The Claremont School of Theology: uma instituição em busca de sua identidade

Nos anos de 1973-1974 trabalhei numa instituição de ensino superior americana, privada, chamada Pomona College, cuja localização acabou ficando fora da cidade de Pomona, California, em Claremont, cidade vizinha, um verdadeiro oásis (com características de Nova Inglaterra) no sul da Califórnia: um pedacinho da Inglaterra, no caso Oxford, em território que um dia foi México; mais, adiante).

Pomona College é um dos chamados Claremont Colleges, que inclui, além dele próprio, fundado em 1887, o mais antigo e o maior deles, que, desde o início foi “coeducacional” (“coed”), admitindo tanto homens como mulheres, que estivessem interessados em se preparar nas áreas das humanidades, das artes, e das ciências humanas, os seguinte quatro outros “colleges” (termo usado para designar uma instituição de ensino superior, em geral focada no ensino humanístico e liberal de graduação [1]):

  • Scripps College, fundado em 1926, e dedicado apenas ao público feminino até hoje, com o mesmo foco do Pomona College;
  • Claremont McKenna College, fundado em 1946, inicialmente dedicado exclusivamente ao público masculino (mas que se tornou “coed” em 1976), dedicado a preparar pessoas para as áreas de ciências políticas, economia, finanças e relações internacionais;
  • Harvey Mudd College, fundado em 1955, e dedicado a preparar pessoas, de ambos os sexos, para as áreas de ciências naturais e ciências biológicas, de matemática, e de engenharia (em suas diversas modalidades);
  • Pitzer College, fundado em 1963, para ser uma instituição (evidentemente “coed”) experimental e inovadora na área pedagógica, com foco nas humanidades, nas artes e nas ciências humanas, e uma abordagem focada na chamada “justiça social” — sendo, hoje se percebe, o mais “esquerdista” dos cinco “colleges”.

Essas cinco instituições oferecem exclusivamente cursos em nível de graduação (primeiro nível de curso superior), com diversos focos, em suas áreas de especialização (mas às vezes indo além delas).

Pomona College está em quarto e o Claremont Mackena College em sexto lugar no prestigioso e prestigiado National Liberal Arts College Ranking. Pomona aceita apenas 7% dos que requerem admissão, e Claremont MacKenna, 10%. Ambos têm uma razão de dez alunos por professor, fatos que demonstram a seletividade e a qualidade do complexo de “colleges”.  

Além dessas cinco instituições que oferecem cursos de graduação, fazem parte do hoje chamado “Claremont Consortium” duas instituições que oferecem apenas cursos de pós-graduação em diversas áreas: Claremont Graduate University e o Keck Graduate Institute (KGI). Quando eu trabalhei em Pomona, a Claremont Graduate University era chamada de Claremont Graduate School e o Keck Graduate Institute ainda não era parte do Consórcio (fundado que foi apenas em 1997 para ser um elo de educação avançada, com um enfoque empreendedor, e com forte conexão com o mercado, para pessoas interessadas em vir a ocupar posições de liderança na área do cuidado com a saúde e das ciências biológicas aplicadas).

Além dessas sete instituições, há uma outra, afiliada ao Consórcio, mas não um membro pleno dele, a Claremont School of  Theology, fundada em 1885, que está agora discutindo a sua desafiliação do Consórcio por razões que serão abordadas, de modo resumido, adiante.

Exceto pelo Keck Graduate Institute, todas as instituições ocupam uma área densa, mas relativamente pequena, na pequena, mas próspera, cidade de Claremont, CA. Se a Claremont Graduate School realmente vier a se desafiliar do Consórcio, o que hoje parece mais do que apenas provável, ela deverá se mudar para o estado de Oregon, onde se vinculará a uma outra entidade multi-institucional, a Willamete University, abandonando sua localização tradicional no sul da California.  

Peter Drucker trabalhou por anos na Claremont Graduate School, dando seu nome à Peter Drucker Graduate School of Management. Ele foi professor lá de 1971 até 2003, tendo falecido em 2005, com a idade de 95 anos. Ele trabalhava no campus quando eu lá tive o privilégio de trabalhar, de 1973 a 1975.

John B. Cobb Jr. e James M. Robinson foram dois teólogos famosos que trabalharam na Claremont School of Theology. Cobb trabalhou lá de 1958 (ele nasceu em 1925) até se aposentar. Pelo que consta, ele ainda está vivo, com 96 anos. Robinson trabalhou lá também de 1958 até se aposentar. Ele faleceu em 2016, com 91 anos (ele nasceu em 1924). Os dois (Cobb e Robinson) mantiveram “joint appointments” com a Claremont Graduate School durante sua permanência em Claremont.

“The Claremont Colleges” foram originalmente criados para ser uma imagem da Oxford University no Sul da California: uma instituição que é, de certo modo, uma universidade, mas que está dividida em “Colleges” que possuem (relativa) autonomia, identidade própria, objetivos acadêmicos e institucionais próprios, corpo docente próprio, corpo discente próprio, aos quais são juntados recursos comuns, como Biblioteca, Teatro, e outros serviços, bem como, oportunamente, unidades acadêmicas destinadas à Pós-Graduação, à pesquisa, e a outros serviços acadêmicos que fazem mais sentido quando ficam centralizados e são compartilhados.

