A Europa Atual

Sempre fui fascinado pela Europa, embora tenha pisado lá pela primeira vez apenas em 1981, quando eu tinha 38 anos… Depois estive lá em 2003, em seguida em 2006, e, depois, felizmente, com certa frequência. A paisagem é linda e ainda me fascina. A política, porém, me decepciona cada vez mais, à medida que me aprofundo na história do chamado Velho Continente.

Entender a Europa Moderna (da Renascença para cá) não é coisa fácil. Sua história é complicada — e essa sua história complicada acabou por tornar sua geografia uma coisa mais complicada ainda. Hoje é muito difícil saber onde ficava, antes do século 20, a Silesia, entender como, além da Galícia da Península Ibérica, pode ter havido uma outra Galícia, perto da Silesia, descobrir onde fica, hoje, a cidade de Königsberg, em que o maior filósofo alemão, Emanuel Kant, nasceu, e da qual nunca se arredou, e em que os habitantes, segundo a lenda, acertavam seus relógios pela passagem metódica do filósofo em frente às suas casas em suas caminhadas diárias pelas ruas da cidade (sempre no mesmo itinerário)… (Para não deixar curiosidades pendentes, o território que historicamente pertenceu à Silesia hoje faz parte de três países: a Polônia, a República Tcheca e a Alemanha; e a cidade em que Kant nasceu passou por muitas mãos e hoje pertence à Rússia, com o nome de Kaliningrad. Que destino!)

Mas há formas de lidar com essa coisa bagunçada que é, hoje, a geografia europeia,  embora nenhuma delas seja totalmente satisfatória.

1. Recortes Geográficos da Situação Histórica Atual

A melhor solução é fazer recortes geográficos na situação histórica atual (pós Guerra Fria), mesmo que esses recortes envolvam alguma indefinição e sobreposição. Vou tentar usar os nomes dos países como eles são grafados em Português. Não é sempre fácil. O que na língua local se chama Latvyia, e que em Inglês se chama Latvia, em Português de chama de Letônia. Não é fácil.

O primeiro recorte geográfico importante é o que demarca a Europa da Ásia. Tradicionalmente, a linha que divide a Europa da Ásia — que, é bom que se registre, não é, nem de longe, uma linha reta, como os meridianos, sendo bastante ziguezagueada — separa, no Sul, a Turquia em duas partes, uma europeia, a outra asiática, passando pelo Estreito de Bósforo; vira para Leste, depois do Mar Negro, e vai até a extremidade Leste da Ucrânia; vai para o Norte, dividindo a Rússia em duas partes, uma europeia (que inclui Moscou e São Petersburgo), e outra asiática; depois, na direção de São Petersburgo, volve para Oeste, de modo a eixar a Finlândia na Europa e a o Norte da Rússia na Ásia. Mais ou menos assim.

O segundo recorte geográfico importante é entre a Europa Ocidental e a Europa Oriental. Esse recorte é importante por causa das referências constantes à nossa Tradição Europeia Ocidental. Na verdade, quando se fala em Ocidente, muitos autores têm em mente a Europa Ocidental, deixando de fora do Ocidente não só a África, que fica bem ao Sul da Europa Ocidental, como também as Américas, que ficam do outro lado do Atlântico.

A definição da linha que separa a Europa Ocidental da Europa Oriental tem sido complicada pela que aconteceu depois da Segunda Guerra Mundial, ao longo da chamada Guerra Fria. A linha que separa a Europa Ocidental da Europa Oriental é idêntica à linha que definiu a Cortina de Ferro, a partir do final da década de 1940?

A referência à Cortina de Ferro traz a mente o discurso de Winston Churchill, proferido em 5 de Março de 1946, no Westminster College, de Fulton, MO (Missouri). Eis a parte pertinente do discurso, que cito em Inglês e traduzo em seguida para o Português:

“From Stettin in the Baltic to Trieste in the Adriatic, an iron curtain has descended across the Continent. Behind that line lie all the capitals of the ancient states of Central and Eastern Europe. Warsaw, Berlin, Prague, Vienna, Budapest, Belgrade, Bucharest and Sofia, all these famous cities and the populations around them lie in what I must call the Soviet sphere, and all are subject in one form or another, not only to Soviet influence but to a very high and, in many cases, increasing measure of control from Moscow. Athens alone-Greece with its immortal glories-is free to decide its future at an election under British, American and French observation. The Russian-dominated Polish Government has been encouraged to make enormous and wrongful inroads upon Germany, and mass expulsions of millions of Germans on a scale grievous and undreamed-of are now taking place. The Communist parties, which were very small in all these Eastern States of Europe, have been raised to pre-eminence and power far beyond their numbers and are seeking everywhere to obtain totalitarian control. Police governments are prevailing in nearly every case, and so far, except in Czechoslovakia, there is no true democracy.” [1]

