O Fundamentalismo na Igreja Presbiteriana dos Estados Unidos

[NOTA: Este artigo foi originalmente publicado em 30.9.2014 no meu blog História da Igreja, no endereço https://histig.wordpress.com/2014/09/30/o-fundamentalismo-na-forma-em-que-surgiu-na-igreja-presbiteriana-dos-estados-unidos/, e é republicado neste blog em 1o.12.2021, mais de sete anos depois, com algumas revisões.]

Conteúdo:

  1. Caracterização
  2. Raízes
  3. Visão Básica e Principais Pressupostos
  4. As Doutrinas “Essenciais e Necessárias” da Fé
  5. Intolerância e Separatismo
  6. O Desenlace
  7. O Rescaldo

1. Caracterização

Embora sempre tenha havido conservadores na área da Teologia Cristã, ou do Pensamento Cristão, houve época em que não havia Fundamentalismo, como esse movimento veio a ser conhecido. O movimento identificado por esse nome tem basicamente as seguintes características:

  • Embora tenha existido em outros países (até mesmo no Brasil), é um fenômeno tipicamente americano (aqui no Brasil tendo feito parte da herança protestante americana que chegou até nós através dos missionários americanos);
  • Embora tenha existido em outras denominações, o Fundamentalismo teve origem na Igreja Presbiteriana dos EUA (Igreja do Norte) e nela alcançou proporções mais radicais (com julgamentos de heresia, expurgos, e cismas de grandes proporções);
  • O Fundamentalismo teve início no último quarto do século 19, tendo alcançado seu ponto mais alto no período de 1910-1925, entrando, depois, em decadência no período de 1925-1937 (embora tenha, como se verá a seguir, raízes bem mais profundas).

2. Raízes

As raízes mais profundas do Fundamentalismo alcançam pelo menos o século 17 — havendo quem reivindique que cheguem até mesmo a Teodoro Beza (1519-1605), discípulo, companheiro e sucessor de João Calvino (1509-1564) em Genebra, no século 16, quando foi o primeiro diretor da Academia de Genebra, instituição educacional fundada por Calvino em 1559, que, no devido, tempo se tornou a Universidade de Genebra (UNIGE) — cuja sede está hoje no Parc des Bastions, de frente para o Monumento aos Reformadores, ao lado da Cidade Velha, onde ficam, no alto do morro, a Catedral São Pedro (a igreja de Calvino) e o Museu Internacional da Reforma.

São as seguintes as suas raízes. As duas primeiras são o que poderíamos chamar de “raízes positivas”, posto que positivamente influenciaram o que veio a se chamar de Fundamentalismo. As duas últimas são o que poderíamos chamar de “raízes negativas”, posto que influenciaram negativamente, provocando uma reação contrária.

A. O Escolasticismo (ou a Ortodoxia) Protestante

O Fundamentalismo é fruto do chamado “Escolatiscismo Protestante” (também conhecido como “Ortodoxia Protestante”), representado, na tradição reformada (calvinista), principalmente por François Turretin (1623-1687), e que, segundo alguns, tem sua raiz mais distante no pensamento de Teodoro Beza.

B. A Teologia de Princeton

Mais proximamente, o Fundamentalismo é fruto da chamada “Teologia de Princeton”, que foi grandemente influenciada por François Turretin, e tem, portanto, vertente calvinista, e que foi representada, no Seminário de Princeton, por:

  • Archibald Alexander (1772-1851), fundador do Seminário, em 1812;
  • Charles Hodge (1797-1878), sucessor de Archibald Alexander e principal estrela da escola, cuja obra mais importante, Systematic Theology, é lida até hoje, e é vendida, até hoje, até mesmo em Português, em livrarias especializadas;
  • Alexander Archibald Hodge (1823-1886), filho e sucessor de Charles Hodge, autor de obras sobre a autoridade e inspiração da Bíblia;
  • Benjamin Breckenridge Warfield (1851-1921), sucessor de A. A. Hodge, e, com ele ou sem ele, autor de obras sobre a autoridade e a inspiração da Bíblia;
  • John Gresham Machen (1881-1937), sucessor de B. B. Warfield, que encerrou a linhagem, e é autor do famoso Cristianismo e Liberalismo, em que defendeu a tese de que o Liberalismo Teológico já não era simplesmente uma escola de pensamento dentro do Cristianismo, mas uma religião inteiramente nova.

