/14/jair-messias-bolsonaro/.

O artigo, na forma em que se encontra hoje, conta com dois adendos meus: o primeiro, acrescentado em 29.10.2018, depois da vitória de Bolsonaro, no segundo turno. O segundo, acrescentado em 14.09.2019, exatamente um ano depois do texto original, como o caput de um post que compartilhava novamente o texto original. Nesse segundo adendo, esclareci que continuava a endossar, sem ressalvas, o texto de um ano antes.

Hoje, 9.4.2019, volto a carga, compartilhando dois textos meus, publicados no Facebook, com dois textos retirados da Internet intercalados.

Aqui vai o primeiro texto, publicado em 27.3.2020, como prefácio a um artigo de Luciano Trigo na Gazeta do Povo do dia anterior, 26.3.2020. Assino embaixo 100%.

[Falo eu, Eduardo Chaves, até indicação ao contrário:]

Jair Messias Bolsonaro é um animal político. Os governadores de São Paulo e do Rio de Janeiro são principiantes no jogo político. Estão no primeiro mandato como governadores. (Dória foi prefeito por um ano e alguns meses antes). Têm muito que aprender.

Estamos, agora, no equivalente àquele momento de 2018 em que quase ninguém, a não ser os seguidores fanáticos daquele que chamavam de “O Mito”, acreditava que Jair Messias Bolsonaro pudesse ser eleito Presidente. Ele, porém, acreditava, e agiu firme com base naquilo que acreditava. Ganhou, e ganhou bem, explorando o sentimento anti-esquerda que predominava no país. Ganhou contra a esquerda, contra a mídia, contra o “beautiful people“, os artistas, os almofadinhas de plantão.

No momento atual, os mesmos que achavam que Bolsonaro não tinha chance em 2018 acham que ele é um louco desvairado, que daqui a pouco vai ser impichado ou derrubado pelos próprios militares. Governadores dos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro, com o de Goiás vindo um pouco atrás, que apoiaram Bolsonaro na eleição de 2018, e ganharam a eleição por causa desse apoio, lideram uma maioria de governadores para estabelecer quarentena de total isolamento e parar o país. Bolsonaro foi e continua a ser contra. E diz isso para quem quiser ouvir. Ele continua sendo contra apesar do clamor generalizado dos governadores de Dória (que foi de uma deselegância ímpar, incompatível com sua aparência de bom moço) e Witzel, e até do bobão do Caiado, médico, que, depois de eleito com o apoio do Bolsonaro (como o foram os outros dois governadores, no caso deles um apoio não muito entusiasmado) resolveu insultá-lo. Faz papel de bobo. Em insulto baixo o Dória é muito melhor do que ele.

O vírus vai passar. Não sabemos quantos serão mortos fora do eixo SP-RJ. Mas uma coisa é certa: o custo econômico, político, social e humano da recessão que virá depois será muito pior do que o custo da epidemia, nesses mesmos aspectos. E quando passar a epidemia, Bolsonaro terá saído da crise mais forte do que entrou. E daí ele dirá: Eu falei para não parar. Eu disse que os governadores não estavam autorizados pela Constituição para parar o país, mas o Marco Aurélio de Mello disse que eles podiam. Agora, a culpa da recessão, resultante da quebradeira geral dos negócios, e a culpa convulsão social, decorrente do desemprego, do aumento da pobreza, e da fome, devem ser debitadas do capital político dos senhores (?) governadores. Eu fiz o que deveria ser feito, disse o que deveria ser dito, mas fui criticado pelos governadores, cerceado pelo STF e não fui ouvido.”

E Dória vai ter de fugir dos que querem matá-lo, porque vão considerá-lo culpado por não terem emprego e não terem o que comer. Quem sabe ele foge para Miami e, lá, cai do forro.

Leiam a seguir o artigo de Luciano Trigo. Ele diz isso – com as precauções de praxe, no último parágrafo do artigo, que eu, felizmente, não preciso ter.

[Até aqui falei eu, Eduardo Chaves. Daqui para frente, até nova menção, o texto do Luciano Trigo.]

{FOTO: Longe de agir por impulso, o presidente faz um cálculo político. Ele sabe que um dia a crise do coronavírus vai passar.| Foto: Isac Nobrega}

“GAZETA DO POVO

Opinião

{Chamada} “Longe de agir por impulso, o presidente faz um cálculo político. Ele sabe que um dia a crise do coronavírus vai passar”.

Uma pesquisa de opinião, o vírus e a aposta do presidente

Por Luciano Trigo, especial para a Gazeta do Povo

[26/03/2020] [12:13]

Estamos vivendo um daqueles momentos ingratos em que o prazo de validade de uma opinião se torna muito curto e qualquer análise ou previsão pode ser desmoralizada pelos fatos no dia seguinte. Mesmo assim, vamos lá.