“De Estetino (Stettin), no Mar Báltico, até Trieste, no Mar Adriático, uma cortina de ferro desceu sobre o Continente Europeu. Atrás dessa linha estão todas as capitais dos antigos estados da Europa Central e da Europa do Leste. Varsóvia, Berlin, Praga, Viena, Budapeste, Belgrado, Bucareste e Sofia, todas essas famosas cidades, e a população que nelas habita, estão dentro do que devo chamar de esfera de influência da União Soviética. Todas elas, de uma forma ou de outra, estão sujeitas, não só à influência soviética, mas, em medida muito elevada, e que aumenta, ao controle por parte de Moscou. Apenas Atenas, a Grécia, ela apenas, com suas glórias imortais, tem liberdade de escolher seu futuro através de eleições sob observação das Forças Britânicas, Americanas e Francesas. O Governo Polonês, dominado pelos Russos, foi encorajado a fazer enormes, e injustificadas, incursões em território alemão, e está realizando expulsões em massa de milhões de Alemães de suas casas, numa escala tão violenta que nunca antes foi constatada. Os Partidos Comunistas, que eram muito pequenos nesses países da Europa Oriental, foram elevados a uma preeminência e a um poder que de longe excede os seus números, e estão tentando, em todos os lugares, obter controle totalitário dos territórios. Governos policiais estão prevalecendo em quase todos os casos, e, no momento, exceto na Checoslováquia, não há verdadeira democracia em lugar nenhum.”

Como é evidente no discurso de Churchill, a Cortina de Ferro não divide a Europa Ocidental da Europa Oriental, posto que passa por dentro da Alemanha, deixando Berlin e boa parte da Alemanha (aquela que veio a ser chamada Alemanha Oriental, ou por ironia, República Democrática da Alemanha, por detrás da Cortina de Ferro, sob controle da União Soviética. A Áustria também estava dividida, ficando Viena por detrás da Cortina de Ferro naquele momento, ficando a sede da presença Aliada apenas em Salzburgo, que fica naquele “rabicho” ocidental da Áustria que chega a Suíça, fazendo limite no Sul com a Itália.

Para definir a linha que divide a Europa Ocidental da Europa Oriental é preciso constatar que há algo que é geralmente chamado de Europa Central, a que o próprio Churchill faz referência, deixando claro que, na sua forma de ver,  a Cortina de Ferro abrange parte da Europa Central e a Europa Oriental.

Vou fazer uma sugestão, que tem uma certa arbitrariedade, e definir que a Europa Oriental, ou Europa do Leste, inclui duas faixas verticais:

  1. Uma, mais a Leste, e, por conseguinte, mais distante do restante da Europa, posto que faz divisa com a Ásia, inclui a Finlândia, os Países Bálticos (Estônia, Letônia [Látvia] e Lituânia), Bielorússia, Ucrânia, Moldávia, Romênia, Bulgária, e a parte europeia da Rússia, ao Norte, e da Turquia, ao Sul;
  2. Outra, mais perto da Europa Ocidental, inclui a Polônia, a Eslováquia, a Hungria, a Croácia e a Sérvia.

Poderíamos chamar essas duas faixas de “Far Eastern Europe” e “Near Eastern Europa” — Europa Oriental Remota e Europa Oriental Próxima.

A Europa Ocidental, ou Europa do Oeste, inclui quatro faixas verticais:

  1. Uma, mais próxima da Europa Oriental, contém República Checa (contendo Boêmia e Moravia), Áustria, Eslovênia, Bósnia-Herzegovina, Montenegro, Albânia, Kosovo, Macedônia-Norte e Grécia;
  2. Outra, mais distante da Europa Oriental, contém Suécia, Noruega, Dinamarca, Alemanha, Suíça, Itália;
  3. Outra, mais no Oeste da Europa, contém Islândia, Reino Unido (Inglaterra, Escócia, País de Gales, Irlanda do Norte), Irlanda, Benelux (Bélgica, Holanda [Netherlands], Luxemburgo), e França;
  4. Outra, por fim, no Extremo Oeste, na verdade, no Sudoeste, inclui a Península Ibérica (Espanha e Portugal).

Poderíamos dizer, sempre ressalvando razoável grau de arbitrariedade, que a Europa Ocidental tem Duas Faixas Extremas, a Leste e a Oeste, hoje sem lideranças destacadas, e Duas Faixas Centrais, a Leste e a Oeste, uma hoje liderada pela Alemanha, com participação menor da Itália, e a outra, hoje liderada pelo Reino Unido, com participação menor da França.