Só um breve “caveat” sobre Machen, que servirá para ilustrar um ponto mais adiante.

Machen deixou o Seminário de Princeton em 1929, para formar (em 25 de Setembro daquele mesmo ano) o conservador Westminster Theological Seminary. Fez isso porque, na Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana dos EUA daquele ano, o Seminário de Princeton foi totalmente reorganizado, de modo a passar a ser dirigido por modernistas (liberais).

Depois de sair do Seminário de Princeton, Machen ainda continuou na Igreja Presbiteriana dos EUA por alguns anos, mas foi finalmente levado a sair dela, tornando-se um dos fundadores (em 11 de Junho de 1936) de uma nova denominação: a Orthodox Presbyterian Church.

Essa igreja, por sua vez, foi vítima de um cisma já no ano seguinte (1937), quando o arquiconservador Robert McIntire saiu dela e formou a Bible Presbyterian Church, que, por sua vez, já teve pelo menos duas “filhas”: a Faith Presbyterian Church e a American Presbyterian Church.

C. O Liberalismo Teológico (Ou o Chamado  “Modernismo”)

O Fundamentalismo também é fruto, por outro lado, agora por reação, não por afinidade, da crítica a essa teologia (“Teologia de Princeton”) por parte de teólogos chamados de “Modernistas”, dentro da própria Igreja Presbiteriana dos EUA, que defendiam alguma versão do Liberalismo Teológico que imperou na Europa no século 19.

São estas algumas das principais tendências do Liberalismo Teológico:

  • A Bíblia, que contém um registro da História de Israel e do início do Cristianismo, é um livro puramente humano, em sua origem e em seu conteúdo, não tendo sido inspirada, muito menos “ditada”, por Deus e não contendo a sua revelação para os seres humanos;
  • A aplicação à Bíblia de ferramentas da chamada “Crítica”, que se divide em “Baixa Crítica” (crítica textual, crítica dos gêneros literários, e crítica redacional) e em “Alta Crítica” (crítica de fontes, crítica da perspectiva literária e do conteúdo teológico, e crítica histórica), mostrou que os livros bíblicos dificilmente foram escritos pelas pessoas a quem foram atribuídos pela tradição, provavelmente circularam na forma de pequenas perícopes que eram conservadas oralmente, e só vieram a receber sua forma definitiva, bem depois da época em que se acreditava terem sido escritos, através de compiladores / redatores que, não raro, defendiam posturas teológicas e posicionamentos políticos que estavam em conflito;
  • Uma visão imanentista de Deus e uma visão evolucionista da origem do mundo e da história humana, com a consequente rejeição do sobrenatural (concepção e nascimento virginal de Jesus, dos milagres a ele atribuídos, de sua ressurreição ao céu, da existência do céu e do inferno e da existência de anjos e demônios que os habitam e que influenciam nossas vidas, do juízo final, de uma vida futura, etc.
  • Uma visão naturalista de Jesus como um profeta, um mestre, um moralista, mas, em qualquer caso, um ser humano e não um ser divino, muito menos o próprio Deus.

D. A Teoria Darwiniana da Evolução

Acirrou e fortaleceu o movimento fundamentalista a aceitação, por vários teólogos liberais e modernistas, da Teoria da Evolução, na forma proposta por Charles Robert Darwin (1809-1882), em que a evolução biológica se dá por “Seleção Natural” e pela “Sobrevivência do Mais Apto”, levando o movimento fundamentalista, em reação e crítica, a extrapolar as paredes da Igreja Presbiteriana e das igrejas cristãs em geral para alcançar, em especial, as escolas, chegando a influenciar até mesmo o debate cultural (em especial durante a Primeira Guerra Mundial).

Uma das críticas principais feitas à teoria de Darwin era A de que ela colidia frontalmente com a “ética do amor e do altruísmo” do Cristianismo ao defender a tese de que a evolução natural se dava pela competição, sendo selecionados, naturalmente, os mais aptos — não os mais solidários e altruístas.

