Acerca da Inerrância e Infalibilidade da Bíblia

Acho difícil de concordar com aqueles que afirmam ter certeza de que esta proposição p, de que a Bíblia é inerrante e infalível em  tudo o que nela está contido, é verdadeira.

Isto por esta razão bastante complexa:

Aceitar p implica aceitar pelo menos estas seis outras proposições e ter certeza de que elas são verdadeiras, a saber:

p1: Deus existe;

p2: Deus fala e revela o que pensa, o que quer e o que vai fazer;

p3: Deus é onisciente (sabe tudo);

p4: Deus não erra, não falha, não mente, e é sério (não engana nem brinca em serviço);

p5: A Bíblia é a Palavra de Deus (ou contém a Palavra de Deus, somente a Palavra de Deus, e nada mais do que a Palavra de Deus);

p6: É possível provar, e eu tenho esta prova, que estas seis proposições (p1-p6), inclusive esta  (p6) são verdadeiras, sem usar o argumento circular de que elas são afirmadas pela Bíblia (se é que são).

Se alguém discordar de mim, basta apresentar a prova.

NOTA: O meu argumento não prova, nem tem intenção de provar, que a Bíblia contém erros e falhas, ou seja, que ela não é inerrante e infalível.

Em Salto, 27 de Abril de 2024



Categories: Liberalism

5 replies

  1. Se está no reino das certezas, já não se perdeu a perspectiva do amor ?

    Se as certezas forem necessárias, quais os conjuntos mínimos de evidências são necessárias para fixar essas certezas ?

    Eu me pergunto se é possível ter certeza no amor. Não há certeza sobre o que existirá no fim da vida de um casal, mesmo assim, dia a pós dia há de se crer, e crendo mesmo quando morto, volta e meia ele ressuscita e floresce. Tenho a impressão de que se é perdida a perspectiva do amor como confiança e do escândalo para os gentios já não é mais cristianismo. É perigoso, sim ! Radical, também! Mas sem isso é outro evangelho. Nesse caso, a certeza não significa conhecimento justificado de proposições mas o resultado de uma história de confiança em uma pessoa – as obras do amor- .

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    • Eu não estou entre os que têm certeza, no tocante à verdade de proposições ou enunciados. Nessa área da epistemologia, sou cético por natureza. No entanto, na área de relacionamentos interpessoais, em que se situam a amizade e o amor, tendo a confiar nas pessoas que não se mostraram indignas da minha confiança. Se alguém, porém, em que tenho confiança se mostra indigno dela, eu retiro imediatamente a confiança — deixo de confiar. Não creio que haja incoerência entre as duas posturas minhas: o ser cético em relação à veracidade de proposições ou enunciados e o ter confianças (trust, fiducia) nas pessoas até quando, e se, elas se mostrarem indignas de minha confiança. A questão da inerrância e infalibilidade da Bíblia é do primeiro tipo, não do segundo. Obrigado por comentar.

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      • Eduardo Chaves, eu que agradeço pela resposta ! Cheguei aqui por conta do post sobre a biografia do Lewis e acabei ficando. Tenho aprendido muitas coisas com o senhor.

        Professor, sobre essa postura, ainda não me parece claro uma fundamentação para que toda e qualquer proposição devesse ser encarada com ceticismo. Nós poderíamos dizer que esse deveria ser um ideal, eu também não sei quanto a isso, mas se sairmos do reino do dever ser para o reino das coisas como são, eu me pergunto se isso se justifica em termos de racionalidade. A atitude cética perante toda e qualquer proposição não seria irracional ?Eu tenho a impressão de que crer em algumas proposições, creio que foi William James quem as chamou de crenças básicas (ter confiança no testemunho da memória, confiança de que não estou em uma matriz, confiança de que as coisas não surgem do nada etc), é fator imprescindível para o uso da razão, então nesse sentido a atitude cética em absoluto se tornaria irracional. Então a questão da confiança parece voltar a tocar o campo da episteme, só posso justificar algo porque parto da confiança na validade de outras proposições. Alguns dizem que você só pode acreditar em algo se houverem boas razões para isso, o tal da cresça justificada, mas eu não sei se há boas razões para crer nesse dever, nesses termos. Eu sou tentado mais a crer que existe uma diferença entre saber algo e saber justificar para um cético aquilo que eu sei.

        Eu sei que muitos conceitos aqui estão confusos e sem muita distinção, mas acho que deu para passar uma ideia. Mas no fundo eu queria saber mesmo é se a sua atitude cética perante enunciados e proposições é uma atitude voluntária ou se seria meio que uma intuição básica, do qual não se faz escolhas, simplismente é, pra falar das coisas que mesmo que tentassem te obrigar a aceitar você no máximo poderia mentir para alguém mas nunca para si mesmo ?

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      • Eduardo Chaves, eu que agradeço pela resposta ! Cheguei aqui por conta do post sobre a biografia do Lewis e acabei ficando. Tenho aprendido muitas coisas com o senhor.

        Professor, sobre essa relação, ainda não me parece claro uma fundamentação para que toda e qualquer proposição devesse ser encarada com um ceticismo. Nós poderíamos dizer que esse deveria ser um ideal, eu também não sei quanto a isso, mas se sairmos do reino do dever ser para o reino das coisas como são, eu me pergunto se isso se justifica em termos de racionalidade. A atitude cética perante toda e qualquer proposição não seria irracional ?Eu tenho a impressão de que crer em algumas proposições, creio que foi William James quem as chamou de crenças básicas (ter confiança no testemunho da memória, confiança de que não estou em uma matriz, confiança de que as coisas não surgem do nada etc), é fator imprescindível para o uso da razão, então nesse sentido a atitude cética em absoluto se tornaria irracional. Então a questão da confiança parece voltar a tocar o campo da episteme, só posso justificar algo porque parto da confiança na validade de outras proposições. Alguns dizem que você só pode acreditar em algo se houverem boas razões para isso, o tal da cresça justificada, mas eu não sei se há boas razões para crer nesse dever, nesses termos. Eu sou tentado mais a crer que existe uma diferença entre saber algo e saber justificar para um cético aquilo que eu sei.

        Eu sei que muitos conceitos aqui estão confusos e sem distinção, mas acho que deu para passar uma ideia. Mas no fundo eu queria saber mesmo é se a sua atitude cética perante enunciados e proposições é uma atitude voluntária ou se seria meio que uma intuição básica, do qual não se faz escolhas, simplismente é, pra falar das coisas que mesmo que tentassem te obrigar a aceitar você no máximo poderia mentir para alguém mas nunca para si mesmo ?

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      • Me desculpe por ter mandado a mesma resposta 2 vezes. Achei que tinha dado um erro porque ela não apareceu e acabei achando que tinha dado algum erro. Só depois eu vi que as mensagens passam pela aprovação primeiro para depois aparecerem

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