É possível arriscar que, no século 19, os conflitos maiores na Europa Ocidental se deram especialmente entre nações das Faixas 1 e 2, em especial Alemanha e Áustria, enquanto no século 20, eles se deram entre nações das Faixas 2 e 3, em especial Alemanha, França, e Reino Unido.. A participação dos países da Faixa 4 (Espanha e Portugal) foi bem pequena nesses dois séculos, excetuando-se a Guerra Civil Espanhola entre as Duas Grandes Guerras do século 20.

Confesso que, pessoalmente, meu interesse maior está na parte Ocidental da Europa e, por isso, tendo, em geral, a ignorar a História e a Geografia do Leste Europeu (que, no entanto, parece estar meio estabilizado agora, a despeito das incursões da Rússia na Ucrânia, roubando-lhe a Crimeia). Apesar de morrer de vontade de conhecer Tallinn, capital da Estônia, nos Países Bálticos, perto de Helsinque (Finlândia) e São Petersburgo (Rússia), vou, aqui, dar mais atenção à Europa Ocidental, sem, porém, ignorar de todo a Europa Oriental.

Um terceiro recorte geográfico importante, embora menos, agora já dentro da Europa Ocidental, é entre a Europa Ocidental Continental e a Europa Ocidental Insular.

A Europa Ocidental Continental, em princípio, não apresenta grandes problemas hoje, mas no passado a definição dos locais em que passa, exatamente, em determinados casos, a linha divisória entre a Europa Ocidental e a Europa Oriental. Por exemplo: a República Checa fica na parte Ocidental ou Oriental da Europa? Durante a Guerra Fria, a então Checoslováquia, que compreendia a atual República Checa, era considerada parte do Leste Europeu, Comunista. Hoje, terminado o domínio comunista na Europa do Leste, e dividida a Checoslováquia em dois países (República Checa e Eslováquia), o que fazer? Continuar a considerar os dois países como parte do Leste Europeu? Considerar a República Checa como parte da Europa Ocidental e a Eslováquia como parte da Europa Oriental? Considerar as duas como parte da Europa Ocidental? É bom lembrar que Praga fica mais a Oeste do que Viena, e ninguém disputa a Ocidentalidade da Áustria… Bratislava, a capital da Eslováquia, fica, porém, a Leste de Viena, ma non troppo, pois fica quase sobre a linha divisória entre a Áustria e a Eslováquia. Foram essas questões que eu dei por resolvidas, de forma meio arbitrária, com minhas seis (quatro mais duas) faixas.

Quanto à Europa Ocidental Insular, as ilhas mais importantes são, de longe, as chamadas Ilhas Britânicas, que incluem a Ilha da Grã-Bretanha, que hoje abrange a Inglaterra, o País de Gales, e a Escócia, que fazem parte do Reino Unido, e a Ilha da Irlanda, que abrange a República da Irlanda, independente desde 1923, antes chamada de Irlanda do Sul, e a Irlanda do Norte, que continua parte do Reino Unido, que hoje oficialmente se chama Reino Unido da Grã-Bretanha e da Irlanda do Norte, e outras ilhas menores. Como certamente sabe quem tem acompanhado a novela do BRexit, a relação entre a Europa Ocidental Continental, hoje majoritariamente parte da União Europeia (com a nobre exceção da Suíça, da Noruega, etc.) e a Europa Insular, em especial a parte compreendida no Reino Unido, não tem sido fácil — e isso desde o começo da União Europeia: o Reino Unido entrou depois da maioria dos principais países, e se recusou a aceitar uma moeda comum. E agora quer sair. Acho que vai conseguir como o novo Primeiro Ministro, que é mais chegado a Ronald Trump e a Jair Bolsonaro do que a anterior Primeira Ministra… Meio do tipo “ou vai, ou racha”… Rachar com a União Europeia é exatamente o que ele quer.

Uma outra questão, esta mais curiosa do que de fato importante, é que, como se verá adiante, há quem considere a Europa Ocidental apenas a Parte Ocidental do Continente, deixando de fora as ilhas. Alguns deixam de fora até mesmo as principais penínsulas, como a Ibérica, que contêm Portugal e Espanha, e a Itálica, que contém, naturalmente, a Itália.

Voltando a falar da Europa Ocidental Continental, dentro dela é possível, e, talvez, preciso, fazer mais recortes.

Na Europa Ocidental Continental, a parte mais importante, hoje, consiste das Faixas 2 e 3, que caracterizam a Europa Ocidental Central, que, historicamente, tem tido na Alemanha o país não só geograficamente central como mais importante. Embora possa haver quem discorde, se considerarmos a Alemanha o centro, ou o núcleo central, da Europa Ocidental, veremos que ela está rodeada de todos os lados, de forma mais imediata (envolvendo divisas territoriais, ou quase).

