No dia 17 de Setembro de 1787, em Filadélfia, Pensilvânia, a Convenção Constitucional dos Estados Unidos havia concluído os trabalhos e estava pronta para votar o texto da proposta de Constituição dos Estados Unidos que teria ainda de ser aprovada pelo Congresso e pelos Estados, prévias Colônias. Foi convidado a encaminhar o voto ninguém menos do que Benjamin Franklin, filho da cidade. Foi um discurso memorável. Vou traduzir algumas partes que me fascinam e que mostram o homem público que Ben Franklin, filósofo, cientista, inventor, jornalista, era capaz de ser. Faço uma tradução livre. Aqui vai. É uma peça linda.
” Confesso que não aprovo totalmente o texto constitucional final a que aqui se chegou. Mas, senhores, não estou certo de que eu possa garantir que nunca virei a aprova-lo totalmente. Tendo vivido muitos anos, já tive várias vezes a experiência de, tendo obtido melhores informações, ou tendo dado ao material consideração mais plena, vir a aprovar plenamente algo de que eu inicialmente discordava — ou vir a desaprovar aspectos de algo que eu anteriormente havia aprovado plenamente e sem reservas. Quanto mais velho fico, mais inclinado me vejo a duvidar de minhas próprias opiniões e a dar às opiniões de outros maior respeito. Considerar-se possuidor de toda a verdade e ter certeza de que os que pensam diferente estão errados é algo pode ter seu lugar em seitas religiosas, mas certamente não deve se manifestar em discussões políticas.
Com esse sentimento, senhores, dou meu apoio a esta Constituição, com todas as falhas que ele possa ter, se é que tem, porque creio que um governo central é necessário para nós e a forma de governo prevista nesta Constituição será uma benção para o povo desta nação, se bem administrada — e creio também que ela será bem administrada por um bom número de anos, só vindo a se tornar despótica se, antes, o povo desta nação se tornar tão corrupto que venha a tornar inevitável um governo despótico, por ser incapaz de escolher um outro. Duvido, também, que qualquer outra Convenção que possa ser escolhida seja capaz de produzir uma Constituição melhor do que esta, porque, quando um grupo de homens se reúne, por mais sábios que sejam, eles trazem consigo seus preconceitos, seus erros de opinião, suas paixões, que configuram seus interesses, e sua visão egoísta das coisas centrada nesses interesses. Surpreendo-me, senhores, que, sendo este grupo igual a qualquer outro em seus defeitos, tenhamos sido capazes de produzir algo que se aproxima tanto da perfeição como, com todos os seus defeitos, esta Constituição.
Assim, senhores, eu aprovo esta Constituição, porque eu não esperava que uma Constituição melhor pudesse ser produzida, e não posso ter certeza de que esta não seja a melhor.
Por isso, conclamo todos nós, em nosso próprio nome, e em nome do povo que todos representamos, bem como por amor à posteridade, ao votar, que a aprovemos, unanimemente e de todo coração, e que, nos estágios futuros pelos quais sua aprovação deverá passar, aos quais nossa influência possa se estender, nós nos esforcemos para que ela seja aceita, como nós, espero, a vamos aceitar.
Assim sendo, senhores, não posso deixar de expressar meu sincero desejo de que cada membro desta Convenção que ainda tenha alguma objeção a esta Constituição, se imbua, neste instante, de um pouco de dúvida quanto à sua própria infalibilidade e torne manifesta, para os cidadãos desta nação, e para o povo do mundo, a nossa unanimidade, apondo seu nome e sua assinatura a este documento. E proponho que as palavras finais do documento sejam: ‘Aprovado pela Convenção, através do consentimento unânime de todos e de cada um de seus participantes’ “.
E assim foi, acrescento eu.
Eduardo Chaves
Em Salto, 9 de Junho de 2019
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