Quando, nos anos 1870, logo depois de Darwin, o chamado Darwinismo Social surgiu da pena de Herbert Spencer (1820-1903), propondo que a evolução social, cultural, política e econômica se dá segundo os mesmos princípios, a oposição ao “evolucionismo” ficou ainda mais forte.

Durante a Primeira Guerra Mundial era comum, nos Estados Unidos, surgirem acusações de que a Alemanha moderna era fruto de ideias evolucionistas, em que a força bruta e a astúcia tomavam o lugar dos relacionamentos sociais, culturais, políticos e econômicos baseados em princípios mais nobres (cristãos, sem dúvida).

3. Visão Básica e Principais Pressupostos

O Fundamentalismo, como uma corrente dentro da tradição cristã, reformada, calvinista tinha uma visão cristã básica bastante conservadora, que em quase tudo conflitava com a visão cristã básica dos liberais e modernistas.

São estes os seus principais pressupostos teológicos:

  • Deus existe, é transcendente, criou o mundo (“para a sua glória”), e a “jóia da criação”, o homem, foi criado sem pecado, mas livre, e, por isso, pecou, separando-se de Deus;
  • Deus elaborou um Plano de Redenção para o homem;
  • Deus comunicou o seu Plano de Redenção ao homem, e essa Revelação Divina tem as seguintes características:
    • É conceitual e proposicional, expressa em palavras e enunciados que o homem racional pode entender;
    • Está contida na Bíblia, nos livros canônicos do Antigo e do Novo Testamentos aceitos como tais pela Igreja Primitiva e pela Igreja Reformada;
  • A Fé, mediante a qual se aceita e recebe essa Revelação Divina, é basicamente uma forma de assentimento às verdades conceituais e proposicionais que foram reveladas por Deus;
  • O Plano de Redenção divino, centrado na Encarnação, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, está em execução, devendo ser culminado com a Segunda Vinda de Cristo, o Julgamento Final e a Vida Eterna, tanto dos salvos, no Céu, como dos condenados, no Inferno.

Alguns dos Fundamentalistas admitiam a existência de questões abertas e legítimos pontos de vista divergentes nesse quadro doutrinário, como, por exemplo:

  • Se a decisão (o “decreto”) de Deus de elaborar um Plano de Redenção envolvia também a decisão de eleger alguns para a salvação eterna e outros para a perdição eterna — a problemática doutrina da “dupla predestinação”;
  • Em caso positivo, se essa decisão foi tomada antes (do ponto de vista lógico, não temporal) ou depois (idem) de sua decisão de criar o mundo e, nele, o homem, com livre arbítrio, e antes de “permitir” que o homem pecasse — debate entre os “supralapsarianos” (a decisão foi tomada antes da queda) e “infralapsarianos” (a decisão foi tomada depois da queda);
  • Se a obra redentora de Jesus Cristo é destinada apenas aos eleitos ou a todos os que a aceitarem, mediante a fé — debate entre os que defendiam uma “expiação limitada” e os que defendiam uma expiação, em princípio, universal, restringida apenas, no caso de alguns, pela ausência de sua aceitação, pela fé, dessa obra redentora;
  • A chamada discussão sobre a escatologia (o final dos tempos, a segunda vinda de Jesus, o juízo final), às vezes acompanhada da discussão do chamado “dispensacionalismo”, com as alternativas de “prémilenialismo” (com as sub-alternativas “prétribulacional” e “póstribulacional), “pósmilenialismo”, e “amilenialismo”.

4. As Doutrinas “Essenciais e Necessárias” da Fé

São estas as doutrinas que a maior parte dos Fundamentalistas presbiterianos, a partir dos anos 1910, passou a considerar “essenciais e necessárias” — e, portanto, inegociáveis:

  • A Inerrância e Infalibilidade das Escrituras
  • A Expiação Substitucionária de Cristo
  • A Realidade História dos Milagres
  • O Nascimento Virginal de Cristo
  • A Ressurreição Corporal de Cristo

[Referência retirada de Gary North, Crossed Fingers: How the Liberals Captured the Presbyterian Church (Institute for Christian Economics, 1996), p. 18.]

A exigência de aceitação desses cinco pontos, como programa mínimo, foi aprovada na Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana dos EUA (Igreja do Norte) do ano de 1910, e foi reiterada na Assembleia Geral dos anos 1916 e 1923.