  • A Oeste, por França, Bélgica, Holanda (Netherlands) e Luxemburgo;
  • A Leste, por Polônia, República Checa, Eslováquia, Áustria (menos uma parte) e Hungria;
  • A Norte, por Dinamarca, Noruega, e Suécia (os chamados Países Escandinavos);
  • A Sul, por Suíça e parte da Áustria, que têm, abaixo delas, a Itália (que, contudo, não faz divisa com a Alemanha, talvez para sorte dos italianos).

A a Parte Leste da Europa Ocidental, como aqui caracterizada (Polônia, República Checa, Eslováquia, Áustria e Hungria), às vezes acrescida de alguns países dos Bálcãs  (Eslovênia, Croácia e Bósnia-Herzegovina, que ficam nem tanto a Leste nem tanto a Sul) é o que alguns autores chamam de Europa Central (Europa aqui envolvendo a Ocidental e a Oriental).

Finalmente, é necessário fazer mais um recorte importante e necessário: entre a Europa Ocidental Central (Faixas 2 e 3), como acabo de defini-la, e:

  • de um lado, a Oeste (Sudoeste), a o Far West da Europa Ocidental, ou o Oeste Remoto da Europa Ocidental, por assim dizer, ou seja, a Península Ibérica, compreendendo Espanha e Portugal;
  • de outro lado, a Leste, o Far East da Europa Ocidental, ou o Leste Remoto da Europa Ocidental, também por assim dizer, ou a Europa do Leste, propriamente dita, que compreende um grande número de países que ficam a Leste da Europa Ocidental Central.

Esses países, os incluídos na segunda dessas duas categorias, podem ser divididos em grupos:

  • Os Países Bálticos (Estônia, Letônia [Latvia] e Lituânia);
  • Os Países do Norte do Leste Europeu (Polônia, Bielorrússia, Ucrânia, Eslováquia, Moldávia e, naturalmente, a parte Ocidental da Rússia;
  • Os Países do Centro do Leste Europeu (Hungria, Romênia, a Albânia);
  • Os Países do Sul do Leste Europeu, que constituíam a antiga Iugoslávia (Eslovênia, Croácia, Bósnia-Herzegovina, Sérvia, Montenegro, Kosovo e Norte-Macedônia);
  • Os Países Mediterrâneos do Leste Europeu (Grécia e a Parte Ocidental da Turquia).

Três observações adicionais:

  1. Considero a Islândia e a Finlândia Países Nórdicos, já quase no Polo Norte, embora a Finlândia se ligue, de um lado, a Oeste, aos Países Escandinavos pela Suécia e, em parte pequena, pela Noruega, e, de outro lado, a Leste, se ligue à Rússia. Apesar de vários conflitos envolvendo a Finlândia com os demais países Escandinavos, em especial a Suécia, bem como com a Rússia, acho difícil considerar a Finlândia como parte da Europa Ocidental Central ou mesmo dos Países do Norte do Leste Europeu. Mas a questão, reconheço, é arbitrária, embora eu não esteja sozinho nessa arbitrariedade.
  2. Talvez fosse desnecessário frisar, mas considero os seguintes países como Países Asiáticos, estando eles, a meu ver, na Ásia e não na Europa do Leste: Geórgia, Azerbaijão, Armênia, Cazaquistão, Uzbequistão, Quirguistão, Tajiquistão e Turcomenistão. Para mim, eles se situam fora da Europa do Leste. Estão a Leste da Parte Oriental da Turquia, e ao Sul da Parte Oriental da Rússia, por exemplo.
  3. Deixo de lado as Ilhas Mediterrâneas (Malta, Chipre, Creta, etc.), bem como os Micro-Estados (Liechtenstein, Mônaco, San Marino, Andorra, Vaticano, etc.) [1].

Para dar uma ideia de quão complicado é definir esses limites, cito duas classificações dos países da Europa Ocidental, ambas originadas nos Estados Unidos. Uma vem de um livro dedicado ao assunto, com o título de Geography: Realms, Regions, and Concepts, de Harm J. Blij, Peter O. Muller, e Jan Nijman. A outra vem da Central Intelligence Agency (CIA), do governo americano.

