A Iluminação (The Enlightenment)

Acabei de comprar, agora às 3h da manhã (de 31.3.2021), um livro a que consegui resistir por alguns dias. Há muitas coisas a que resisto bem: roupas, por exemplo; ou carros — dirijo o mesmo Corolinha há vinte anos (a serem completados amanhã, Primeiro de Abril). Mas para resistir a livros minha força de vontade é fraca — sofro de akrasia.

O livro tem o título de The Enlightenment: The Pursuit of Happiness (1680-1790) e foi escrito por Ritchie Robertson. Naturalmente li o Quadro de Conteúdos, o Prefácio, a Introdução, antes de me decidir a comprar o livro. Mas várias razões virtualmente me forçaram a comprar o livro. (Livre Arbítrio, tudo bem, fique tranquilo, eu sei que sou livre, mas neste caso a sensação é de que fui compelido a comprar o livro). E o que quebrou minha frágil resistência? O título.

Em primeiro lugar, no título, The Enlightenment — O Iluminismo. Alguns frescos, que em geral estudaram em Paris, traduziriam “The Enlightenment” por “As Luzes”. “The Enlightenment” não quer dizer as “As Luzes”. Quer dizer, na realidade, “A Iluminação”. As manias da língua fizeram que o termo “O Iluminismo” prevalecesse. Mas ainda prefiro “A Iluminação”, “Die Erklärung“. O Iluminismo é meu período favorito da história (basicamente Ocidental que, para mim, é a que importa). Escrevi minha tese de doutoramento sobre um aspecto do Iluminismo, neste caso, escocês ou britânico: David Hume (1711-1776).

Em segundo lugar, no título, as datas: 1680-1790. Fico incomodado com gente que se sente à vontade para colocar datas precisas em períodos históricos específicos — embora eu mesmo já tenha escrito um livrinho sobre a História da Igreja Antiga que, pelo menos numa das extremidades, tem uma data precisa: “Dos Primórdios Até a Queda do Império Romano no Ocidente” que se deu no ano de 476 aD. Por que será que o autor escolheu 1680 e não 1688, por exemplo, data da chamada Revolução Gloriosa na Inglaterra — que, segundo alguns, não foi gloriosa nem, muito menos, revolução… [Parênteses — na verdade, colchetes: por que a esquerda chama o que teve lugar em 1917 na Rússia de Revolução e o que teve lugar no Brasil de 1964 (em 31.3, dia de hoje) de Golpe? Se o que os militares brasileiros lideraram, com pleno apoio da maioria da classe política e da população, foi Golpe, a gente, que “trabalha com a linguagem”, como diria Ariano Suassuna, fica com dificuldade para achar uma palavra que descreva corretamente o que se passou na Rússia em 1917: foi muito mais do que Golpe, não menos, como pretende a esquerda, ao chamar o opus magnum da sanguinolência de Lênin e seus comparsas (Lênin et caterva) de “revolução”… Fim dos Parênteses/Colchetes]. E, no outro extremo, por que 1790, em vez de 1789, data da Revolução Francesa? Mas as datas não me incomodam muito. Posso perfeitamente conviver bem com 1680-1790 — cento e dez anos

Em terceiro lugar, no título, a descrição do que o autor entende por “A Iluminação”: The Pursuit of Happiness (A Busca da Felicidade). A maior parte dos historiadores afirma que o século (mais ou menos) da Iluminação foi o século do Império da Razão e, quem sabe, mais ao final, com Rousseau, o século do Conflito entre a Razão e a Sensibilidade, entre o Racionalismo e o Romantismo. Ritchie Robertson vai buscar a frase “The Pursuit of Happiness” na Declaração de Independência dos Estados Unidos, escrita, magistralmente, por um dos meus heróis, Thomas Jefferson (1743-1826). Entre a Razão e a Sensibilidade, eu fico com a Felicidade, a Auto Realização, a Eudaimonia.

Está explicado por que um título me fez investir em um livro na madrugada deste 31.3.2021. Depois eu falo sobre o conteúdo do livro.

Em Salto, 31 de Março de 2021



Categories: Liberalism

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