C S Lewis, John Holt e Doris Lessing

Sempre tenho mais de um autor, em geral três autores, que me fazem companhia num determinado momento ou numa determinada fase de minha vida. Rudolf Bultmann (20.8.1884-30.6.1976), John Stuart Mill (20.5.1806-8.5.1873) e David Hume (7.5.1711-25.8.1776) tiveram esse papel nos anos 60-70 do século passado. Na segunda metade dos anos 70 e nas duas décadas subsequentes, os três foram Ayn Rand (2.2.1905-6.3.1982), Friedrich von Hayek (8.5.1899-23.3.1992) e Murray N. Rothbard (2.3.1926-7.1.1995).

No momento, e já há algum tempo, os três são C. S. Lewis, John Holt e Doris Lessing.

Em primeiro lugar está C. S. LEWIS, o grande escritor britânico de ficção, nascido na Irlanda do Norte, professor tanto em Oxford como em Cambridge, historiador da literatura (final da Idade Média e Renascença), crítico literário, e apologeta (defensor) do Cristianismo.

Em segundo lugar está JOHN HOLT, educador americano, um dos inventores, se não o principal, de “home schooling“, primeiro, e de “unschooling“, depois. Foi ele que popularizou uma frase genial: a de que, se nós ensinássemos as crianças a andar e a falar do mesmo jeito que ensinamos outras coisas na escola, elas nunca iriam aprender a fazer essas coisas…

Por fim, em terceiro lugar, DORIS LESSING, prêmio Nobel de Literatura de 2007, cidadã britânica nascida na Pérsia (Irã) e criada na Rodésia (hoje Zimbabwe), mas que, a partir de 1949, firmou residência em Londres.

Livros desses três estão esparramados aqui ao meu lado e, em minha cabeça, estou constantemente dialogando com eles.

LEWIS era defensor de uma visão clássica-e-cristã do mundo, isto é, uma visão pré-moderna, altamente crítica do século 18 e da modernidade que surgiu a partir desse século. Defendeu, consequentemente, uma educação clássica, centrada nos clássicos e na literatura, à moda do hoje bastante popular Trivium. Tinha um bocado de implicância com a ciência moderna, os cientistas, o secularismo. Não lia jornais, nem revistas, e se interessava pouquíssimo por política e economia. Virou ateu por volta dos 13 anos (concluindo que os deuses e as religiões eram, todos, invenções humanas) e se converteu ao Cristianismo depois dos 30 anos, tornando-se um grande defensor de um “Cristianismo Básico e Essencial”, trans-denominacional e em grande medida não-eclesiástico e mesmo anti-eclesiástico (embora ele próprio fosse anglicano). Billy Graham era um grande admirador seu. Ele levou quase 30 anos para escrever seu opus magnum, sua obra prima, English Literature in the Sixteenth Century (Literatura Inglesa no Século Dezesseis), vol IV (de longe o mais vendido até hoje) da Oxford History of English Literature – OHEL (História da Literatura Inglesa da Oxford – HLIO), que depois (em 1996, em um esforço de padronização da títulos da Oxford University Press) teve o título (só o título) trocado para Poetry and Prose in the Sixteenth Century (Poesia e Prosa no Século Dezesseis). Concluído em 1952 e publicado apenas em 1954, esse livro continua a ser editado e vendido até hoje (embora o exemplar, de mais de 700 páginas, custe acima de 150 dólares na Amazon). O livro, infelizmente, não está disponível em formato ebook. Suas obras mais populares são The Chronicles of Narnia (As Crônicas de Nárnia), em sete volumes, destinada ao público Infanto-Juvenil, e Mere Christianity (Cristianismo Puro e Simples), na área de Apologética (Defesa) do Cristianismo. Este livro é um grande sucesso de vendas (best seller) entre os Evangélicos, e vende bem entre Católicos, também: o Papa João Paulo II elogiou o livro e seu autor mais de uma vez. Nascido em 29.11.1898, C. S. Lewis morreu em 22.11.1963, no mesmo dia, mês e ano que John F. Kennedy e o filósofo Aldous Huxley, autor de Brave New World (Admirável Mundo Novo). Morreu uma semana antes de completar 65 anos.