Ei-las:

EUROPA OCIDENTAL

Famoso Livro de Geografia Americano
[2]

A CIA Americana
[3]

    Alemanha
    Áustria
    Bélgica     Bélgica
    França     França
    Holanda     Holanda
    Irlanda (República)     Irlanda (República)
    Liechtenstein
    Luxemburgo     Luxemburgo
    Mônaco     Mônaco
    Reino Unido     Reino Unido
    República Checa
    Suíça

Muito curioso que não apareçam, na lista da esquerda, Portugal, Espanha, os Países Escandinavos, e a Itália — além de Andorra. Ocorre-me que não foram incluídos porque, em um caso, estão no “Extremo Ocidente” da Europa;  no outro, no “Extremo Norte”; no outro, no “Extremo Sul”. Ou seja, para o livro em questão, Europa Ocidental é a Europa Central, desvestida de “penduricalhos”, como se fosse: verticalmente E horizontalmente no mapa, ou no sentido da Latitude E da Longitude. No entanto, o Reino Unido foi incluído, apesar de o Norte da Escócia estar bem mais ao Norte do que  Norte da Dinamarca! Com já disse, não é fácil.

Curioso que, na segunda lista, não apareçam Alemanha, Áustria, República Tcheca e Suíça, que aparecem na primeira lista. Continuam não aparecendo: Portugal, Espanha, Itália, e Andorra. Mais curioso ainda que a CIA classifique numa categoria “Sudoeste da Europa” os seguintes países: Andorra, Portugal e Espanha. Embora reconhecidamente no SudOESTE da Europa, esses países não fariam parte da Europa Ocidental! O não aparecimento de Alemanha, Áustria, e Itália poderia, quem sabe, ser explicados pelo fato de que esses países estiveram em guerra contra os Aliados (entre os quais os Estados Unidos) na Segunda Guerra — na verdade, nas duas Guerras Mundiais. A Suíça poderia estar fora, talvez, porque tenha se mantido neutra nesses conflitos globais. Mas e a República Checa, por quê? Ela (ainda no formato de Checoslováquia) foi invadida e, em parte, tomada pelos Nazistas. Mas, na Guerra Fria, ficou do outro lado da Cortina de Ferro, que separava a Europa Ocidental da Europa Oriental! As vezes custa para uma coisa fazer algum sentido (mas não tanto — isto é: nem custa tanto, nem faz tanto sentido)…

2. A União Europeia

Por fim, para completar o artigo, a Europa atual tem pretensões de se tornar um Estados Unidos da Europa, para os quais a União Europeia é um degrau importante. Na verdade, o pessoal que milita na União Europeia desejaria mesmo não um país só, os Estados Unidos da Europa, mas um Governo Global para a Terra inteira…

Quais são os países que compõem, hoje, a  União Europeia (que inclui países da Europa Ocidental e da Europa Oriental, tanto da parte Continental como das partes Insulares e Peninsulares)? São vinte e oito, contando ainda o Reino Unido, que está prometendo sair:

Número

Bandeira

Nome (Port)

Nome (Local)

Sigla

01

 Alemanha + * Deutschland

DE

02

 Áustria Österreich

AT

03

 Bélgica + * # België / Belgique / Belgien

BE

04

 Bulgária България

BG

05

 Chipre Κύπρος

CY

06

 Croácia Hrvatska

HR

07

 Dinamarca * Danmark

DK

08

 Eslováquia Slovensko

SK

09

 Eslovênia Slovenija

SI

10

 Espanha  * España

ES

11

 Estônia Eesti

EE

12

 Finlândia Suomi / Finland

FI

13

 França  + * France

FR

14

 Grécia * Ελλάδα

GR

15

 Holanda + * # Nederland

NL

16

 Hungria Magyarország

HU

17

 Irlanda * Éire

IE

18

 Itália  + * Italia

IT

19

 Letônia Latvija

LV

20

 Lituânia Lietuva

LT

21

 Luxemburgo + * # Luxembourg

LU

22

 Malta Malta

MT

23

 Polónia Polska

PL

24

 Portugal * Portugal

PT

25

 Reino Unido * United Kingdom

GB

26

 República Checa Česká Republika

CZ

27

 Romênia România

RO

28

 Suécia Sverige

SE

[Lamento, mas o sistema WordPress boicotou as bandeirinhas…]

Os seis países indicados com + faziam parte da Comunidade Econômica Europeia criada em 1957: Alemanha, Bélgica, França, Holanda, Itália e Luxemburgo — a Alemanha, no caso, sendo a Alemanha Ocidental. Os que têm apenas * passaram a fazer parte depois: Dinamarca, Irlanda e Reino Unido, em 1973; Grécia, em 1981; Portugal e Espanha, em 1986. Os doze países assim assinalados (com *) fizeram parte da União Europeia original. Os dezesseis subsequentes passaram a fazer parte em diferentes momentos. Como se pode facilmente constatar, examinando “Os Doze” (que estão representados pelas doze estrelas na bandeira da União Europeia), a Grécia é o único país geograficamente mais próximo do Leste Europeu a figurar entre eles — e acabou dando o primeiro vexame econômico (seguido por vexames menores no outro extremo, Portugal e Espanha, e na Irlanda). Ou seja, a União Europeia original era basicamente uma entidade da Europa Ocidental.