[O texto completo da Resolução de 1910, que foi reiterada duas vezes em anos seguintes, pode ser encontrado em Maurice W. Armstrong, Lefferts A. Loetscher, e Charles A. Anderson, The Presbyterian Enterprise: Sources of American Presbyterian History (The Westminster Press, 1956), pp. 280-282.]

É interessante registrar que a causa original ou, pelo menos mais remota, dessa decisão estava quase dois séculos antes. Em 1729, quase no início da existência formal do Presbiterianismo americano, o único Sínodo existente (a Assembleia Geral só seria criada bem depois), pressionado a exigir que candidatos ao ministério declarassem formal e explicitamente sua aceitação das doutrinas da Confissão de Fé e dos Catecismos de Westminster, mas havendo fortes resistências a essa medida no seio desse concílio, acabou por aprovar uma resolução deliberadamente vaga, a saber:

“Todos os ministros deste Sínodo, ou que venham, a partir desta data, a ele ganhar admissão, declararão seu acordo com a Confissão de Fé e com os Catecismos Longo e Curto aprovados na Assembleia de Teólogos de Westminster, e sua aprovação desses documentos, deixando claro que os consideram, em todos os artigos essenciais e necessários, formulações adequadas de sólido sistema de Doutrina Cristã, e que adotam a mencionada Confissão e os mencionados Catecismos como a confissão de nossa fé. E, também, fica acordado que todos os Presbitérios que se situam dentro dos limites deste Sínodo sempre tomarão cuidado para que nenhum candidato ao ministério seja admitido a essa função sagrada a menos que declare estar de acordo com todos os artigos essenciais e necessários desses documentos, seja pela subscrição formal deles, seja por declaração verbal de seu assentimento a eles, conforme achar melhor” [Cp. The Presbyterian Enterprise, op.cit., pp. 31-32. Ênfase acrescentada.]

De 1729 até 1910 a Igreja Presbiteriana dos EUA nunca concordou em definir, para toda a denominação, quais seriam os artigos que ela considerava “essenciais e necessários” na Confissão de Fé e nos Catecismos de Westminster, aos quais todo candidato ao ministério deveria dar seu assentimento formal. Só fez isso em 1910.

5. Intolerância e Separatismo

Fortalecidos pela sua maioria na Assembleia Geral de 1910, os fundamentalistas, de 1910 até cerca de 1925, “deitaram e rolaram”, assumindo uma atitude de intolerância para com pontos de vista divergentes e sugerindo aos modernistas que, se não estivessem satisfeitos, se separassem. Muitos saíram de livre e espontânea vontade, outros foram colocados para fora através de processos eclesiásticos de heresia, transferindo-se para outras denominações.

Mas essa mesma arma viria a ser utilizada contra os fundamentalistas oportunamente.

6. O Desenlace

Por um bom tempo os Fundamentalistas conseguiram manter controle da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana dos EUA (Igreja do Norte), exigindo dos modernistas (liberais) que acatassem as resoluções da Assembleia Geral “or else”. O problema é que havia presbitérios que não concordavam com a resolução da Assembleia Geral e se recusavam a exigir a adesão aos Cinco Pontos por parte de seus ministros. O Presbitério de Nova York foi o principal deles. Mas alguns pastores chegaram a ser julgados por heresia pela própria Assembleia Geral, passando por cima dos presbitérios a que pertenciam esses pastores, com base em entendimento meio elástico das normas presbiterianas.

Mas, trabalhando nos bastidores, os modernistas foram conquistando postos estratégicos na hierarquia da igreja e, a partir de um certo momento (a partir de 1926; vide Gary North, op.cit., p.572), passaram a controlar a Assembleia Geral. Dali em diante tornaram a vida dos fundamentalistas literalmente insuportável, forçando-os a tomar do próprio amargo remédio, retirando-se da denominação e formando outra, caso não estivessem satisfeitos. E foi isso que eles fizeram.

Uma vez fora da denominação principal, os fundamentalistas continuaram a adotar os princípios de intolerância e separatismo, como fica evidente no fato de que a igreja que foi criada por desmembramento em 1936 (a Orthodox Presbyterian Church) em pouco tempo já havia se tornado quatro (tendo sido desmembrada em mais três: a Bible Presbyterian Church, a Faith Presbyterian Church, e a American Presbyterian Church.