HOLT, um crítico da escola tradicional, acabou por defender, como Ivan Illich, que se tornou seu amigo, a desescolarização da educação e da sociedade. É um dos mais significativos proponentes de uma educação que tem lugar no lar, na comunidade, na igreja, nas associações, nas interações e na vida do dia-a-dia, sem necessidade de instituições dedicadas exclusivamente a educar e professores / instrutores profissionais e especializados, que, segundo ele, causam mais mal do que bem às crianças (e mesmo aos adultos que defendem a escola, em vez de a educação). Essa pandemia do COVID está levando a uma reapreciação de suas propostas. Ele defendeu o fim da escola e vida longa para a educação. Tem uma fila de grandes livros, todos batendo na mesma tecla: a crítica à escola tradicional e a defesa de uma educação não-escolar. Seus principais livros são How Children Fail (Como as Crianças Fracassam), de 1964, How Children Learn (Como as Crianças Aprendem), também de 1964, Teach Your Own (Ensine os Seus), de 1981 e seu livro publicado postumamente Learning all the Time: How Small Children Begin to Read, Write, Count and Investigate the World, Without Being Taught (Aprendendo o Tempo Todo: Como Crianças Pequenas Começam a Ler, Escrever, Contar e Investigar o Mundo), de 1989. Sua newsletter se chamava Growing Up Without Schooling (Crescendo sem Escolarização). Nascido em 14.1.1923, John Holt faleceu em 14.9.1985, aos 62 anos.

LESSING foi uma rebelde. Largou a escola aos 13 anos e dali para a frente educou-se a si mesma. De “school dropout“, tornou-se Prêmio Nobel da Literatura em 2007. De comunista que foi em sua juventude, tornou-se uma defensora da liberdade e dos direitos individuais básicos, a partir da Invasão Soviética na Hungria em 1956. Casou-se duas vezes e se convenceu, em 1949, ao mudar para a Inglaterra, que o casamento não era para ela, deixou os dois filhos do primeiro casamento com o marido, criou o terceiro filho como pode sozinha, foi uma grande defensora das causas das mulheres ao mesmo tempo que combateu o feminismo daquelas que viam as mulheres em guerra contra os homens, Viveu uma longa vida, 94 anos, e só ganhou o Prêmio Nobel de Literatura aos 88 anos, sendo a pessoa mais velha a jamais ganhar um prêmio Nobel de Literatura. Sobreviveu a dois de seus filhos. Como Lewis e Holt, criticava a educação moderna, centrada na ciência, altamente especializada e profissionalizada. Depois de experiências escolares frustrantes em escolas britânicas da Rodésia, educou-se a si mesma, vivendo uma vida rica e engajada e consumindo e produzindo aquilo que era sua paixão: a literatura. Seu principal romance é The Golden Notebook (O Caderno Dourado, ou O Carnê Dourado, em Português), de 1962. Sua autobiografia, em dois volumes, merece ser lida: Under my Skin (Debaixo da Minha Pele), de 1974, e Walking in the Shade (Andando na Sombra), de 1979. É bastante interessante e instigante. Nascida em 22.10.1919, Doris Lessing faleceu em 17.11.2013, aos 94 anos. Apesar de ter nascido no Oriente Médio e crescido na África, regiões não muito desenvolvidas até hoje, Doris Lessing viveu cerca de 30 anos mais do que cada um dos meus outros dois interesses atuais, um nascido na Europa (Lewis) e o outro, nos Estados Unidos (Holt).

É isso, por hoje…

Em Salto, 21 de Agosto de 2020.



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