Os três países marcados com # são conhecidos como BENELUX: Bélgica, Holanda (Netherlands) e Luxemburgo. Eles ficam ali naquele cantinho, espremidos entre “Os Três Grandes”: Reino Unido, Alemanha e França. Tendo sido os países mais facilmente conquistáveis pela Alemanha em duas grandes guerras, esses três países tinham toda a razão do mundo para desejar criar laços institucionais inter-europeus que pudessem se tornar barreiras a uma nova guerra generalizada. Os três países do BENELUX estão na União Europeia desde o início, tendo por isso, merecido receber a sede dos mais importantes órgãos da União Europeia. A França tem a sede de um órgão e a Alemanha, de outro. A Holanda, surpreendentemente, de nenhum. Nem o Reino Unido.

Esta, a meu ver a raiz primeira para a criação da União Europeia. Mas ela ficou, por um tempo, escondida atrás de tratados que visavam, na superfície, criar acordos econômicos que facilitavam o comércio — o chamado Mercado Comum Europeu, indispensável para fazer face ao gigantismo agrícola, industrial e de serviços dos Estados Unidos e a economia poderosa do Japão (a economia chinesa, ainda amarrada nos nós comunistas, não estando ainda à altura de operar comum uma ameaça naquela época).

A sede principal ou capital de facto da União Europeia é a cidade de Bruxelas (Bélgica), que se tornou uma cidade de políticos e técnicos e burocratas da União Europeia. Uma Brasília da Europa, mal comparando.

Em Bruxelas ficam dois dos órgãos mais importantes da União Europeia:

  • O Conselho Europeu, que é um órgão meta-legislativo que firma as diretrizes gerais para a União Europeia, em particular para o Parlamento Europeu, e que é formado pelos Chefes de Estado dos países da União, funcionando como uma  espécie de Câmara Alta do Parlamento.
  • A Comissão Europeia, que é o Poder Executivo da União Europeia, cujo Presidente é uma espécie de “Presidente” da Europa — pelo menos da Europa “que importa”. 

O Parlamento Europeu tem sede e sessões plenárias em Estrasburgo (França), mas sua Secretaria Geral fica em Luxemburgo, a maior parte de suas reuniões de trabalho e de suas comissões ocorrem e operam em Bruxelas, onde ficam a sede do Conselho Europeu e da Comissão Europeia, e que é, na realidade, a capital da União Europeia. A alocação do Parlamento em Estrasburgo não passa de um gesto simbólico para afagar o ego gigantesco dos franceses (que sempre quiseram figurar entre os vencedores de guerras que eles perderam).

O Tribunal de Justiça da União Europeia, que equivale ao seu Poder Judiciário, tem sede em Luxemburgo — que, convenhamos, é muito mais ligado à Bélgica do que à França.

Também fica em Luxemburgo o Tribunal de Contas Europeu.

O Banco Central Europeu fica em Frankfurt (Alemanha), em reconhecimento ao poderio econômico dos alemães [4].

Como dito atrás, o Reino Unido, que não é sede de nenhum órgão da União Europeia, que entrou na União (que ainda tinha outro nome) depois dos seis primeiros, e que nunca aceitou a moeda única (que veio a se chamar Euro), por considerar sua moeda (a Libra Esterlina) mais poderosa (que de fato é), demorou muito para decidir sair da camisa de força que a União Europeia se tornou para os países que são membros dela — camisa de força aplicada pela Alemanha, com a França, mais uma vez e sempre, querendo dar a impressão de que ainda tem algum poder. Não tem mais. Teve algum nos séculos 18 e 19. Hoje não tem mais nenhum, nem cultural, nem linguístico. Nem mesmo futebolístico.

O maior alargamento da União Europeia se deu em 2004, quando passaram a fazer parte dela, de uma só vez, dez países:  Estônia, Letônia (Latvia), Lituânia, Polônia, República Checa, Hungria, Eslováquia, Eslovênia, Malta e Chipre — todos países do Leste Europeu. O resultado desse alargamento vai demorar um bocado para se tornar visível, mas uma hora dessas será percebido. A Europa mais rica está “incluindo” a Europa mais pobre, que foi comunista e, por mais odioso que fosse o regime, na área social acaba por acostumar mal os cidadãos a viver sob o paternalismo do Estado…

3. Alguns Mapas: United States of Europe com alguns Buracos

United States of Europe

Este mapa é significativo, mais (para mim) pelos seus brancos do que pelos seus azuis e por essa outra cor-de-burro-quando-foge que pinta a Turquia… A mesma cor pinta Montenegro, Sérvia, Albânia e Norte-Macedônia — junto da Turquia, são países que pleiteiam ingresso na União Europeia, mas não o obtiveram.