Na semana passada, uma pesquisa do Datafolha mediu a avaliação de desempenho do presidente Jair Bolsonaro na gestão da crise do coronavírus. O resultado foi:

Ótimo/bom: 35%
Regular: 26%
Ruim/péssimo: 33%
Não sabe: 5%

Ainda que muitos eleitores de Bolsonaro tenham respondido no modo automático, por reflexo, desqualificando o instituto de pesquisa, a verdade é que esses números são excelentes para o Governo. Mostram, em primeiro lugar, que a base consolidada de apoio ao presidente, ou seja, aquela parcela da população que o defende incondicionalmente, independente do que ele faça ou diga, é de 1/3 da população.

Outro 1/3 pode ser identificado com uma oposição convicta, que quer voltar ao poder a qualquer preço e ataca incondicionalmente o presidente (também independente do que ele faça ou diga). No meio do caminho, estão as pessoas sem compromisso com um lado ou outro, podendo, portanto, oscilar para o apoio ou a rejeição ao governo, ao sabor das circunstâncias.

Mas o que a pesquisa sinaliza é que o ponto de partida de Bolsonaro na próxima eleição continua sendo de, pelo menos, 30% – situação, aliás, semelhante à que manteve o PT no poder por quase 14 anos. Nas circunstâncias atuais, a notícia é ótima para o presidente, que mesmo sob ataque cerrado segue sendo favorito para a reeleição, ao menos enquanto não aparecer uma alternativa viável de centro. Evidentemente, ainda falta muito para 2022, e as coisas podem mudar.

A mesma pesquisa do Datafolha registrou 55% de aprovação ao Ministério da Saúde, o que sinaliza que a maioria absoluta da população percebe como eficaz a condução da crise pelo ministro Luiz Henrique Mandetta. Em um primeiro momento, pode-se imaginar que Bolsonaro só não tem um desempenho similar por causa de suas declarações intempestivas, capazes de irritar até mesmo parte de seus eleitores.

Pode-se concluir, também, que a melhor estratégia para o presidente neste período de epidemia (que ninguém sabe quanto tempo vai durar) seria colar no Mandetta nas questões de saúde, como colou no Paulo Guedes nas questões de economia. Como não é sua obrigação entender do assunto em profundidade, melhor delegar as manifestações públicas ao ministro, que está convencendo. Mas a situação é mais complexa.

Na quarta-feira, Bolsonaro foi à TV para e surpreendeu a todos criticando o fechamento das escolas e o comportamento dos governadores e da mídia. Por quê? A quê atribuir comportamento aparentemente tão absurdo?

Longe de agir por impulso, o presidente faz um cálculo político. Ele sabe que um dia a crise do coronavírus vai passar. Sabe, também, que aquilo que propôs na TV não irá acontecer. E sabe, por fim, que a recessão econômica decorrente da epidemia terá efeitos desastrosos na vida da população. O fato é que, enquanto estamos no olho do furacão de uma crise, outra crise, também gravíssima, já está encomendada e em gestação, e quanto menor se tornar a percepção do impacto da epidemia, o que é uma questão de tempo, maior se tornará a percepção do impacto das suas consequências. Paradoxalmente, quanto mais o remédio fizer efeito, mais será percebido como veneno.

Nesse contexto, o que Bolsonaro fez foi saltar algumas páginas do livro e dar uma olhada no capítulo seguinte, quando o risco à saúde pública estiver dissipado e o pânico tiver passado, mas a economia do país estiver destroçada. Pressentiu, talvez, que, sem alterar de fato o que está sendo feito hoje para mitigação de danos e combate ao vírus, seria prudente, politicamente, se precaver em relação ao futuro.

Isso explicaria o seu discurso, endereçado aos que já se preocupam com as consequências econômicas do Covid 19, empresários inclusive, mas também ao povão, que é quem sofrerá na carne o impacto da recessão. E boa parte desses destinatários está naquele 1/3 do eleitorado que pode apoiar ou rejeitar o governo. Daí o aparente paradoxo da retórica anti-confinamento do presidente, enquanto seu ministro da Saúde continua fazendo o que tem que ser feito.

A fatura da volta à normalidade será alta, com custos pesados em sofrimento e angústia, mas, em um cenário de desemprego, quebra-quebra de empresas e retração (já há quem fale em crescimento negativo de 5% este ano), Bolsonaro terá uma narrativa no bolso: terá sido aquele que alertou contra a paralisação da economia, mas não foi ouvido – e se eximirá, assim, da responsabilidade pela nova crise, responsabilidade que transferida àqueles que “exageraram” na dose, ao paralisar o país. É uma aposta arriscada, mas que pode resultar em um capital simbólico importante, quando for necessário e urgente retomar a agenda das reformas e do crescimento.