Focarei minha atenção, daqui para frente, predominantemente na Claremont School of Theology. Em outro artigo, ainda a ser escrito, discorrerei sobre meu querido Pomona College, instituição de que me orgulho de ter feito parte, ainda que por um tempo relativamente curto.  

Originalmente uma Faculdade de Teologia Metodista, de enfoque teologicamente conservador, a Claremont School of Theology veio a assumir, gradualmente, durante os tempos da controvérsia fundamentalista – modernista, um enfoque teologicamente liberal.

Depois, e em coerência com sua postura liberal, adotou, também, um enfoque teologicamente ecumênico, que abrangia todas as denominações cristãs, e não apenas o Metodismo.

Em seguida, a Claremont Graduate School passou a adotar um enfoque teologicamente inter-religioso, passando a aceitar pessoas interessadas em estudar toda e qualquer religião, não só a cristã.

As mudanças ora em processo de concretização na instituição têm que ver, segundo tudo indica, com uma nova crise de identidade: aquela que já era uma Faculdade de Teologia com enfoque inter-religioso, incluindo não só todas as denominações cristãs, mas todas as religiões, parece estar irrevogavelmente decidida a dar mais um passo à frente, e adotar um enfoque teologicamente secular (se a expressão “Teologia Secular” não for um oxímoro).

É um caminho de retorno muito difícil. Falo com base não apenas em leituras, mas em experiência pessoal.

A impressão que fica é que, a se consolidar essa intenção, não será necessário nem ser religioso para estudar essa teologia de cunho predominantemente secular, que incluiria enfoques humanísticos, políticos, ideológicos, etc., como a teologia da revolução, a teologia negra, a teologia feminina, a teologia das identidades de gênero, incluindo a teologia gay, etc. Ela se tornará uma instituição voltada para o estudo de um suposta teologia voltada para a reflexão sobre “classe, raça e gênero”, como se costuma dizer hoje em dia.

A original Claremont School of Theology passaria a ser uma instituição que incentiva o estudo de uma teologia sem Deus, sem o sobrenatural, sem os componentes místicos que caracterizam as principais religiões, mas com forte ênfase no estudo da revolução pela igualdade sócio-econômica (ou pelo socialismo), e outras ênfases, no combate à desigualdade sócio-econômica, ao racismo, ao machismo, ao binarismo na área sexual (rebatizada área de gênero), etc. mas certamente disposta a granjear adeptos, e, por conseguinte, a evangelizar o mundo, à sua própria moda, com as suas boas novas de diversidade.

Vide, como referência para o assunto, os seguintes artigos:

“Claremont Colleges”,
na Wikipedia,
em https://en.wikipedia.org/wiki/Claremont_Colleges

“What Are the Claremont Colleges? A Guide to the Claremont Consortium”,
no site PrepScholar,
em https://blog.prepscholar.com/what-are-the-claremont-colleges

“Pomona College”,
no site da instituição,
em https://www.pomona.edu/

“Claremont School of Theology”,
na Wikipedia,
em https://en.wikipedia.org/wiki/Claremont_School_of_Theology

“Claremont School of Theology”,
no site da instituição,
em https://cst.edu/
(que deve ser um dos endereços de instituição de ensino mais curtos que eu conheço).

O cst.edu não faz referência explícita às mudanças de identidade da instituição.

NOTA:

[1] Em uma Nota do Tradutor de minha tradução de “This is Water”, o famoso discurso de paraninfo de David Foster Wallace no Kenyon College, defini “college” da seguinte maneira: “Um ‘college’ não é equivalente a um ‘colégio’ brasileiro. Um ‘college’ (expressão que é quase uma abreviação de ‘Liberal Arts College’) é uma instituição americana de ensino superior que oferece diversas modalidades de curso superior de graduação, com ênfase nas Humanidades, em especial na Filosofia, na História, nas Letras e nas Artes. Cursos introdutórios e genéricos na área das Ciências, em especial das chamadas Ciências Humanas, também são oferecidos. Dá-se mais ênfase à Lógica do que a Matemática. Sua função é preparar os alunos para a vida, enfatizando mais a qualidade do ensino e da aprendizagem do que a pesquisa e os estudos avançados, embora, hoje em dia, seja usado como um degrau preparatório para quem quer fazer cursos, em nível posterior ao da graduação, em Direito, Medicina, Teologia, e nas diferentes áreas das Ciências Naturais, Ciências Humanas e da Lógica e Matemática.”
Vide o artigo
“’Isto é Água’, de David Foster Wallace”,
neste blog,
em https://chaves.space/2021/07/19/isto-e-agua-1-de-david-foster-wallace-2/.

Em Salto, 24 de Julho de 2021.



Categories: Liberalism

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