Prestem atenção a este mapa da região dos Bálcans:

Screen Shot Map Balcans

No mapa da USEU (United States of Europe) há um espaço em branco, que representa a Bosnia-Herzegovina e o Kosovo. Esses dois países não fazem parte da União Europeia nem estão pleiteando ingresso na União Europeia. Meus respeitos a eles.

Por outro lado, prestem a atenção na Turquia, que se estende até a Armênia. A Turquia, cuja maior parte está na Ásia, quer entrar na União Europeia. Faz sentido? A Turquia, que tem um presidente que não é flor que se cheire, quer entrar na União Europeia. A Turquia, que é um país predominantemente muçulmano, quer entrar na União Europeia. Eu me pergunto por quê.

Prestem a atenção a este outro mapa, da Escandinávia.

Screen Shot Map Norway

Olhem agora no mapa da USEU. O espaço correspondente à Noruega está em branco.  Ela não é parte da União Europeia, nem pleiteia ser. Meus respeitos à Noruega.

Prestem atenção agora a este mapa do centro da Europa:

Screen Shot Map Suica

Comparem o mapa acima com o mapa da USEU: neste, o lugar correspondente à Suíça está em branco. Meus respeitos à Suíça. A Suíça, talvez o país mais amante da liberdade e da autonomia na Europa, e um dos mais ricos, não quer ser parte da União Europeia. Perguntem-se por quê.

Por fim, prestem atenção a este mapa da região dos Países Bálticos.

Screen Shot Map Kaliningrad

Dá para ver uma área, com o nome de Kaliningrad? Ela está em branco também no mapa da USEU. Sabem por quê? Porque pertence à Rússia, apesar de a Rússia nem fazer limite com ela. Que a Rússia queira a Crimeia e faça guerra à Ucrânia para obtê-la, vá lá, a Crimeia está quase grudada à Rússia. Mas Kaliningrad? Sabem qual era o nome que Kaliningrad tinha, quando pertencia à Prússia (Alemanha)? Königsberg. Sabem quem nasceu e viveu lá? Emanuel Kant, o maior filósofo — seria russo? Por que é que a terra de Kant ainda hoje faz parte da Rússia, apesar de a Segunda Guerra haver terminado há quase 75 anos e a Guerra Fria haver terminado há 30? Porque a União Soviética foi parte dos vitoriosos e o bunda mole do Franklin Delano Roosevelt achava que Joseph Stalin era tão bonzinho que resolveu deixar todo o Leste Europeu para ele… Winston Churchill protestou junto a Roosevelt e ao seu substituto, Harry Truman. Mas este também deixou o Leste Europeu virar Comunista, não de livre e espontânea vontade, mas à força… Inclusive a terra de Kant. Os países ao redor de Kaliningrad já deixaram de ser comunistas. Mas, parece que por pirraça dos antigos comunistas russos, hoje ex-comunistas, Kaliningrad continuou a pertencer à Rússia, para fustigar a Alemanha… Não sei como deixaram que Wittenberg, a terra de Lutero, deixasse de ser território comunista, pertencente à então Alemanha Oriental (que ironicamente se chamava de República Democrática da Alemanha).

4. Conclusão Rápida

Em um momento em que a economia se torna global, viabilizada pelas tecnologias de transporte, comunicação e informação, o momento certamente não é de buscar também a globalização política e um utópico governo mundial. O controle da política e das regras de convivência deve, a meu ver, permanecer local, o mais próximo possível do cidadão. De global, chegam as empresas multinacionais. Os produtos industriais, que sejam globais. Mas as leis e os usos e os costumes, que permaneçam locais e regionais, controlados por instituições políticas que o cidadão pode controlar de perto. Por isso a busca pelas separações, iniciada no século 19 pelo Sul dos Estados Unidos, e, por outros lugares, e perseguida hoje pelo Québec, pela Catalonia, pela região Basca, pelas etnias dos Bálcans, pela Escócia, e, no Brasil, especialmente pelo Rio Grande do Sul e pela minha Pátria Paulista — que já tentou duas vezes se tornar independente, e, espero, venha a conseguir em um futuro não muito distante. Brasília e Bruxelas, ambas cidades com o nome começado com B e com oito letras, me dão nojo (embora, pela sua história e geografia, prefira Bruxelas a Brasília. Mille fois.