Ou não. Como eu disse no começo deste artigo, qualquer análise ou previsão pode ser desmoralizada no dia – ou mesmo no minuto – seguinte, a depender dos acontecimentos.”

https://www.gazetadopovo.com.br/ideias/uma-pesquisa-de-opiniao-o-virus-e-a-aposta-do-presidente/

[Fim do texto do Luciano Trigo na Gazeta do Povo. Volto a falar eu, Eduardo Chaves]

O meu comentário acima foi escrito em 27.3.2020 – faz duas semanas hoje (9.4.2020).

Hoje recebi um email do serviço de informações Meio, que contém uma análise da situação até ontem, e endossando basicamente o meu comentário. Eis o texto parcial do email que recebi, cujo texto está também disponível em: https://www.canalmeio.com.br/edicoes/2020/04/09/bolsonaro-lava-as-maos-e-culpa-governadores-por-isolamento/ :

[Início do texto do email do Meio:]

“Bolsonaro lava as mãos e culpa governadores por isolamento

Após uma segunda na qual quase demitiu seu ministro da Saúde e uma terça-feira em silêncio irritado, o presidente Jair Bolsonaro voltou ontem à cadeia nacional de rádio e TV para reafirmar sua repulsa à quarentena. ‘Respeito a autonomia dos governadores e prefeitos’, ele disse. ‘Muitas medidas, de forma restritiva ou não, são de responsabilidade exclusiva dos mesmos. O governo federal não foi consultado sobre sua amplitude ou duração.’

Apesar de jogar nas costas dos governadores as consequências do período de isolamento social, pela primeira vez Bolsonaro reconheceu que há impacto em vidas causado pela doença.

‘Sempre afirmei que tínhamos dois problemas a resolver, o vírus e o desemprego, que deveriam ser tratados simultaneamente. As consequências do tratamento não podem ser mais danosas que a própria doença.’

O presidente também voltou a defender a aplicação de hidroxicloroquina como cura para a doença.

‘Há pouco, conversei com o doutor Roberto Kalil’, contou, ‘cumprimentei-o pela honestidade ao assumir que não só usou a hidroxicloroquina, bem como a ministrou para dezenas de pacientes. Todos estão salvos.’

Kalil é diretor clínico do Instituto do Coração e esteve doente.” [Até aqui, notícia retirada da Folha, afirma o Meio].

. . .

“Pouco antes de o presidente entrar na TV, o ministro Alexandre de Moraes definiu que Bolsonaro não pode derrubar decisões dos estados e municípios a respeito do isolamento social, restrições a escolas, comércio ou circulação de pessoas. Segundo o ministro do Supremo, as recomendações são endossadas pela Organização Mundial da Saúde, além de inúmeros estudos científicos.” [Esta última notícia, diz o Meio, retirada do G1]

[Fim do texto do email. Agora volto a falar eu, Eduardo Chaves]

Bolsonaro afina o seu discurso. Ele diz que, apesar de discordar da política de isolamento quase total implantada pelos governadores (SP, RJ, GO, etc.), “respeita sua autonomia [deles]”.

E o Ministro Alexandre de Moraes, [como já havia feito antes o Ministro Marco Aurélio de Mello], afrontando a Constituição, diz que Bolsonaro está certo em respeitar a autonomia dos governadores — e aqui vem o absurdo, mas ele é do Ministro, não de Bolsonaro: “as recomendações são endossadas pela Organização Mundial da Saúde, além de inúmeros estudos científicos.” Erra de novo o ministro: o que os governadores mencionados fizeram não foram “recomendações”: foram determinações. Eles estão mandando prender quem os desobedece.

E quando Setembro vier, se é que vai demorar tanto, e o país estiver em profunda crise econômica, Bolsonaro poderá reafirmar, em alto e bom tom, que a responsabilidade pelo desastre econômico é dos senhores governadores em questão e que o STF o impediu de se contrapor à decisões deles.

É isso.

E o Bolsonaro já assinalou ainda que a CLT afirma que, se alguém se julgar prejudicado pelas medidas econômicas tomadas em decorrência do isolamento (fechar comércio, indústria, etc.), a autoridade que determinou as medidas é responsável por eventuais reparações que a Justiça determine que sejam pagas aos prejudicados. O Ministro Alexandre de Moraes confirma que a responsabilidade é dos Governadores. Dória, Witzel e Caiado, preparem os seus bolsos.

[FIM DO ARTIGO]

Em Salto, 9 de Abril de 2020



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