Mas, dentro da igreja presbiteriana principal dos Estados Unidos a batalha entre os fundamentalistas e os modernistas estava encerrada, tendo sido total e completamente ganha pelos liberais ou modernistas.

7. O Rescaldo

Em decorrência da vitória modernista dentro da Igreja Presbiteriana dos EUA, e das derrotas que sofreu fora dela, o Fundamentalismo terminou a década de 1930 bastante desmoralizado.

Entre as derrotas externas estava o resultado do Julgamento de John Scopes (também chamado de “Julgamento do Macaco”, em Tennessee, em 1925. O Estado de Tennessee, incentivado pelas hostes fundamentalistas presbiterianas, havia aprovado legislação proibindo que professores das escolas públicas ensinassem a evolução em suas aulas. Incentivado pela recém-criada União de Liberdades Civis Americana (American Civil Liberties Union — ACLU), John Thomas Scopes (1900-1970), então com 25 anos, professor substituto de biologia em Dayton, TN, fez exatamente isso e foi preso e indiciado.

Imediatamente a ACLU contratou o advogado mais famoso dos Estados Unidos, Clarence Seward Darrow (1857-1938), liberal de carteirinha, para defender John Scopes. Para não ficar atrás, a Promotoria de Dayton anuiu ao “auto-convite” de William Jennings Bryan (1860-1925) para servir de Promotor Convidado. Bryan era presbiteriano conservador — e o principal líder nacional da luta contra a evolução. Havia sido Secretário de Estado Democrata (1913-1915) no governo do presidente Woodrow Wilson (1856-1924), e por três vezes foi candidato à Presidência dos Estados Unidos pelo Partido Democrata (1896, 1900 e 1908), tendo, porém, sido derrotado em todas elas. Em 1923 foi candidato a Presidente da Assembleia Geral da Igreja Presbiteriana dos EUA e, embora favorito, foi derrotado na última hora por pequena margem — indicação que o clima de opinião aos poucos mudava dentro da igreja.

O julgamento de Scopes foi uma sensação nacional e internacional. Pela primeira vez na história dessa tecnologia, o rádio cobriu o julgamento ao vivo para toda a nação. Além de Darrow e Bryan havia mais celebridade presente: o Baltimore Sun enviou H. L. Mencken (1880-1956), famoso jornalista, escritor, e crítico cultural americano, para cobrir o julgamento como jornalista convidado.

O julgamento foi totalmente tendencioso. Proibido de trazer testemunhas que dariam evidência de que a teoria da evolução faz sentido e tem respaldo dos maiores cientistas mundiais, Darrow foi obrigado a chamar Bryan como testemunha especializada na Bíblia e no Cristianismo. Bryan saiu totalmente ridicularizado ao final da sua arguição.

No final, Scopes foi condenado — mas o juiz não teve coragem de aplicar uma pena maior do que uma multa de 1 dólar, para que a cidade não ficasse ainda mais malvista diante do mundo. Os dois lados resolveram recorrer. Bryan ficou possesso — e veio a falecer cinco dias depois do final do julgamento. Em apelação, Darrow conseguiu reverter a condenação, ganhando o caso.

[Vide o resumo do caso em Gary North, op.cit., pp. 460-464, 572-575; cp. p.438 para a estratégia da defesa. Pelo menos uma peça de teatro e dois filmes já foram feitos sobre esse julgamento.]

Mas o caso decretou a falência do Fundamentalismo. A partir dali, a maioria dos fundamentalistas (com exceção dos ultrarradicais), começaram a ter certa vergonha de se designarem fundamentalistas.

O campo estava aberto para o surgimento de um outro movimento que serviria de alternativa para o Liberalismo: o chamado “Movimento Evangélico” — ou Evangelicalismo.

Mas esse movimento será discutido em outro artigo.

Em São Paulo, 30 de Setembro de 2014 (com revisão em 1o de Dezembro de 2021 e em 31 de Dezembro de 2021, neste caso com o editor “MarsEdit”)



Categories: Fundamentalism, Liberalism (Theological), Modernism (Theological)

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