#SPexit.

POST SCRIPTUM, antes das Notas

Publiquei este artigo no dia 6 de Agosto de 2019. Dez dias depois, encontrei um autor que está se especializando nos “grande blocos” que destaquei quando escrevi:

“Na Europa Ocidental Continental, a parte mais importante, é a Europa Ocidental Central, que, historicamente, tem tido na Alemanha o país não só geograficamente central como mais importante.

“Mas, na Europa Ocidental Central, a Alemanha é cercada  de todos os lados.

  • A Oeste, pela França, Bélgica, Holanda (Netherlands) e Luxemburgo;
  • A Leste, pela Polônia, República Checa e Áustria;
  • A Norte, pelos Países Escandinavos (Dinamarca, Noruega, e Suécia); e
  • A Sul, pela Suíça e por parte da Áustria, que têm, abaixo delas, a Itália (que, contudo, não faz divisa com a Alemanha, talvez para sorte dos italianos).”

O autor é Simon Winder, e ele publicou três livros muito interessantes, num estilo interessante. Os livros são os seguintes:

  • Germania (grosso modo, hoje, Alemanha, historicamente envolvendo parte da Polônia. [Centro da Europa Continental])
  • Danubia (grosso modo, hoje, República Checa e Eslováquia; Áustria e Hungria; Eslovênia, Croácia e Bósnia-Herzegovina. [A Leste/Sudeste da Alemanha])
  • Lotharingia (grosso modo, hoje, Benelux [Bélgica, Holanda e Luxemburgo], a Renânia [territórios da margem Oeste do Reno], Alsácia e Lorena. [A Oeste/Noroeste da Alemanha: territórios mais ou menos “entre” (margeando) Alemanha e França, os três últimos já tendo mudado de mão várias vezes])

Provavelmente, ainda vá escrever mais alguns, quem sabe sobre a França (Francia?), a Oeste, sobre a Italia, a Sul, sobre os Países Escandinavos, a Norte, sobre a Bretanha, a parte Insular a Noroeste, sobre os Países Ibéricos, a Sudoeste. Talvez até arrisque escrever um ou mais livros sobre os países do “Far East” Europeu, o Leste Europeu mais distante do Centro. Quem sabe?

Quanto ao estilo dos livros, eles são uma mistura de “travel log”, “jornalismo” e “história”. O autor viaja, relata os seus passos, investiga a história dos lugares que visita, entrevista moradores atuais para esclarecer como os usos e os costumes de um tempo passado sobreviveram — se é que sobreviveram.

Como se pode constatar, os rios Elba, no Centro da Alemanha, Reno, a Oeste, e Danúbio, a Leste, desempenham um papel fundamental na história.

São estes os livros já publicados, cujos títulos refletem a divisão do Império de Charlemagne ao tempo de sua morte:

Germania: In Wayward Pursuit of the Germans and Their History (Farrar, Straus & Giroux, New York, 2011)

Danubia: A Personal History of Habsburg Europe (Farrar, Straus & Giroux, New York, 2013)

Lotharingia: A Personal History of Europe’s Lost Country (Farrar, Straus & Giroux, New York, 2019)

Notas:

[1] Transcrito a partir do site da International Churchill Society, em https://winstonchurchill.org/resources/speeches/1946-1963-elder-statesman/the-sinews-of-peace/. Compare-se o relato no site do Westminster College, em https://www.wcmo.edu/about/history/iron-curtain-speech.html.

[1] Há quem considere a Ilha de Malta e Luxemburgo também microestados. Não são. Embora estados bastante pequenos, não são microestados ou cidades-estado: são estados, mesmo.

[2] O livro é Geography: Realms, Regions, and Concepts, de Harm J. Blij, Peter O. Muller, e Jan Nijman, publicado em 1971, e que se encontra na 17a edição. Cito apud o artigo “Western Europe”, na Wikipedia, https://en.wikipedia.org/wiki/Western_Europe/.

[3] “Field listing: Location”, in CIA World Factbook (Arquivado a partir do original em 24 Mai 2011. Recuperado em 30 Jul 2017). Cito apud o artigo “Western Europe”, na Wikipedia, https://en.wikipedia.org/wiki/Western_Europe/.

[4] Para informação e detalhes sobre toda essa distribuição de “sedes”, vide a Wikipedia, https://pt.wikipedia.org/wiki/União_Europeia

Em São Paulo, 6 de Agosto de 2019, revisto em 16 de Agosto de 2019 (para acréscimo do Post Scriptum)



Categories: Europa, Europe, European Union, União Europeia

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